O CULTO AO DINHEIRO
Há algo alarmante na nossa sociedade que nunca
denunciaremos bastante. Vivemos numa civilização que tem como eixo de
pensamento e critério de atuação a secreta convicção de que o importante e
decisivo não é o que um é, mas o que um tem. O dinheiro é o símbolo e ídolo da
nossa civilização. E de fato são maioria os que lhe rendem culto e lhe
sacrificam toda a sua vida.
John K. Galbraith, o grande teórico do capitalismo
moderno, descreve assim o poder do dinheiro: “o dinheiro traz consigo três vantagens
fundamentais: primeiro, o gozo do poder que empresta ao homem; segundo, a posse
real de todas as coisas que podem comprar-se com dinheiro; terceiro, o
prestígio ou respeito de que goza o rico graças à sua riqueza».
Quantas pessoas, sem atrever-se a confessa-lo,
pensam que na sua vida, num grau ou outro, o decisivo, o importante definitivo,
é ganhar dinheiro, adquirir um bem-estar material, conseguir um prestígio
económico...
Aqui está sem dúvida uma das doenças mais graves da
nossa civilização. O homem ocidental fez-se em boa parte materialista e, apesar
das suas grandes proclamações sobre a liberdade, a justiça ou a solidariedade, não
acredita em outra coisa que não seja o dinheiro.
E, no entanto, há pouca gente feliz. Com dinheiro
pode-se montar uma casa agradável, mas não criar um lar cálido. Com dinheiro pode-se
comprar uma cama cômoda, mas não um sono tranquilo. Com dinheiro pode-se
adquirir novas relações, mas não o despertar uma verdadeira amizade. Com
dinheiro pode-se comprar prazer, mas não felicidade.
Mas os crentes temos de recordar algo mais. O
dinheiro abre todas as portas, mas nunca abre a porta do nosso coração a Deus. Não
estamos acostumados, os cristãos, à imagem violenta de um Messias fustigando as
pessoas. E, no entanto, essa é a reação de Jesus ao encontrar-se com homens
que, inclusive no templo, não sabem procurar outra coisa que não seja o seu
próprio negócio.
O templo deixa de ser lugar de encontro com o Pai
quando a nossa vida é um mercado onde só se presta culto ao dinheiro. E não
pode haver uma relação filial com Deus Pai quando as nossas relações com os
outros estão mediatizadas pelo interesse do dinheiro. Impossível entender algo
do amor, da ternura e do acolhimento de Deus quando um só vive procurando o
bem-estar. Não se pode servir a Deus e ao Dinheiro.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
Nenhum comentário:
Postar um comentário