O Muro de Berlim era a notícia de cada dia. Da manhã à noite líamos, víamos, escutávamos: o Muro da Vergonha, o Muro da Infâmia, a Cortina de Ferro...
Finalmente, esse muro, que merecia cair, caiu. Mas outros muros brotaram, e continuam brotando, no mundo. Embora sejam muito maiores que o de Berlim, deles fala-se pouco ou não se fala nada.
Pouco se fala do muro que os Estados Unidos estão erguendo na fronteira mexicana, e pouco se fala das cercas de arame farpado de Ceuta e Melilla.
Quase nada se fala do muro da Cisjordânia, que perpetua a ocupação israelita de terras palestinas e será quinze vezes mais longo que o Muro de Berlim, e nada, nada de nada, se fala do Muro do Marrocos, que perpetua o roubo da pátria saharaui pelo reino marroquino e mede sessenta vezes mais que o Muro de Berlim.
Por que será que há muros tão altissonantes e muros tão mudos?
(Eduardo Galeno, Espelhos, L&PM, 2008, p. 312)
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