Conhece a Deus
quem segue Jesus e guarda a sua Palavra | 678 | 10.04.2025 | João 8,51-59
O texto de ontem terminava com Jesus
acusando indiretamente as lideranças religiosas de serem assassinas e
justificarem suas ações com uma imagem pervertida e interesseira de Deus. Na
sequência, Jesus nega que eles sejam filhos de Abraão, e diz que eles são
filhos do diabo, ou filhos da mentira. A reação deles é violenta: Jesus é
acusado de ser samaritano e estar possuído pelo demônio.
Quando Jesus insiste que seu ensino
ilumina e conduz à vida e à liberdade, que quem o segue não será envolvido
pelas trevas da morte, “o pessoal do templo” pensa ter encontrado uma prova da
sua loucura, pois a vida demonstra que todos morrem, inclusive Abraão e os
profetas. Eles não conhecem senão a vida mortal e a morte amarga. Não conseguem
entender que a vida pode ser vazia e tediosa, ou intensa e indestrutível. A simples
possibilidade de uma vida terna e eterna lhes causa desestabilização.
A discussão entre Jesus e o pessoal do
templo é permeada pela ironia, tanto da parte do deles como de Jesus. Isso
aparece tanto nas perguntas como nas respostas de ambos os lados: “Quem
pretendes ser? Acaso és maior que nosso
pai Abraão?” “Não tens 50 anos e vistes Abraão?” Mas a ironia não esquece nem
se afasta do conteúdo em discussão: Quem de fato conhece a Deus e realiza suas
ações?
Jesus não reivindica nem recorre a
títulos para falar de si mesmo. Ele conhece a Deus como Pai, e demonstra que é
seu Filho e seu Enviado porque participa da ação de Deus em defesa do ser
humano. Tomando distância até do próprio Abraão, e afirmando que ele é pai “de
vocês” (e não “nosso” pai), Jesus escapa das apertadas amarras de raça e de
nação. Deus, enquanto Pai, está para além do “cercadinho” ou “bolha” do gênero,
raça e nação, e estende nossos laços de fraternidade a toda a humanidade.
Por fim, Jesus
diz que Abraão exultou e se alegrou ao visualizar “o meu dia”. Não é Jesus que
viu Abraão, mas Abraão que previu em Jesus o Enviado de Deus e o início dos
tempos messiânicos. Quando Jesus afirma “antes que Abraão existisse, eu sou”, a
taça da raiva do “pessoal do templo" transborda: eles pegam em pedras para
executar Jesus, comprovando que são assassinos e que o templo deixou de ser
casa de Deus e se tornou lugar de comércio, violência e morte.
Meditação:
§ Releia o texto atentamente,
participe do debate, interaja com os protagonistas, perceba o que está em jogo
§ Qual é a imagem que fazemos de
Deus, e em que medida essa imagem nos emancipa e nos torna solidários e
libertadores?
§ Nossa imagem de Deus está preso a
ideologias como o machismo, o nacionalismo, o patriarcalismo, o liberalismo?
§ Em que medida, para defender nossa
ideia de Deus e nossa religião, somos capazes de usar de violência contra os
outros?
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