Nestes dias em que temos a oportunidade e a obrigação de fazer memória do significado histórico, antropológico e social da mulher na sociedade e na Igreja, assim como da discriminação e da violência de que foram e continuam sendo vítimas, recolho e publico breves biografias de mulheres que, entre tantas outras igualmente anônimas, merecem ser lembradas. Todos estes recortes biográficos estão no livro Espelhos, de Eduardo Galeano (L&PM Editores, Porto Alegre, 2008), que recomendo vivamente, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.
Phoolan
Phoolan Devi teve a má idéia de nascer pobre e mulher, e numa das castas mais baixas da Índia. Em 1947, aos onze anos de idade, seus pais a casaram com um senhor de casta não tão baixa, e deram a ele uma vaca como dote.
Como Phoolan ignorava os deveres conjugais, seu marido a instruía torturando-a e violando-a. E quando fugiu, ele a denunciou, e os policiais a torturaram e violaram. E quando voltou às sua aldeia, o boi, seu boi, foi o único que não a acusou de ser impura.
E ela foi embora. E conheceu um ladrão de frondoso prontuário, e esse foi o único homem que perguntou se ela tinha frio e se sentia bem.
Seu amante ladrão caiu crivado de balas na aldeia de Behmai, e ela foi arrastada pelas ruas e torturada e violada por vários donos de terras. E algum tempo depois, Phoolan voltou a Behmai, em plena noite, e à frente de um bando de foragidos procurou aqueles homens, de casa em casa, e encontrou vinte e dois, e os acordou, um por um, e os matou.
Naquela época, Phoolan Devi tinha dezoito anos. Toda a região banhada pelo rio Yamuna sabia que ela era filha da deusa Durga, bela e violenta como a mãe. (p. 294)
Um comentário:
AA sequencia de fatos reais no blog foi a mais linda homenagem que poderia ter feito às mulheres. Partilhei no face e muitas pessoas tiveram a oportunidade de ler esses textos lindos de Galeano no blog maravilhoso que vem criando com tanto talento!Um abraço com os parabéns pelo blog amigo querido!
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