A
prosperidade, por si mesma, não engendra a paz
Há poucos dias iniciamos festivamente o ano 2025. Repetimos e ouvimos à
exaustão os votos de “feliz e próspero ano novo”, mesmo sabendo que, nas
relações que vivemos e na história que fazemos, nada acontece automaticamente,
como efeito de uma simples mudança de calendário ou um desejo, por mais ardente
que este seja. Mas, como peregrinos de esperança, não cansamos de desejar e de
expressar este e outros votos.
O réveillon da praia de Copacabana, que propagandeamos como o mais belo
do mundo, é realmente bonito e envolvente. Mas a beleza dos fogos, os brindes efusivos
e as roupas na cor do momento, assim como a impressionante multidão que se reúne,
não são suficientes para dinamizar um percurso de paz e assegurar a
prosperidade desejada.
Aliás, o que significa realmente “prosperidade” e “felicidade”? Geralmente,
quando dizemos “felicidade” nos referimos a experiências de exclusividade:
frequentar lugares, relacionar-se com pessoas e consumir bens inacessíveis à
maioria dos mortais comuns. Quanto mais exclusiva for uma experiência, mais
prazer e felicidade traria.
E, dentro do conceito de “prosperidade” colocamos em geral pouco mais
que sucesso no trabalho, na carreira ou nos negócios. Talvez cheguemos àquele
refrão, tão ingênuo quanto apelativo: “Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e
vender”. Isso seria tudo, ou o indispensável? Certamente, este não é o caminho
e o conteúdo da felicidade próprios dos cristãos. Onde ficam a qualidade de
vida, a vida e a convivência plenas de sentido?
A Organização das Nações Unidas
estabelece o primeiro dia do ano como Dia
da Fraternidade Universal, ou da paz entre os povos, nações, etnias e
religiões. A comunidade católica também é convidada a entrar nesse mutirão. Por
isso, embora celebremos o 1º dia do ano como festa de Santa Maria, Mãe de Deus,
o Papa sempre nos brinda com uma carta que nos convida ao engajamento pela paz
e pela fraternidade universal.
Em 2025, no espírito do Ano Santo, o Papa Francisco nos convida a
arregaçar as mangas e enfrentar as situações de injustiça e desigualdade que
ferem os pobres e a terra, sem esquecer das estruturas que a mantêm e reproduzem.
E sublinha que “os bens da terra não se destinam apenas a alguns privilegiados,
mas a todos”. Precisamos abrir os ouvidos ao “desesperado grito de ajuda que se
eleva de muitas partes da terra”.
Na referida mensagem, o Papa pede que nos unamos às vozes que denunciam “tantas
situações de exploração da terra e de opressão do próximo’, que se enraízam na
cultura e contam com uma cumplicidade generalizada. Por isso, com São João
Paulo II, as denomina “estruturas de pecado”. A paz que tanto desejamos não vem
como milagre, mas depende de nós, da justiça nas relações interpessoais,
sociais e internacionais.
Para concluir, faço minhas as palavras do Papa: “Dirijo os meus votos de
paz a cada mulher e a cada homem, especialmente àqueles que se sentem
prostrados pela sua condição existencial, condenados pelos seus próprios erros,
esmagados pelo julgamento dos outros, e já não veem qualquer perspectiva para a
sua própria vida. A todos vocês, esperança e paz, porque este é um Ano de
Graça, que vem do Redentor”.
+ Itacir Brassiani msf
Bispo de Santa Cruz do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário