Chamados/as a ser santos/as e irrepreensíveis,
no amor!
A
solenidade de hoje é uma festa da Igreja, a celebração da bondade e da
confiança de Deus numa uma mulher que vivia numa aldeia esquecida e suspeita. Maria,
uma moça íntegra, igual a muitas outras de uma aldeia insignificante e mestiça.
Ela representa a pobreza de todas as pessoas que, não podendo contar com as
próprias forças e poderes, abrem espaço para a ação de Deus. Deus a acolhe e
escolhe em sua pobreza, confia-lhe uma grande missão, e promete estar ao lado
dela.
Diante
do anúncio do anjo, a atitude de Maria é de atenção, reflexão e prontidão. Atenção
ao que o mensageiro enviado por Deus anuncia: Deus se encantou com sua
graciosidade. Reflexão que a leva a questionar para entender o alcance e as
consequências dessa escolha e da missão que ela implica: como isso vai se
realizar? Prontidão para engajar-se plenamente no projeto de Deus, não obstantes
sua pequenez e sua fragilidade: sou uma servidora, conte comigo!
A
virgindade que o evangelista atribui a Maria significa mais que um dado biológico
ou genital. A virgindade de Maria significa pobreza, integridade e total
disponibilidade ao convite de Deus, sem interpor a ele seus desejos e seus
projetos; significa abertura potência geradora e emancipadora de Deus;
significa acolhida da sombra luminosa que protege e guia no caminho de saída de
si mesma para acompanhar o povo que peregrina pelo deserto.
Na
cena do evangelho de hoje, na figura materna e fraterna de Maria, está
sinalizado claramente o dinamismo que caracteriza os votos das pessoas que se
consagram ao seguimento de Jesus Cristo: a
Pobreza, como consciência da própria fraqueza de meios e da riqueza
incomparável do Reino de Deus; a Castidade, como disponibilidade íntegra e
permanente para acolher o mistério de Deus sem manipulá-lo; a Obediência, como
disposição para ajudar Deus na sua missão de acolher e salvar, sem interpor
nenhuma reserva ou interesse pessoal.
É
claro que esse dinamismo divino que estrutura e orienta os votos não é
exclusividade dos religiosos e religiosas. Maria é esposa e mãe, e não uma
freira ou uma monja dedicada exclusivamente às coisas da religião. O que Maria
vive e testemunha é acessível a todos os cristãos, homens e mulheres,
discípulos missionários, em seus diversos estados de vida. A vocação à vida
consagrada não está acima ou fora da comunidade eclesial, mas dentro dela e a
serviço dela. Todos/as somos escolhidos para sermos filhas e filhos adotivos, “santos
e irrepreensíveis sob o seu olhar no amor”.
O
problema de Adão e Eva foi ceder ao desejo de ocupar o lugar de Deus; colocar-se
acima de todos, abandonar o caminho da vida frágil e humilde; decidir o que é
bom e o que é mau a partir dos próprios interesses; livrar-se da
responsabilidade por essa escolha, colocando a culpa nos outros. O fruto
proibido às pessoas que se consagram a Deus não é a amizade intensa e humana com
homens e mulheres; não é consentir responsavelmente com o chamado à sadia
liberdade e autonomia; não é administrar a parte dos bens comuns que lhe cabem
sem depredar a natureza e defraudar ninguém.
O
que hoje nos afasta de Deus e nos faz rastejar como serpentes, é deixar-nos
morder pelo clericalismo, colocar-se acima dos outros, como se fôssemos professores
e patrões e não aprendizes e irmãos; estender a mão para o individualismo que
nos faz indiferentes a tudo e a todos, obcecados pelos interesses e satisfações
fugazes de cada momento; a apropriação exclusiva e violenta dos bens que estão
a serviço do bem-estar de todos, cedendo a um consumismo perverso que nos
consome e nos leva a tratar a tudo e a todos como coisas descartáveis; a
relação com com a comunidade, sem dar nada de nós e do nosso tempo e apenas
para satisfazer nossas carências, como se ela fosse um imenso e sempre
disponível seio materno a serviço de uma gula insaciável.
E
as armas que nos dão a possibilidade de ferir de morte a cabeça dessa serpente
que sempre quer tomar a dianteira e influir em nossas decisões, relações e
projetos são: o alimento diário da Palavra de Deus e da eucaristia; a escuta
atenta e inteligente daquilo que as gerações que nos antecederam e nossos
coirmãos de hoje nos ensinam; a perseverança no caminho diário de conversão a
Jesus e ao seu Evangelho; o serviço solidário e generoso à comunidade e às
pessoas mais vulneráveis. Como Maria, dizemos: “Somos servidores/as. Que a tua
Palavra se cumpra em nós!”
Itacir
Brassiani msf
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