quarta-feira, 22 de setembro de 2021

ANO B | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-SEXTO DOMINGO | 26.09.2021

O amor vence a indiferença, e a cooperação vence a competição!

Algumas pregações de alguns padres e pastores deixa a impressão de que o mundo se divide entre pessoas de bem, que são aquelas que aceitam explicitamente Jesus Cristo e uma Igreja, e pessoas maliciosas ou perigosas, que são as pessoas religiosamente indiferentes e as outras igrejas ou confissões religiosas. Daí a importância de escutar e acolher com abertura e inteligência a Palavra de Deus proposta na liturgia desse domingo. Precisamos ultrapassar o muro dos ciúmes e invejas e dar as mãos a tantos grupos e Igrejas que cooperam na superação dos males deste mundo e na construção de um mundo outro e melhor.

A fato narrado pelo evangelho de Marcos traz a questão da inveja e da competição para o centro da nossa espiritualidade. É paradoxal que os mesmos discípulos que resistem em seguir Jesus pelas vias da compaixão e não conseguem expulsar um espírito mau que amordaça um jovem (cf. Mc 9,14-29) queiram proibir que outros o façam. “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque não nos segue”. Parece que os discípulos querem manter o monopólio do exorcismo, e desejam que todos sigam a eles, os discípulos oficiais, e não o próprio Jesus.

A resposta de Jesus à tortuosa e inoportuna iniciativa dos discípulos é um contundente chamado à abertura e à colaboração ecumênica: “Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor”. Ou seja: quem tem um coração grande, um olhar abrangente e uma fé confiante não pode se imaginar cercado/a de concorrentes por todo lado. Só uma mente imatura e institucionalizada pode se mostrar incapaz de reconhecer o bem que outros fazem e alimentar o desejo de que todos/as peçam sua aprovação para tomar qualquer iniciativa.

Por que esta incapacidade que muitos temos de respeitar, valorizar e cooperar com as demais Igrejas cristãs? Será que aquilo que temos em comum não é mais importante que as picuinhas que nos diferenciam? Se elas estão a favor do Evangelho e de Jesus Cristo, poderiam estar contra nós? É também passado o tempo de ver em todas as iniciativas e projetos sociais e políticos o gérmen do confronto. Projetos que nascem sem as bênçãos eclesiásticas podem trazer a marca do Espírito de Deus e realizar um grande bem à humanidade. O Vaticano II ensina que o Espírito de Deus dirige a história e é a fonte dos anseios de liberdade e solidariedade.

Jesus enfrenta corajosamente este e outros problemas, vividos pelas comunidades cristãs de ontem e de hoje. Sob a pressão da perseguição, alguns cristãos abandonavam o Evangelho, o que era uma pedra de tropeço que afastava muitos outros ‘pequeninos’. O corpo eclesial tinha membros que escandalizavam os outros. E a proposta de Jesus é vigilância e firmeza. É melhor ser uma comunidade pequena e coerente que uma multidão, cheia de contradições. A comunidade eclesial não pode limitar ou perder sua missão de ser sal, de fazer a diferença. As traições e incoerências precisam ser evitadas, cortadas e queimadas.

Hoje, uma destas contradições que escandalizam os pequeninos é o acúmulo de riquezas à base de relações injustas. A riqueza acumulada egoisticamente e subtraída ao serviço do bem-estar da humanidade é sempre injusta, e não importa se pertence a comunidades, paróquias, dioceses, congregações ou Igrejas. Precisamos ter a coragem de implantar uma economia do dom, capaz de viabilizar e visibilizar a solidariedade entre comunidades, movimentos, paróquias, dioceses e Congregações. Sem isso, estaremos tolerando uma traição que continuará escandalizando e provocando sofrimento.

São Tiago enfrenta esta questão com palavras muito duras. Dirigindo-se aos ricos ele diz: “Suas riquezas estão podres, suas roupas foram roídas pelas traças. O ouro e a prata de vocês estão enferrujados, e a ferrugem deles será testemunha contra vocês, e como fogo lhes devorará a carne”. A questão não é a riqueza em si, mas o modo injusto de consegui-la: “Os salários dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês; retido por vocês, este salário clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos ouvidos do Senhor...”

Jesus de Nazaré, coração sem fronteiras e Palavra que constrói relações ecumênicas e inclusivas: fecunda nossas palavras e ações com teu Espírito, a fim de que possamos cumprir nossa missão no respeito, no apreço e na cooperação com aqueles/as que creem diversamente. Ajuda-nos a administrar nossos bens segundo os princípios do dom e da gratuidade, e não sob a regência do acúmulo e da indiferença. E que nossas contradições não sejam pedras nas quais os pequenos tropeçam. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro dos Números 11,25-29 | Salmo 24 (25) | Carta de São Tiago 5,1-6|  Evangelho  de São  Marcos (9,38-48)

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