Desfazendo mitos eleitoreiros
Mais uma vez nos encontramos em
período eleitoral. E nesta época sempre aparecem os “mitos”, uma vez que os
brasileiros costumam discutir política não com a razão, mas com a emoção, com a
mesma paixão que discutem futebol nos botequins das esquinas. Neste período,
assim como acontece na discussão sobre futebol, aparecem 200 milhões de
“cientistas políticos”, cada um pretendendo arrogantemente entender de política
mais do que os outros.
Não se trata de não colocar paixão na
reflexão de um tema que permeia toda a vida da nação e afeta cada um de nós
brasileiros. Como já dizia o poeta e dramaturgo alemão, Bertold Brecht, tudo em
nossa vida depende da política: a comida, o transporte, a educação, a saúde, a
roupa, o calçado etc. etc. Que bom seria que em todos os espaços, em todos os
lugares, em todos os ambientes se discutisse com muita seriedade o tema da
política. Mas a questão está exatamente na forma como discutimos. De um modo
geral fazemos isso sem consciência crítica, sem discernimento e sem nem mesmo
saber do que estamos falando. Vamos muito pelo que diz a grande mídia,
envolvida e totalmente comprometida com a elite e a burguesia brasileira, as
quais querem manter seus privilégios às custas do sacrifício da maioria da
população brasileira. Para defender os interesses dos poderosos, a grande
mídia, geralmente controlada por eles, inventa e divulga alguns “mitos” que
terminam confundindo a cabeça do eleitor desavisado, levando a acreditar e a
votar exatamente em quem ele nunca deveria crer e votar. Vejamos agora alguns
dos “mitos” inventados pela nossa mídia.
O primeiro deles é passar a impressão
de que um candidato “ficha limpa” é um anjo, alguém sem nenhum defeito,
sem nenhuma mácula. Ora, isso, além de ser falso, é irreal. Há milênios as
grande culturas e as grandes experiências religiosas detectaram que “todo homem
é mentiroso, todo homem”. Não há, pois, candidatos genuinamente puros,
totalmente revestidos de uma lisura ímpar. Quem ainda acredita nisso é um
iludido, é um idiota que não se dá conta da realidade concreta do ser humano.
Como já diziam os grandes filósofos gregos, em cada um de nós habita pelo menos
um anjo e um demônio. Pensar que há alguém desprovido de seu lado demoníaco é
pura idiotice. O que resta fazer, então? É procurar pessoas, candidatos
equilibrados, ou seja, pessoas nas quais o lado demoníaco não prevaleça. E como
isso dá trabalho e as pessoas se recusam a fazer como Zaratustra, o personagem
de Nietsche, saindo pelas ruas com uma tocha acesa, em pleno dia claro, à
procura desses candidatos equilibrados, terminam por aderir e votar nos que
aparentam ser totalmente anjos. Aliás, uma das artimanhas dos demônios é
exatamente criar a ilusão de que eles são anjos puríssimos. E com o marketing
em alta, isso é possível ser feito sem maiores problemas.
Um segundo “mito”, também
criado intencionalmente pela mídia “golpista”, é pensar e
acreditar que “todo político é igual”, que “todos os partidos políticos são
iguais”. E isso não só é falso como é profundamente enganador. No Brasil
existem partidos políticos cujos programas estão totalmente voltados para os
interesses das elites brasileiras. O passado destes partidos, as figuras que os
compõem hoje, representam o que há de mais nojento na política
brasileira. Pode-se dizer, sem medo de errar, que esses partidos hoje são bem
representados pelo PSDB, pelo DEM e pelos partidos nanicos que gravitam em
torno deles e a eles são subservientes. Todo eleitor crítico, consciente,
ciente não vota nestes partidos. Mas há ainda bons partidos e bons políticos,
cujos programas são sérios e bem significativos para o país. Mas devido ao
assédio da mídia corrupta estes partidos e essas pessoas terminam permanecendo
na penumbra ou sendo totalmente ignorados.
