Precisamos
compreender a lição dos cinco pães e dos dois peixinhos | 586 | 08.01.2025 | Marcos 6,45-52
Pode
parecer estranho, mas, depois de alimentar uma multidão de pessoas famintas e
recolher as sobras, Jesus “obriga” os discípulos a entrar na barca e rumar
sozinhos para terras estrangeiras. Jesus fica sozinho, sobe a montanha, e se retira
para rezar. O que o leva a isso? Será que percebeu algo de errado ou preocupante?
O que o texto
deixa entender que a ordem de dar de comer a quem tem fome assustou os
discípulos. Parece que eles desejavam uma orientação menos material, mais
espiritual. Parecia-lhes muito exigente e cansativo. Não estavam dispostos a abandonar
a lei do “cada um para si”. “Eles não tinham compreendido nada a respeito dos
pães, o coração deles estava endurecido”, diz o evangelista. Até hoje, a
compaixão não cabe na lógica do mercado.
Tornar-se
cristão, seguir Jesus e assimilar seu ensino não é um projeto cômodo. Jesus
sempre deixou isso muito claro, não quis enganar ninguém. Talvez alguns de nós
tenhamos nos enganado, pois recebemos um Evangelho descaracterizado, focado na
moral, nos ritos e nas devoções. Mas hoje não temos mais desculpas para
continuar assim. Só pode ser cristão quem sintoniza com a prática de Jesus,
mesmo com a força dos ventos contrários e o cansaço do remo.
É neste contexto
que aquela curta viagem, não obstante a experiência anterior dos discípulos,
ameaça terminar em tragédia. As dificuldades e tensões da missão cansam e
preocupam. Para eles, é difícil digerir a lição dos pães, e tantas outras.
Jesus percebe o cansaço e o desespero, mas espera até a madrugada. Enfim, se
aproxima como bom amigo e companheiro, levando a paz à barca e aos barqueiros.
Mas a lição do pão continua!
Recentemente,
o Papa Francisco escreveu que transcender-se a si mesmo e ao próprio grupo é algo
“maravilhosamente humano”. Por isso, precisamos “reconhecer os direitos de todo
o ser humano, incluindo os nascidos fora das nossas próprias fronteiras”
(Fratelli tutti, 117). Jesus nos demonstrou isso de modo cabal, mas, para fazer
o mesmo, precisamos ousar uma longa e perigosa travessia, um processo de
conversão.
Meditação:
·
Releia o texto lentamente, detendo-se nos
personagens e nas palavras e nas ações deles, especialmente de Jesus
·
Procure perceber e compreender o impacto negativo
que a multiplicação dos pães e peixes teve sobre os discípulos
·
Em que medida nossa geração também não
deseja uma religião cômoda e sem exigências de mudança e conversão?
·
Como podemos vencer o medo que o Evangelho
da partilha e da libertação ainda causa em muitos cristãos e igrejas?
Um comentário:
Que texto lindo! Que lição!
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