Perder ou ganhar a vida: a decisão está em nossas mãos | 643 | 06.03.2025 | Lucas 9,22-25
As cinzas que recebemos ontem reforçam
o chamado contundente à conversão e à adesão ao Evangelho do Reino de Deus.
Como todas as criaturas, os seres humanos somos vulneráveis, e a vida escapa ao
nosso controle. Hoje, no segundo dia da quaresma, Jesus nos fala do seu caminho
de encarnação radical na condição humana humilhada, e o propõe como regra de
vida para aqueles que, crendo nele, seguem seu caminho.
Esta lição de Jesus no processo de formação
dos discípulos ocorre num momento importante. Os discípulos são tentados a
voltar atrás, resistem à proposta de Jesus, têm dificuldades de mudar o modo de
pensar e de agir. É nesse contexto que Jesus diz claramente quem ele é e a que
veio. E, com a mesma clareza, fala que sua proposta e sua pessoa serão
rejeitadas, perseguidas e eliminadas em nome da religião e dos bons costumes. A
violência pode se esconder no intervalo entre um canto e um rito.
Estamos diante do “coração” da fé cristã: a
realização do Reino de Deus, a construção da unidade num mundo polarizado e
intolerante, passa pela doação da própria vida. É claro que Jesus não está
falando de uma espécie de suicídio premeditado, nem de uma morte acidental. Ele
diz que esse é o caminho de quem é enviado por Deus para ser um sinal inequívoco
do seu amor por todas as pessoas, sem olhar para sua condição moral ou
religiosa. É difícil legitimar nossas violências com o álibi da autodefesa.
Mas Jesus não é uma espécie de herói
solitário, como aqueles que estrelam os filmes americanos. Nem alguém a ser
apenas admirado e imitado. Seu caminho é o caminho de toda pessoa que nele crê:
o boicote, a perseguição e a exclusão por parte das elites que dominam. Para
Jesus, a cruz, ou o dom radical de si mesmo, não é um martírio espetacular e
admirável, nem uma solução de emergência, mas a lógica predominante e
permanente da fé.
Por isso, Jesus
coloca seus discípulos de ontem e de hoje diante de uma encruzilhada, e pede
que escolhamos entre dois caminhos alternativos: focar nossa caminhada antes de
tudo em nossos interesses, salvar nossa vida a qualquer custo e viver
mediocramente; doar a vida sem reservas pelos outros e pelo cuidado da casa
comum, acessando, assim, uma vida plena e fecunda, que nada e ninguém pode
aprisionar.
Meditação:
§ Leia
atentamente, palavra por palavra, frase por frase, este ensino no qual Jesus
apresenta o “miolo” do seu Evangelho
§ Se
possível, leia também o episódio que antecede estas palavras (9,18-21), onde
Jesus pergunta: “Quem vocês dizem que eu sou?”
§ O
que significa propriamente salvar ou perder a própria vida? Como Jesus nos
mostra isso no seu próprio modo de viver?
§ Por
que continuamos vivendo preocupados apenas conosco mesmos, como se não
tivéssemos nada a ver com os outros e com o planeta?
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