INDIFERENÇA PROGRESSIVA
A crise religiosa vai-se decantando
pouco a pouco em direção à indiferença. Normalmente, não se pode falar
propriamente de ateísmo, nem mesmo de agnosticismo. O que melhor define a posição de muitos é uma indiferença religiosa
onde já não há questões, nem dúvidas, nem crises.
Não é fácil descrever esta indiferença.
A primeira coisa que se observa é a ausência de inquietação religiosa. Deus não interessa. A pessoa vive na
despreocupação, sem nostalgias nem qualquer horizonte religioso. Não se
trata de uma ideologia. É uma atmosfera envolvente onde a relação com Deus fica
diluída.
Há vários
tipos de indiferença. Alguns vivem nestes momentos um
afastamento progressivo. São pessoas que
se vão distanciando cada vez mais da fé, cortam laços com o religioso,
afastam-se da prática. Pouco a pouco Deus vai-se apagando nas suas
consciências. Outros vivem simplesmente absorvidos pelas coisas de cada dia. Nunca se interessaram muito por Deus. Provavelmente
receberam uma educação religiosa débil e deficiente; hoje vivem esquecidos de
tudo.
Em alguns, a
indiferença é fruto de um conflito religioso, vivido por vezes em segredo. Sofreram
medos ou experiências frustrantes. Não guardam uma boa recordação do que viveram
em crianças ou adolescentes. Não querem
ouvir falar de Deus, pois isso magoa-os. Defendem-se esquecendo-o.
A indiferença de outros é o resultado
de circunstâncias diversas. Deixaram a pequena povoação e hoje vivem de forma diferente
num ambiente urbano. Casaram com alguém pouco sensível ao religioso e mudaram
de costumes. Separaram-se do seu primeiro cônjuge e vivem numa situação de
casal não "abençoado" pela Igreja. Não é que estas pessoas tenham tomado a decisão de abandonar Deus, mas
na verdade as suas vidas vão-se afastando Dele.
Há ainda outro tipo de indiferença
encoberta pela piedade religiosa. É a
indiferença de quem se habituou a viver a religião como uma prática externa ou
uma tradição rotineira. Todos devemos ouvir a queixa de Deus. Jesus
recorda-nos com palavras tomadas do profeta Isaías: «Este povo honra-me com os
lábios, mas os seus corações estão longe de mim».
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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