O sonho da comunhão e da unidade em Jesus Cristo
Ano após ano alguns setores e agentes das Igrejas cristãs insistem, sem muito sucesso, na comunhão e na unidade pedida em testamento por Jesus. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (que no Brasil é celebrada no período que vai da ascensão de Jesus à festa de Pentecostes), é uma iniciativa a serviço desta unidade e está em pleno curso na Itália (18 a 25 de janeiro). A proposta de oração para o ano 2012 é preparada pelos cristãos da Polônia, e tem o seguinte lema: “Todos seremos transformados pela vitória de Jesus Cristo nosso Senhor” (inspirado em 1Cor 15,51-58).
Interpelações conciliares
O Concílio Vaticano II declara que a promoção e a reintegração dos cristãos na unidade é um dos seus principais objetivos, convicto de que as divisões “contrariam a vontade de Cristo, são um escândalo para o mundo e prejudicam enormemente a pregação do Evangelho ” (UR 1). O Concílio acolhe com alegria os esforços pela unidade que estão em curso e exorta os fiéis católicos “a reconhecerem os sinais dos tempos e a participarem ativamente do trabalho ecumênico ” (Idem, 4). Todos conhecemos e apreciamos as corajosas declarações do Concílio Vaticano II. Cito aqui apenas alguns parágrafos do Decreto Unitatis Redintegratio.
“É necessário que os católicos reconheçam com alegria e com a devida estima os bens verdadeiramente cristãos provenientes do patrimônio comum existente entre os irmãos separados. Reconhecer as riquezas de Cristo e as obras virtuosas na vida de quem dá testemunho de Cristo até, às vezes, o derramamento do sangue, é justo e salutar...” (UR 4)
“A preocupação de restaurar a unidade concerne a toda a Igreja, tanto aos fiéis quanto aos pastores, de acordo com a posição de cada um, tanto no que se refere à vida cristã, como no que diz respeito aos estudos teológicos e históricos. Tornando-se comum a todos os cristãos, essa preocupação já por si mesma comporta uma certa união fraterna entre todos e vai levando, naturalmente, à unidade plena e perfeita, segundo a misericórdia de Deus.” (UR 5)
“O concílio exorta os fiéis para que evitem toda leviandade ou zelo imprudente que possam prejudicar o caminhar para a unidade. (...) O concílio deseja ardentemente que as iniciativas dos filhos da Igreja católica progridam em conjunto com as iniciativas dos irmãos separados, sem que ninguém coloque obstáculo aos caminhos da providência nem prejudique às futuras inspirações do Espírito Santo.” (UR 24).
Mas, na prática...
Lá se vão 50 anos desde que este apelo ressoou nos ouvidos assustados de alguns setores da Igreja católica. Na prática, este é um caminho envolto em neblina, cheio de curvas, buracos, pedras, desvios e retornos. A busca da comunhão intereclesial está longe de ser uma prioridade, seja na agenda da Santa Sé e dos bispos, seja no planejamento das Congregações religiosas,seja no programa das comunidades eclesiais. No máximo – repito, no máximo! – é uma atividade agendada uma ou duas vezes por ano!
Ouvi muitas vezes a queixa de colegas: “Mas por quê somos sempre nós, os católicos, que devemos tomar a iniciativa e propor a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos?” Comecemos por notar que isso não é verdade, pois o movimento ecumênico nasceu no âmbito das Igrejas reformadas e, por muito tempo, só vigorou no meio delas... A contragosto e só depois de muito tempo a iniciativa foi acolhida no meio católico.
Efetivamente, vivemos tranquilamente como se não tivéssemos necessidade da comunhão com as demais Igrejas cristãs. Em nossas paróquias e comunidades religiosas ignoramos olimpicamente que a divisão dos cristãos contraria a vontade de Cristo, é um escândalo para o mundo e prejudica a evangelização. Fazemos ouvidos de mercador ao apelo a participar ativamente do trabalho ecumênico. Ou o Concílio teria se enganado ou exagerado?!
Não só fazemos pouco caso do escândalo da divisão como, não poucas vezes, colocamos lenha na fogueira, fazendo comentários pouco lisonjeiros e até violentamente condenatórios às demais Igrejas. Certo, elas têm lá suas contradições... Mas, e a Igreja católica?! Não precisamos fazer um elenco dos horrores cometidos historicamente em nome de Cristo ou do Papa. Basta um olhar crítico sobre as nossas contradições e desvios de hoje...
Quanto tempo deveremos ainda esperar para que a sede de comunhão e unidade entre de cheio na nossa espiritualidade, faça parte do nosso processo formativo e ocupe um lugar relevante na agenda das nossas dioceses e paróquias?
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário