sábado, 4 de janeiro de 2025

Próspero ano novo?

A prosperidade, por si mesma, não engendra a paz

Há poucos dias iniciamos festivamente o ano 2025. Repetimos e ouvimos à exaustão os votos de “feliz e próspero ano novo”, mesmo sabendo que, nas relações que vivemos e na história que fazemos, nada acontece automaticamente, como efeito de uma simples mudança de calendário ou um desejo, por mais ardente que este seja. Mas, como peregrinos de esperança, não cansamos de desejar e de expressar este e outros votos.

O réveillon da praia de Copacabana, que propagandeamos como o mais belo do mundo, é realmente bonito e envolvente. Mas a beleza dos fogos, os brindes efusivos e as roupas na cor do momento, assim como a impressionante multidão que se reúne, não são suficientes para dinamizar um percurso de paz e assegurar a prosperidade desejada.

Aliás, o que significa realmente “prosperidade” e “felicidade”? Geralmente, quando dizemos “felicidade” nos referimos a experiências de exclusividade: frequentar lugares, relacionar-se com pessoas e consumir bens inacessíveis à maioria dos mortais comuns. Quanto mais exclusiva for uma experiência, mais prazer e felicidade traria.

E, dentro do conceito de “prosperidade” colocamos em geral pouco mais que sucesso no trabalho, na carreira ou nos negócios. Talvez cheguemos àquele refrão, tão ingênuo quanto apelativo: “Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Isso seria tudo, ou o indispensável? Certamente, este não é o caminho e o conteúdo da felicidade próprios dos cristãos. Onde ficam a qualidade de vida, a vida e a convivência plenas de sentido?

A Organização das Nações Unidas estabelece o primeiro dia do ano como Dia da Fraternidade Universal, ou da paz entre os povos, nações, etnias e religiões. A comunidade católica também é convidada a entrar nesse mutirão. Por isso, embora celebremos o 1º dia do ano como festa de Santa Maria, Mãe de Deus, o Papa sempre nos brinda com uma carta que nos convida ao engajamento pela paz e pela fraternidade universal.

Em 2025, no espírito do Ano Santo, o Papa Francisco nos convida a arregaçar as mangas e enfrentar as situações de injustiça e desigualdade que ferem os pobres e a terra, sem esquecer das estruturas que a mantêm e reproduzem. E sublinha que “os bens da terra não se destinam apenas a alguns privilegiados, mas a todos”. Precisamos abrir os ouvidos ao “desesperado grito de ajuda que se eleva de muitas partes da terra”.

Na referida mensagem, o Papa pede que nos unamos às vozes que denunciam “tantas situações de exploração da terra e de opressão do próximo’, que se enraízam na cultura e contam com uma cumplicidade generalizada. Por isso, com São João Paulo II, as denomina “estruturas de pecado”. A paz que tanto desejamos não vem como milagre, mas depende de nós, da justiça nas relações interpessoais, sociais e internacionais.

Para concluir, faço minhas as palavras do Papa: “Dirijo os meus votos de paz a cada mulher e a cada homem, especialmente àqueles que se sentem prostrados pela sua condição existencial, condenados pelos seus próprios erros, esmagados pelo julgamento dos outros, e já não veem qualquer perspectiva para a sua própria vida. A todos vocês, esperança e paz, porque este é um Ano de Graça, que vem do Redentor”.

+ Itacir Brassiani msf

Bispo de Santa Cruz do Sul

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