Não distorcer
as ações de Jesus, nem anular as Escrituras | 679 | 11.04.2025 | João 10,31-42
Estamos no contexto literário do
capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus aplica a si mesmo as
sugestivas metáforas da porta e do pastor. Um dos momentos mais provocativos é
quando Jesus declara que todos os que vieram antes dele são ladrões,
assaltantes ou mercenários, e apenas ele é um pastor bom, o único disposto a
dar a vida pelo rebanho. A reação das lideranças religiosas foi acusá-lo de
estar completamente louco.
Para Jesus, uma pessoa mostra sua
personalidade e valor nas ações que realiza e nas relações que estabelece. E
isso vale também para Deus, que mostra que é justo e bondoso emancipando e
libertando as pessoas mais vulneráveis. Por isso, Jesus não defende sua missão
com palavras, mas com o testemunho de suas ações. São elas que mostram que ele
é o enviado do Pai, não por presumido poder, mas por a intensidade da
compaixão.
E quando as lideranças religiosas do
templo ameaçam apedrejá-lo, Jesus pergunta pelo motivo da rejeição e do ódio.
Se ele é o que demostram suas obras, são elas que devem ser louvadas ou
reprovadas, e não suas palavras. “Por quais das minhas ações mereço ser
condenado?”, pergunta ele. Mas as elites religiosas fazem questão de divorciar
as palavras de Jesus da compaixão que ele demonstra, e querem condená-lo por
suas declarações, interpretadas no horizonte da própria ideologia.
Como defensores de uma palavra morta e
de uma lei desligada da vida, e por mais piedosos que aparentem ser, eles não
se interessam pela exploração praticada na sociedade e até dentro do templo,
desde que os exploradores tenham o nome de Deus em seus lábios. E acabam
traindo a fidelidade às Escrituras, pois silenciam quando elas dizem que todos
os que agem de modo semelhante à ação de Deus são deuses (cf. Sl 82). E
esquecem que a lei existe para defender a dignidade e a liberdade das vítimas.
Como a pessoa se
revela pelas obras que faz, apelando à violência e planejando assassinar Jesus,
a elite do templo demonstra que é assassina e perseguidora, e não representa a
vontade e a ação de Deus, o Pai de Jesus. É por isso que Jesus sai do templo e
do território que se tornara lugar de opressão. Fora do templo, do outro lado
do rio Jordão, exatamente onde João viveu sua vocação profética, ele continua
atraindo discípulos. E o povo vê nas ações de Jesus a realização da profecia do
Batista.
Meditação:
§ Observe
o diálogo difícil e tenso entre Jesus, que se mostra em suas ações de compaixão,
e a elite religiosa, que o acusa de blasfêmia
§ Releia
e perceba o sentido das acusações levantadas contra Jesus e dos argumentos que
apresenta para se defender
§ Será
que não somos tentados pelo mesmo pecado das elites do templo: dissociar aquilo
que proclamamos daquilo que fazemos?
§ Sendo
verdade que são nossas ações e relações que revelam nosso valor, o que nossas
ações estão revelando de nós e nossa Igreja?
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