Eles estavam de luto
e chorando, e não acreditaram | 694 | 26.04.2025 | Marcos 16,9-15
Entre o primeiro
relato de Marcos sobre a ressurreição de Jesus (16,1-7) e o relato que
meditamos hoje (16,9-15), há um versículo problemático, omitido pela liturgia
pascal: “Saindo, elas (as Marias) fugiram do túmulo, pois estavam tomadas de
tremor e espanto. E não contaram nada a ninguém, pois tinham medo”. Como
entender este medo e este silêncio?
O evangelista faz questão de não
romancear o papel dos primeiros apóstolos. A aventura de Jesus não tem um final
feliz, como as narrativas imperiais e de Hollywood. A narrativa de Marcos termina
com uma pergunta não expressa, mas envolvente, dirigida aos leitores e
discípulos: vocês e aquelas mulheres superaram o medo e recomeçaram o
seguimento de Jesus na Galileia, para onde ele foi, à nossa frente?
Isso ressoa como uma advertência para
não cairmos em leituras facilitadoras, como reabilitar a primazia do papel
masculino; imaginar Jesus como um profeta poderoso; tirar Jesus da terra e
instalá-lo “no alto dos céus”. No evangelho segundo Marcos, Jesus oferece
poucas respostas, mais ainda se fazemos as perguntas erradas. Mas,
questionando-nos, ele nos chama a tomar uma posição. E Marcos nos apresenta apenas
Jesus “no alto” da cruz e caminhando à nossa frente, esperando-nos nas
“periferias”.
O epílogo de hoje (v.
9-15) faz parte de uma releitura do texto original de Marcos. De qualquer modo,
as mulheres vão testemunhar o que viram aos apóstolos, mas, como sempre, eles
não dão crédito às mulheres, e nem a dois outros discípulos que diziam ter
encontrado Jesus no caminho. Mais uma vez, eles merecerão uma advertência de
Jesus, “por causa da falta de fé e da dureza de coração”, por não acreditarem
nas testemunhas.
O texto, o último de Marcos, termina com um novo mandato
missionário. A experiência que brota da fé na ressurreição de Jesus nos leva a
recomeçar o caminho do discipulado na periferia das “galileias”, e nos envia a
percorrer o mundo e viver anunciando o Evangelho do Deus compassivo e
crucificado pela humanidade a todos os povos e criaturas.
Sugestões para meditar
§ Como entender que as pessoas mais
“confiáveis” e próximas de Jesus resistam tanto em aceitar sua ressurreição?
§ Será que nós também corremos o risco
de desviar a atenção e tomar distância de Jesus crucificado e do chamado a
voltar à Galileia?
§ Temos consciência de que a afirmação
da ressurreição de Jesus não nos livra da morte e confirma num caminho pleno de
riscos?
§ Preferimos um Jesus que “sobe aos
céus” ou um Jesus que é “elevado na cruz”, “desce aos infernos” e nos precede
nas “periferias”?
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