sábado, 8 de março de 2025

As tentações de Jesus e dos cristãos

LUCIDEZ E FIDELIDADE

Não foi fácil para Jesus manter-se fiel à missão recebida do Pai sem se desviar da sua vontade. Os evangelhos recordam a sua luta interior e as provações que teve de superar, juntamente com os seus discípulos, ao longo da sua vida.

Os mestres da lei perseguiam-no com perguntas capciosas para o submeterem à ordem estabelecida, esquecendo-se do Espírito, que o incitava a curar mesmo ao sábado. Os fariseus pediram-lhe que deixasse de aliviar o sofrimento das pessoas e que realizasse algo mais espetacular, um sinal do céu de proporções cósmicas, com o qual Deus o confirmaria diante de todos.

As tentações chegaram até ele e aos seus discípulos mais amados. Santiago e João pediram-lhe que esquecesse os últimos e pensasse mais em reservar-lhes os cargos de maior honra e poder. Pedro repreendeu-o porque colocava a sua vida em risco e poderia acabar executado.

Sofria Jesus e sofriam também os seus discípulos. Nada era fácil nem claro. Todos tinham de procurar a vontade do Pai, superando provações e tentações de vários tipos. Poucas horas antes de ser preso pelas forças de segurança do templo, Jesus diz-lhes: «Vós sois os que perseverastes comigo nas minhas provações» (Lucas 22,28).

O episódio conhecido como tentações de Jesus é um relato em que se reagrupam e resumem as tentações que Jesus teve que enfrentar ao longo da sua vida. Embora viva movido pelo Espírito recebido no Jordão, não estava livre de ser atraído por falsas formas de messianismo.

Deverá Jesus pensar no seu próprio interesse ou ouvir a vontade do Pai? Deverá impor o seu poder como Messias ou colocar-se ao serviço daqueles que dele necessitam? Deverá procurar a sua própria glória ou manifestar a compaixão de Deus para com aqueles que sofrem? Deveria evitar riscos e a crucificação ou dedicar-se à sua missão confiando no Pai?

O relato das tentações de Jesus foi recolhido nos evangelhos para alertar os seus seguidores. Devemos estar lúcidos. O Espírito de Jesus está vivo na sua Igreja, mas os cristãos não estão livres de falsear uma e outra vez a nossa identidade, caindo em múltiplas tentações.

Para seguirmos Jesus fielmente devemos identificar as tentações que os cristãos enfrentam hoje: a hierarquia e o povo; os líderes religiosos e fiéis. Uma Igreja que não é consciente das suas tentações rapidamente falsificará a sua identidade e a sua missão. Algo assim não está a acontecer conosco? Não precisamos de mais lucidez e vigilância para não cairmos na infidelidade?

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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