SEM CAMINHOS PARA DEUS
São muitas pessoas
que não são crentes nem descrentes. Simplesmente se instalaram numa forma de
vida em que não pode surgir a questão do sentido último da existência. Mais do
que de não crença, devíamos falar, nestes casos, de uma falta de condições
indispensáveis para que a pessoa possa adotar uma postura crente ou descrente.
São homens e
mulheres que carecem de uma infraestrutura interior. O seu estilo de vida
impede-os de entrar em contato um pouco profundo consigo mesmos. Nunca se
aproximam do fundo do seu ser. Não são capazes de escutar as perguntas que
surgem desde o seu interior. Para adotar uma posição responsável ante o
mistério da vida é indispensável chegar até ao fundo de si mesmo, ser sincero e
abrir-se à vida honestamente até ao fim.
Será que, por
detrás da crise religiosa de muitas pessoas, não se encerra com frequência uma
crise anterior? Se tantas parecem afastar-se hoje de Deus, não é porque antes
se afastaram de si mesmas e se instalaram num nível de existência onde Deus já
não pode ser ouvido? Quando alguém se contenta com um bem-estar feito de
coisas, e o seu coração está preso apenas por preocupações de ordem material,
pode lucidamente perguntar-se por Deus?
Quando uma pessoa
procura sempre satisfação imediata e o prazer a qualquer preço, pode abrir-se
com profundidade ao mistério último da existência? Quando vive privada de
interioridade, esforçando-se por aparentar uma determinada imagem de si mesma
diante dos outros, uma pessoa pode pensar sinceramente no sentido último da
vida? Quando uma pessoa vive sempre virada para o exterior, perdendo-se nas mil
formas de evasão e divertimento que esta sociedade oferece, pode realmente
encontrar-se consigo mesma e perguntar-se sobre o seu último destino?
«Preparai o
caminho para o Senhor». Este grito de João Batista não perdeu atualidade. Quer
estejamos conscientes disso ou não, Deus está sempre vindo a nós. Podemos de
novo encontrar-nos com ele. A fé pode ser despertada novamente nos nossos
corações. A primeira coisa que necessitamos é encontrarmo-nos com nós mesmos
com mais profundidade e sinceridade.
José
Antonio Pagola
Tradução
de Antonio Manuel Álvarez Perez
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