quarta-feira, 16 de abril de 2025

Lições da eucaristia e do lava-pés

Querer ser superior aos outros é querer estar acima de Deus | 685 | 17.04.2025 | João 13,1-15

Com o lava-pés iniciamos a segunda parte do evangelho de João, que põe em cena a paixão de Jesus. Este mistério é introduzido pela última ceia, e a narração se estende por três capítulos, recheados de diálogos entre Jesus e seus discípulos sobre questões absolutamente centrais na vida cristã. 

Aproxima-se a festa da páscoa, e Jesus sabe que sua hora chegou. Então, ele se reúne com seus amigos numa refeição cálida e amistosa que, no costume judaico, precede a ceia pascal. Jesus tem plena consciência em relação ao que está para acontecer. Ele não é um profeta ou um mestre surpreendido por acontecimentos inesperados, mas caminha soberano, consciente e livre para a entrega da própria vida.

Um novo personagem, o diabo, entra em cena e atua em Judas. Então o amor de Jesus pela humanidade se torna duro combate. É neste momento que ele se despoja do manto da divindade e se reveste do linho da humanidade para conduzi-la e mantê-la na sua amizade.  O despojamento que se manifestou na encarnação em Belém e em Nazaré se radicaliza na ceia e na cruz em Jerusalém.

Abaixando-se para lavar os pés dos discípulos, Jesus antecipa o movimento da paixão e morte, sua descida “aos infernos”, ou à “mansão dos mortos”. De certo modo, ele repete o gesto de acolhida que Maria de Betânia havia feito a ele. Jesus se despoja da sua condição divina para nos acolher, e retoma sua gloria na manhã da ressurreição.

Lavar os pés era um ofício degradante, um trabalho reservado aos escravos pagãos. Jesus lava nossos pés para que participemos da sua vida e missão de servo excluído. Assim, entende-se a resistência insistente de Pedro, mas, diante da insistência de Jesus, consente, inclusive pedindo com excesso. Mas o faz por obediência a um chefe, não por consciência.

Fazendo isso, Jesus não quer simplesmente demonstrar humildade. O que ele faz é rejeitar de forma contundente toda forma de superioridade e hierarquia, que não valorize a dignidade de cada pessoa e perpetua a desigualdade. O amor e o serviço fraterno, especialmente aos mais vulneráveis, é o ensaio geral da vida cristã, a “prova dos nove” do amor a Deus. Reivindicar superioridades equivale a colocar-se acima de Deus.

 

Meditação:

§ Leia atentamente, com o coração, com todos os sentidos, palavra por palavra, gesto por gesto, verbo por verbo, esta bela cena

§ Acompanhe o gesto de Jesus, permita que ele lave seus pés, e, principalmente, entenda o que ele quer transmitir com isso

§ Por que Pedro resiste ao gesto de Jesus? Será que ele não quer defender a própria superioridade?

§ Por que nos custa tanto reconhecer a dignidade e os direitos humanos, a absoluta igualdade de todos os seres humanos?

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