quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Imaculada Conceição de Maria

Imaculada Conceição de Maria: muito mais que pureza!

Em meio à caminhada do Advento, a festa da Imaculada Conceição de Maria nos lembra que a humildade, a escuta e a fé na ação misericordiosa e libertadora de Deus são atitudes que levam à vida feliz. O segredo da felicidade não está na posse ou no consumo de bens, nem na fama ou no sucesso que alcançamos ou no poder de atração que exercemos, mas na abertura humilde e profunda aos outros, ao futuro e a Deus. O fechamento orgulhoso em si mesmo e o apego doentio ao presente não são caminhos de crescimento, mas sinais de que a pessoa e a sociedade estão doentes.
Lucas nos apresenta Maria como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus e que está pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história. Isabel proclama que Maria é alguém que ousou acreditar na força da Palavra e na fidelidade daquele que a pronuncia. Obviamente, não se trata de uma palavra escrita na Bíblia, mas de uma mensagem eloquente, escrita nos acontecimentos. Mas, no belo poema atribuído a Maria e conhecido como Magnificat, a mãe de Jesus e nossa aparece também como uma pessoa humilde e humilhada.
A humildade, a escuta e a fé estão intrinsecamente relacionadas e são as marcas fundamentais da personalidade de Maria. Se Deus pôde realizar grandes coisas nela e através dela é porque encontrou a indispensável base humana já preparada. Por isso, não fazemos bem quando idealizamos e espiritualizamos Maria, pois corremos o risco de desumanizá-la completamente, tirando-a da história. Para fazer-se humano o Filho de Deus precisa de pessoas fundamentalmente humanas, e não de criaturas angélicas!
O Evangelho diz que, depois da profunda experiência de ser amada e de receber a vocaço de dar à luz aquele que é a Luz do mundo, Maria vai apressadamente à casa de Isabel. Busca um sinal que possa confirmar a parceria de Deus com os humildes e sua aliança com os pobres. Ela já havia dado sua palavra Àquele que é capaz de fazer grandes coisas em favor do povo humilhado, mas nem tudo estava claro. A discípula se faz serva, a serva se mostra peregrina, e a peregrina sai em busca da hospitalidade e do discernimento na casa de Isabel.
Na casa da sua velha parenta, escondida entre as montanhas e vales que circundam Jerusalém, enquanto Zacarias permanece mudo e à margem de tudo, duas mulheres louvam a Deus e profetizam. A discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida. Contemplando sua própria história e a epopéia do seu povo, Maria percebe e proclama a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos, eleva os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua misericórdia a todas as gerações.
Neste encontro entre Maria e Isabel, preparado e celebrado às margens do poder e da badalação, o corpo festeja e é festejado. É bendito o corpo feminino de Maria, assim como bendito é o corpo que ela carrega no ventre. Bendito é o corpo de Isabel, capaz de perceber a incontida alegria daquele que preparará a estrada para a chegada do Messias, e bendito é o corpo dos mártires de todos os tempos. Bendito é também o corpo dos humilhados e dispensados pelos sistemas fechados, mas desde sempre destinados por Deus ao brilho.
A festa da Assunção de Maria sublinha de forma contundente a dignidade do corpo, de todos os corpos. Mas é uma proclamação da dignidade especialmente dos corpos humilhados por uma cultura que os transforma em meios de produção, em objetos que podem ser vendidos e comprados, em produtos expostos nas vitrines e passarelas, sem brilho e sem beleza. É também o reconhecimento da beleza e da nobreza dos corpos doentes e envelhecidos pelo tempo, assim como do corpo eclesial dos muitos e diferentes membros.
Maria de Nazaré, de Belém e de Jerusalém! Tu és mulher, mãe e companheira em todos os caminhos e aventuras que geram e dão à luz mundos, homens e mulheres novos. Então, acompanha-nos neste tempo de preparação para o Natal do teu filho, ensinando-nos a sonhar caminhos que nos levem a mudanças profundas, tanto no nível pessoal como no âmbito eclesial e social. Ajuda-nos a perceber que simples arranjos exterrnos e mudanças de fachada apenas enganam e prejudicam o radical dinamismo de reconciliação que teu filho nos confiou como herança e missão. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Gênesis 3,9-15.20 * Salmo 97 (98) * Carta aos Efésios 1,3-6.11-12 * Lucas 1,26-38)

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