Da terra viemos, à
terra voltaremos!
Há quase dois mil anos atrás, o Papa
Clemente I exortava os cristãos com palavras muito sugestivas. Ainda hoje ele
nos convida a percorrer todas as épocas da história e verificar como, em cada
geração, o Senhor “concede um tempo
favorável da penitência a todos os que a ele quiseram
converter-se. Noé proclamou a penitência, e todos que o escutaram foram salvos.
Jonas anunciou a ruína aos ninivitas, mas eles, fazendo penitência de seus
pecados, reconciliaram-se com Deus por suas súplicas e alcançaram a salvação”.
“Inspirados pelo Espírito Santo, diz
o Papa e Mártir, os ministros da graça de Deus pregaram a penitência. O próprio
Senhor também falou da penitência: “Não quero a morte do pecador, mas que mude de
conduta. Deixa de praticar o mal! Ainda que vossos pecados subam da terra até o
céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o
cilício, se voltardes para mim de todo o coração eu vos tratarei como um povo
santo e ouvirei as vossas súplicas” (cf. Ez 33,11; Is 1,18;
63,16; 64,7; Jr 3,4; 31,9).
E continua: “Querendo levar à
penitência todos aqueles que amava, o Senhor confirmou esta sentença com sua
vontade. Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade. Imploremos
humildemente sua misericórdia e benignidade. Convertamo-nos sinceramente ao
seu amor. Abandonemos as obras más, a discórdia e a inveja que conduzem
à morte. Sejamos humildes de coração, irmãos, evitando toda espécie de vaidade,
soberba, insensatez e cólera. Lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus: “Sede
misericordiosos, e alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como
tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; dai, e vos será dado; não
julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com
a medida com que medirdes, vós sereis medidos” (cf. Mt 5,7;
6,14; 7,1.2).
Depois de vinte séculos de caminhada,
a Igreja nos exorta e pede, através da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil: “Nessa Quaresma, o
desafio para a nossa conversão é cuidar da Casa: da casa interior de
cada um de nós (espiritualidade; da casa em que habitamos (família; da casa
onde passamos grande parte do nosso tempo (trabalho); da casa em que nos
relacionamos (cidade); e da nossa Casa Comum”. E observam: “O pecado mais perigoso do nosso
tempo talvez seja a separação entre criatura humana e natureza”.
“Esse é o pecado ecológico, essa
visão das coisas e pessoas como meros objetos dos quais podemos dispor conforme
nossos desejos”. Por isso, “precisamos urgentemente de uma conversão ecológica:
passar da lógica extrativista, que contempla a terra como simples
depósito de recursos, de onde podemos retirar aquilo que quisermos, como
quisermos e quanto quisermos, a uma lógica do cuidado. Precisamos nos
converter, contribuindo para restabelecer a harmonia quebrada”. A terra é nosso berço e nossa mortalha!
Estamos numa encruzilhada, e ela é cada
vez mais dramática: “Ou mudamos nossa maneira de ser e agir no mundo,
reeducando nossos hábitos e costumes na relação com toda a criação, cumprindo
nossa missão de cuidá-la e guardá-la, ou deixaremos para as futuras gerações
uma Casa Comum insustentável, contrariando os desígnios do Deus Criador. Como
nos diz o Papa Francisco, a escolha é nossa: “Formar uma aliança global para
cuidar da terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e da
diversidade da vida”. É por aqui que
passa a nossa conversão ao Senhor na Quaresma de 2025.
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo de Santa Cruz do Sul
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