Ninguém pode se apresentar a Deus cobrando méritos | 641 | 04.03.2025
| Marcos 10,28-31
Continuamos com o evangelho segundo Marcos. Os versículos de
hoje estão situados após a cena da deserção do homem rico diante das exigências
de Jesus para ser seu discípulo. Ele sente-se bom e irrepreensível, um ‘homem
de bem’ como se diz hoje, e volta para casa desiludido. Diante das palavras e
atitudes daquele homem, Jesus desabafa: que um rico aceite seu caminho é tão
raro como um camelo passar pelo buraco de uma agulha!
Os discípulos reagem à comparação de Jesus, pois pensam que se
os ricos não estão mais perto de Deus, o que dizer então dos doentes, dos
pobres e dos estrangeiros, que eles tratam como ‘sujeitos suspeitos’? Mas,
aquilo que para muitos parece impossível, para Deus é absolutamente normal: a
riqueza dos ricos não é bênção de Deus, e a prosperidade não é sinal de
fidelidade; no reino de Deus e no coração do Deus do Reino, os pobres e doentes
estão no centro!
É neste contexto que Pedro toma a Palavra e apresenta a Jesus um
fato: aquilo que o jovem rico não quisera fazer, os discípulos o fizeram,
livremente ou por causa das perseguições. Eles deixaram os bens e seguiram
Jesus, em busca do único bem: do reino de Deus. Pedro parece “cobrar a conta”,
pois ele e seus companheiros ainda não haviam provado a vida eterna, apenas
incompreensões.
Jesus responde solenemente, sublinhando que o retorno prometido
estava assegurado, mas em dois tempos: agora, durante esta vida; no mundo
futuro. Agora, quem relativizou tudo pelo absoluto do Reino de Deus no caminho
de Jesus, já recebe 100 vezes mais em termos de hospitalidade, ajuda,
companheiros e apoiadores mediante a fraternidade e a partilha comunitária. Mas
isso sempre em meio às perseguições, próprias do discípulo no mundo.
No
Reino de Deus plenamente realizado, que começa aqui, mas aqui não chega ao seu
termo, está assegurada uma vida densa e intensa em termos de dinamismo e de
sentido, uma vida que desborda a história e avança para a eternidade. Com o olhar
fixo no “mundo futuro”, o discípulo de Jesus é convidado e ver já “agora” os
frutos da sua entrega: os benefícios da vida em comum, que são os irmãos e
irmãs, os bem partilhados, um futuro de esperança.
Meditação:
§ Recomponha
a cena, relendo os versos 15 a 27, que relatam o encontro de Jesus com as
crianças e, depois, com o homem rico
§ Observe
a reação dos discípulos, especialmente do homem que se apresentou como
candidato a discípulo
§ Será
que não somos tentados a nos apresentar a Deus ostentando nossos méritos, sem
consciência daquilo que nos falta?
§ Conseguimos
perceber que tudo aquilo do que abrimos mão nos havia sido dado, e que tudo o
que temos pertence a todos?
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