Outro “mito” que afeta a política
brasileira é pensar que a solução de todos os problemas do país passa pela
eleição do poder executivo. Assim, se elegermos o presidente da
República, o governador do Estado e o prefeito do município, todas as questões
serão resolvidas num toque de mágica. Esse mito está tão impregnado em nossa
cultura política que, neste período eleitoral, se fazem somente debates
públicos com os candidatos ao executivo. Deixamos de lado e não nos importamos
com a eleição dos membros do poder legislativo. Estes, porém, são aqueles que
fazem as leis e porque não há debate sério sobre eles, as pessoas terminam
votando em elementos não comprometidos com o bem público. Basta dar uma olhada
na atual bancada da Câmara e do Senado para perceber que a maioria dos que lá
estão não poderia e nem deveria ter sido eleita.
Recentemente as elites, com o apoio
da mídia a elas subservientes, criaram outro “mito”: o de que o Partido
dos Trabalhadores (PT) é o único partido corrupto do Brasil. Tiveram a
ajuda de um Judiciário parcial, que usando métodos questionados por eminentes
juristas, tudo fizeram para massacrar algumas figuras do PT. Não se defende
aqui a inocência dos membros do PT que foram acusados e condenados. O que se
questiona é o fato de que a mídia e o Judiciário não tenham usado da mesmaseveridade com
outros partidos e outros políticos. Por que, por exemplo, não puniram com o
mesmo rigor o PSDB, envolvido até o pescoço na lama da privataria
tucana e noescândalo do metrô de São Paulo, cujas empresas
ligadas ao dito escândalo continuam descaradamente patrocinando as campanhas
dos candidatos suspeitos? Por que os políticos da “Caixa de Pandora” do
Distrito Federal, pegos repartindo polpudas propinas, continuam impunes até
agora? Alguns deles inclusive concorrendo, no momento, a cargos políticos ou
obrigados a renunciar por serem “fichas sujas”, mais porcos do que “pau de
galinheiro”. Percebe-se, então, que tudo não passou de uma armadilha, com o
objetivo explícito de desviar a atenção dos verdadeiros corruptos. O próprio
Ministério Público, por exemplo, não quis “cortar na própria carne”. Deixou
impune até agora um dos seus membros, o ex-senador Demóstenes Torres, moleque
de recado do bandido Carlinhos Cachoeira no Senado. Não se pode acreditar na
seriedade de um poder judiciário que prende “ladrões de galinha” e deixa solto
este tipo bandido de alta periculosidade para o povo, para a nação e para o
país. Este tipo de judiciário já perdeu por completo a sua credibilidade juntos
às pessoas sérias, dotadas de cérebro pensante e que raciocinam com espírito
crítico.
Por fim um outro mito: a do messianismo
político, ou seja, da figura do salvador da pátria. De repente, no cenário
político, surge alguém com ideias mirabolantes, com a história de única
alternativa possível, teatralizando, como sendo a salvação da pátria. E boa
parte dos brasileiros fica encantada com o discurso bonito, com o espetáculo
teatral bem montado, e se deixa enganar. Não percebe que se trata de alguém que
não traz nenhuma novidade concreta. Pegou carona com outros partidos,
aproveitou-se do espaço que lhe foi dado, comportou-se de maneira desleal com
os seus aliados de outrora, e, de repente, se apresenta como a grande
alternativa. Mas basta prestar atenção para se ver que, na prática, não há nada
de novo. Mesmo porque os grandes problemas da nação não se resolvem nos
palanques e com palavrórios bonitos dos programas políticos.
Portanto, se queremos votar bem temos
que desfazer todos esses “mitos”, refletir com seriedade,
usando a razão e não apenas a emoção. Há candidatos sérios, comprometidos com o
bem comum. Temos que nos dar ao trabalho de procurá-los e de encontrá-los.
Temos que recusar veementemente os “clichês” fabricados pela grande mídia.
Temos que nos reunir para conversar, deixando de lado paixões desenfreadas,
guiando-nos pela lógica, pela objetividade e pela racionalidade. Do contrário
seremos apenas marionetes e terminaremos por votar em quem nunca deveríamos
votar. Mas para fazer tudo isso temos que agir com humildade,
escutando os outros, aprendendo com os outros e com a história e até abrindo
mão de visões deturpadas, parciais, que até então carregávamos conosco. Convém
jamais esquecer de que, na prática, a teoria é outra, especialmente
na política. Quem chega com ideias mirabolantes, com chavões ultrapassados,
fazendo teatro para chamar a atenção sobre si, prometendo resolver tudo num
toque de mágica, é um mentiroso, um falso político, um hipócrita. Este sujeito
não merece a confiança do eleitor sério e honesto.
José Lisboa Moreira de Oliveira
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