LUTAMOS PELA MESMA CAUSA
Com frequência, nós não conseguimos
superar uma mentalidade de religião privilegiada, que nos impede de apreciar
todo o bem que é promovido em espaços longe da fé. Quase inconscientemente tendemos a pensar que nós somos os únicos portadores
da verdade, e que o Espírito de Deus só age através de nós.
Uma falsa
interpretação da mensagem de Jesus conduziu-nos, por vezes, a identificar o
reino de Deus com a Igreja. Segundo esta concepção, o reino
de Deus só se realizaria dentro da Igreja, e cresceria e estender-se-ia na
medida em que cresce e se estende a Igreja. E, no entanto, não é assim.
O reino de
Deus estende-se mais além da instituição eclesial. Não cresce só entre os
cristãos, mas entre todos aqueles homens e mulheres de boa vontade que fazem
crescer no mundo a fraternidade. Segundo Jesus, todo aquele que
«expulsa demônios em seu nome» está evangelizando. Todo o homem, grupo ou
partido capaz de combater o mal da nossa sociedade e colaborar na construção de
um mundo melhor está, de alguma forma, a abrir caminho ao reino de Deus.
É fácil que
também a nós, assim como aos discípulos, nos pareça que não são dos nossos,
porque não entram nas nossas igrejas ou frequentam os nossos cultos. No entanto,
segundo Jesus, «aquele que não está contra nós está a nosso favor».
Todos os que
de alguma forma lutam pela causa da humanidade estão conosco.
«Secretamente, talvez, mas na realidade, não há um só combate pela justiça – por
mais equívoca que seja a sua origem política – que não esteja silenciosamente
em relação com o reino de Deus, mesmo que os cristãos não o queiram saber. Onde se luta pelos humilhados, pelos
esmagados, pelos fracos, pelos abandonados, aí combate-se na realidade com Deus
pelo seu reino, saiba-se ou não, ele sabe-o» (Georges Crespy).
Nós cristãos devemos valorizar com alegria todas as conquistas humanas, grandes ou
pequenas, e todos os triunfos da justiça que se alcançam no campo político,
econômico ou social, por mais modestos que nos possam parecer. Os políticos
que lutam por uma sociedade mais justa, os jornalistas que se arriscam para
defender a verdade e a liberdade, os trabalhadores que conseguem uma maior
solidariedade, os educadores que se esforçam por educar para a responsabilidade,
mesmo que nem sempre pareçam ser um dos nossos, estão a nosso favor, porque
estão a trabalhar para um mundo mais humano.
Longe de acreditarmo-nos
portadores únicos da salvação, nós cristãos devemos acolher com alegria essa
corrente de salvação que abre caminho na história dos homens, não só na Igreja,
mas também junto a ela e mais além das suas instituições. Deus está
atuando no mundo.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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