terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Festa do Nascimento de Jesus - Missa da noite

A glória de Deus é a paz se estendendo por toda a terra!


Nosso tempo de preparação e espera não foi tão longo quanto o do povo de Israel, mas foi suficiente para ajustar a visão, sintonizar os ouvidos, acertar o passo e abrir o coração para acolher a manifestação de Deus. Estamos em condições de reconhecê-lo e acolhê-lo quando, onde e como ele quiser. É por isso que, nesta vigília do Natal, reunimo-nos em comunidade, na expectativa de que a Palavra de Deus nos ajude a não passar ao largo da carne na qual Deus vem.
Na carta que escreve a Tito e sua comunidade, Paulo anuncia que em Jesus de Nazaré manifestou-se de forma inequívoca o bem-querer de Deus por nós. Ele é força de salvação para todos os seres humanos, e nele temos companhia e apoio, rumo e força. Ele é o mais belo e maravilhoso presente que poderíamos esperar e receber de Deus. Mas ele é também lição: sua proximidade, compaixão e solidariedade nos ensinam a renunciar ao egoísmo e a viver com sobriedade, justiça e piedade.
Na gruta de Belém, em meio a gente simples e a animais, Jesus é a Palavra na qual Deus cumpre todas as suas promessas  e diz “Amém” a todas as nossas legítimas esperanças. No menino Jesus, a Palavra eterna de Deus se resume e condensa, “faz-se pequena, tão pequena que cabe numa manjedoura”, faz-se criança para que possamos compreendê-la plenamente. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não é somente uma voz; ela tem um rosto, e nós podemos vê-la (Bento XVI).
As luzes coloridas que enfeitam o Natal e a harmonia das canções deste tempo não podem nos levar esquecer a Paixão e a Páscoa de Jesus, pois este é o mistério que dá sentido ao que acontece na gruta de Belém. É do calvário e da cruz que nos vem a luz que ilumina o que acontece na estrebaria. A Palavra que se faz carne em Belém se faz cruz em Jerusalém. Na cruz,  o Verbo emudece, torna-se silêncio, porque se diz até calar, nada retendo do que nos devia comunicar (cf. Verbum Domini, 12).
Esta ligação entre a gruta e o calvário, entre a estrela e a cruz, não apaga nem diminui a alegria benfazeja das festas natalinas. Ao contrário, radicaliza e concretiza as razões da nossa alegria e da nossa confiança. Contemplando a cruz, entendemos que a paz cantada pelos anjos na escura noite dos pastores não é fantasia ou ilusão. As mulheres corajosas e fiéis, presentes na colina do Calvário aos pés do Condenado, ampliam e concretizam a acolhida dos pastores e magos ao Verbo.
Celebremos, pois, o Natal à luz da Páscoa. Agarrados aos seus “podres poderes”, Quirino, César Augusto e Herodes, como seus seguidores em todos os tempos e latitudes, nem se dão conta do que está acontecendo em Belém ou festejam a pena de morte executada no Calvário. Mas os humildes e humilhados que andavam nas trevas, os homens e mulheres de boa vontade, vêem uma grande luz e se rejubilam como nas colheitas abundantes ou nas lutas bem-sucedidas (cf. Is 9,1-3).
Na gruta cavada nas rochas de Belém e na cruz cravada nas rochas de Jerusalém Deus se faz boa notícia encorajadora. Nenhum traço de onipotência. Nenhum sinal de onisciência. Nenhum resquício de impassibilidade. Na manjedoura e na cruz, Deus se faz impotência para empoderar os fracos, se faz misericórdia para reerguer os pecadores, se faz fragilidade para afagar todos os que experimentam cansaço e abatimento. Deus é grande porque se abaixa e desce aos infernos...
No Menino da estrebaria, no profeta crucificado e nas comunidades que nascem e se reúnem ao redor dele, Deus quebra a canga que os poucos poderosos impõem aos mais fracos e joga no fogo da inutilidade as fardas e botas dos soldados que servem aos dominadores. E anuncia com força: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma boa notícia para todo o povo: hoje nasceu para vós um salvador! Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido deitado numa manjedoura...” (cf. Lc 2,1-14) O Natal nos chama a olhar para baixo e ir às periferias, pois é lá que Deus fez sua morada.
Deus Menino, Deus vulnerável! Ouvimos o convite dos pastores e viemos aqui para ver o que o Pai nos revelou (cf. Lc 2,15). No teu rosto vemos brilhar a humana amizade, a verdadeira filantropia de Deus. Da acolhida que encontraste em Maria e José e da atenção que recebeste dos pastores aprendemos a hospitalidade que salva. Escutando os anjos, aprendemos que a paz não é algo que nos espera depois da morte, mas mistério e dom já presente na terra, entre os homens e mulheres teus amados. Amado Menino, príncipe da paz, faz que sejamos intrépidos promotores desta paz! Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Isaías 9,1-6 * Salmo 95 (96) * Carta a Tito 2 ,11-14* Lucas 2,1-14)

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