terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Precisamos compreender a lição dos pães e dos peixes

Precisamos compreender a lição dos cinco pães e dos dois peixinhos | 586 | 08.01.2025 | Marcos 6,45-52

Pode parecer estranho, mas, depois de alimentar uma multidão de pessoas famintas e recolher as sobras, Jesus “obriga” os discípulos a entrar na barca e rumar sozinhos para terras estrangeiras. Jesus fica sozinho, sobe a montanha, e se retira para rezar. O que o leva a isso? Será que percebeu algo de errado ou preocupante?

O que o texto deixa entender que a ordem de dar de comer a quem tem fome assustou os discípulos. Parece que eles desejavam uma orientação menos material, mais espiritual. Parecia-lhes muito exigente e cansativo. Não estavam dispostos a abandonar a lei do “cada um para si”. “Eles não tinham compreendido nada a respeito dos pães, o coração deles estava endurecido”, diz o evangelista. Até hoje, a compaixão não cabe na lógica do mercado.

Tornar-se cristão, seguir Jesus e assimilar seu ensino não é um projeto cômodo. Jesus sempre deixou isso muito claro, não quis enganar ninguém. Talvez alguns de nós tenhamos nos enganado, pois recebemos um Evangelho descaracterizado, focado na moral, nos ritos e nas devoções. Mas hoje não temos mais desculpas para continuar assim. Só pode ser cristão quem sintoniza com a prática de Jesus, mesmo com a força dos ventos contrários e o cansaço do remo.

É neste contexto que aquela curta viagem, não obstante a experiência anterior dos discípulos, ameaça terminar em tragédia. As dificuldades e tensões da missão cansam e preocupam. Para eles, é difícil digerir a lição dos pães, e tantas outras. Jesus percebe o cansaço e o desespero, mas espera até a madrugada. Enfim, se aproxima como bom amigo e companheiro, levando a paz à barca e aos barqueiros. Mas a lição do pão continua!

Recentemente, o Papa Francisco escreveu que transcender-se a si mesmo e ao próprio grupo é algo “maravilhosamente humano”. Por isso, precisamos “reconhecer os direitos de todo o ser humano, incluindo os nascidos fora das nossas próprias fronteiras” (Fratelli tutti, 117). Jesus nos demonstrou isso de modo cabal, mas, para fazer o mesmo, precisamos ousar uma longa e perigosa travessia, um processo de conversão.

 

Meditação:

·        Releia o texto lentamente, detendo-se nos personagens e nas palavras e nas ações deles, especialmente de Jesus

·        Procure perceber e compreender o impacto negativo que a multiplicação dos pães e peixes teve sobre os discípulos

·        Em que medida nossa geração também não deseja uma religião cômoda e sem exigências de mudança e conversão?

·        Como podemos vencer o medo que o Evangelho da partilha e da libertação ainda causa em muitos cristãos e igrejas?

Um comentário:

Anônimo disse...

Que texto lindo! Que lição!