Na manjedoura, a Palavra e a Vida nos saúdam
e convocam.
A Palavra de Deus se faz
carne e vem morar entre nós. O Poder de Deus se faz fragilidade e nos consola
em nossos insuperáveis limites. A Promessa de Deus se faz acontecimento e dá
fundamento à nossa esperança. Deus abandona para sempre os palácios da
inacessibilidade e se aproxima do humano ser. Assumindo a história e suas
tensões, Deus se revela boa notícia a ser acolhida com fé e anunciada com os
pés, com as mãos, com o corpo inteiro. Aquilo que estava encoberto é dado à
plena luz, aquilo que era esperado bate à nossa porta e pede acolhida.
Tudo isso se condensa no
lugar onde os animais buscavam alimento, na mesa na qual Jesus se repartiu e entregou
sacramentalmente, na cruz onde ele radicalizou a doação de si mesmo e selou a
aliança de Deus com a humanidade. Em Jesus, Menino e Profeta, a lei do mais
forte e mais esperto perdeu sua legitimidade, e nos é dada graça sobre graça,
pois a verdade deixou de ser veredicto que condena. Nele o que fora promessa
fez-se palpável e adquiriu glória e esplendor. E continua deixando-se ver e
encontrar quando os pequenos que padecem acreditam nos pequenos.
Pouco nos importam os pés
de Messi e Cristiano Ronaldo, de Neymar e de Mbapee. São irrelevantes o
faturamento do comércio e o estrondo dos fogos. Sozinhos ou em família, nas
redes sociais ou nos templos, proclamamos com o profeta: Benditos e belos são
os pés dos homens e mulheres que sobem montanhas e descem abismos, percorrem
estradas e atravessam mares, levando a todas as criaturas essa boa notícia!
Belos e benditos são os pés dos/as discípulos/as que partem de Belém!
Belos e benditos são os pés
e os passos de Maria, que não ficou dando voltas em torno de si mesma e de seus
possíveis méritos. Belos e benditos são os pés de quem, acolhendo o
entendimento do velho Zacarias, deixa-se iluminar pelo Sol da Justiça e permite
que ele dirija seus passos nos caminhos da paz. Benditos e belos são os pés dos
missionários que também hoje partem e se tornam o próximo de muitos! Diante do
alegre anúncio até os sisudos guardas, habituados a vigiar e punir, exultam e
cantam; e as cidades, aldeias e acampamentos em ruínas ensaiam passos de uma
dança que até então lhes parecia impossível.
Em Nazaré e em Belém, na
Galileia e em Jerusalém, o Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas
as nações. No espaço doméstico e menosprezado da casa de Isabel, contemplando
as marcas da ação misericordiosa de Deus no velho corpo de Isabel e no seu
próprio e jovem corpo, Maria proclama exultante que Deus mostra o poder do seu
braço dispersando os orgulhosos, derrubando os poderosos e exaltando os
humildes. Zacarias confirma que, graças às mãos misericordiosas de Deus, fomos
salvos e libertos dos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam.
No Menino Deus,
despojadamente aninhado na manjedoura, cercado por pessoas que não evitam os
ambientes miseráveis como o são as grutas e estábulos, Deus se faz corpo e
carne falante e brilhante, palavra encarnada, silente e eloquente, e lança luz
e revela a verdade de todo ser humano: somos desde sempre amados/as e queridos/as
por Deus, e toda a humana ação é ação de Deus, assim como o descaso ou a
agressão à pessoa humana é indiferença e agressão ao próprio Deus.
No amável mistério do
Natal, somos introduzidos/as no dinamismo do reinado de Deus, do corpo que se
faz notícia boa, que luta e serve, que abraça e aquece, que estremece de medo e
de alegria, que se reparte em mil pedaços para se reunificar na divina
compaixão. A Palavra vem para quem a ela pertence, e nós queremos acolhê-la, em
toda a sua beleza e profundidade. Precisamos deter-nos diante dela, da Palavra
revestida de pobres panos, para contemplar e compreender a glória de Deus que
nela brilha. Nela resplandece a proximidade e a condescendência de Deus.
Deus
despojado, Deus próximo, Deus amável! Dobrando os joelhos diante do mistério da
encarnação do teu Filho, adorando o inefável mistério do teu amor sem limites,
pedimos confiantes e engajados/as: descruza nossos braços, para que participemos
da tua ação que liberta os oprimidos; move nossos passos, para que levem a Boa
Notícia da encarnação a todas as pessoas; imprime tua Palavra em todas as
nossas células, ações e projetos, para que sustentemos as melhores lutas e
embalemos o novo mundo na força da tua Palavra. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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