Querer ser superior aos outros é querer estar acima de
Deus | 685 | 17.04.2025
| João 13,1-15
Com o lava-pés iniciamos a segunda
parte do evangelho de João, que põe em cena a paixão de Jesus. Este mistério é
introduzido pela última ceia, e a narração se estende por três capítulos,
recheados de diálogos entre Jesus e seus discípulos sobre questões absolutamente
centrais na vida cristã.
Aproxima-se a festa da páscoa, e Jesus
sabe que sua hora chegou. Então, ele se reúne com seus amigos numa refeição
cálida e amistosa que, no costume judaico, precede a ceia pascal. Jesus tem plena
consciência em relação ao que está para acontecer. Ele não é um profeta ou um
mestre surpreendido por acontecimentos inesperados, mas caminha soberano,
consciente e livre para a entrega da própria vida.
Um novo personagem, o diabo, entra em
cena e atua em Judas. Então o amor de Jesus pela humanidade se torna duro combate.
É neste momento que ele se despoja do manto da divindade e se reveste do linho
da humanidade para conduzi-la e mantê-la na sua amizade. O despojamento que se manifestou na
encarnação em Belém e em Nazaré se radicaliza na ceia e na cruz em Jerusalém.
Abaixando-se para lavar os pés dos
discípulos, Jesus antecipa o movimento da paixão e morte, sua descida “aos
infernos”, ou à “mansão dos mortos”. De certo modo, ele repete o gesto de
acolhida que Maria de Betânia havia feito a ele. Jesus se despoja da sua
condição divina para nos acolher, e retoma sua gloria na manhã da ressurreição.
Lavar os pés era um ofício degradante,
um trabalho reservado aos escravos pagãos. Jesus lava nossos pés para que
participemos da sua vida e missão de servo excluído. Assim, entende-se a
resistência insistente de Pedro, mas, diante da insistência de Jesus, consente,
inclusive pedindo com excesso. Mas o faz por obediência a um chefe, não por
consciência.
Fazendo isso,
Jesus não quer simplesmente demonstrar humildade. O que ele faz é rejeitar de
forma contundente toda forma de superioridade e hierarquia, que não valorize a
dignidade de cada pessoa e perpetua a desigualdade. O amor e o serviço
fraterno, especialmente aos mais vulneráveis, é o ensaio geral da vida cristã,
a “prova dos nove” do amor a Deus. Reivindicar superioridades equivale a
colocar-se acima de Deus.
Meditação:
§ Leia
atentamente, com o coração, com todos os sentidos, palavra por palavra, gesto
por gesto, verbo por verbo, esta bela cena
§ Acompanhe
o gesto de Jesus, permita que ele lave seus pés, e, principalmente, entenda o
que ele quer transmitir com isso
§ Por
que Pedro resiste ao gesto de Jesus? Será que ele não quer defender a própria
superioridade?
§ Por
que nos custa tanto reconhecer a dignidade e os direitos humanos, a absoluta
igualdade de todos os seres humanos?
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