Qual é o jejum dos cristãos, o jejum que agrada a Deus? | 644 | 07.03.2025
| Mateus 9,14-15
No texto que meditamos na quarta-feira
de cinzas Jesus já questionava a atitude que pode contaminar o jejum, a esmola
e até a oração. E indicava a postura correta e capaz de manter o sentido
profundo destas expressões de piedade. Hoje, depois de ser questionado pelos
fariseus sobre seu desprezo pelo jejum, Jesus é interrogado pelos discípulos de
João Batista sobre o mesmo tema: “Por que razão nós e os fariseus praticamos
(muitos) jejuns, mas teus discípulos não?”
Este episódio dos evangelhos, mesmo que pareça
contradizer a recomendação da Igreja para o tempo da quaresma (jejum, oração e
partilha), resgata o sentido original do jejum: romper com os mecanismos de
dominação e de opressão, como ensina o profeta Isaías (cf. 58,1-9). É isso que
Jesus faz e ensina. Diversamente dos fariseus, ele acolhe e reintegra as
pessoas oprimidas e marginalizadas à convivência social, proclamando sua
dignidade, e esse é o jejum que agrada a Deus.
No episódio que antecede o questionamento de
hoje, Jesus chamara para junto de si e para ser seu discípulo um cobrador de
impostos, terrivelmente odiado e desprezado pelos judeus; perdoou pessoas
consideradas publicamente pecadoras; curou e reintegrou doentes. Para essa
gente, o jejum que acompanha as situações dolorosas e a luta pelo
reconhecimento da indignidade haviam chegado ao fim, e, diante de tamanha graça
de Deus, não poderiam não festejar.
O ensino e as atitudes de Jesus desconcertam,
mas, para ele, o jejum é luto, e a partilha à mesa é vida. Com Jesus e com o
Reino de Deus, o clamor de dor se transforma em louvor e gratidão. Como “noivo”
da Nova Aliança de Deus com seu povo, Jesus tem autoridade para relativizar ou
mudar alguns preceitos, por mais sagrados que possam parecer. Ninguém jejua
numa festa de casamento!
Quando Jesus é
“retirado” do meio de nós e volta a ser crucificado nos seus “irmãos mais
pequeninos”, o jejum volta a fazer sentido: jejuaremos
para que a festa da vida seja para todos; privar-nos-emos de algo para fazermo-nos
dom, para partilhar, para cuidar da Casa Comum, para lutar contra a opressão e
pelo fim das guerras a partir de dentro de nós mesmos.
Meditação:
§ Leia
atentamente, palavra por palavra, estes dois versículos do evangelho segundo Mateus
§ Se
possível, leia também o episódio que antecede o trecho de hoje, a narração da
refeição de Jesus na casa de Mateus (Mt 9,9-13)
§ O
que significa dizer que não podemos fazer jejum enquanto o noivo está conosco,
mas somente quando ele nos for tirado?
§ Por
que o jejum encontra hoje tanta resistência entre nós, e qual seria o sentido
aceitável e cristão do jejum?
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