quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (266)

267 | Ano B | Festa da Cátedra de São Pedro | Mateus 16,13-19

22/02/2024

O livro dos Atos dos Apóstolos nos lembra que Pedro, nosso ‘primeiro Papa’, foi presidiário! As chaves prometidas por Jesus Cristo não serviram para abrir as algemas e a porta que prenderam Pedro! Depois de ter sido um fariseu zeloso e violento, e acumulado muitos méritos e honras por causa disso, Paulo foi conquistado por Jesus Cristo e, como muitos outros da sua geração, foi denunciado, perseguido, encarcerado e finalmente executado. Ele assimilou o que Jesus dissera ao enviar os Doze: “Não tenham medo de nada!”

Pedro e Paulo eram membros de comunidades cristãs, e o vínculo entre a comunidade e seus líderes presos se mostra de um modo comovente no relato dos Atos dos Apóstolos. “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente por ele.” Quando Pedro e João haviam sido liberados da prisão, a comunidade pedia em oração: “Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem, e concede que teus servos anunciem corajosamente a tua Palavra” (At 4,29). Diante da perseguição, as comunidades pedem coragem, e não tranquilidade.

Jesus faz uma pergunta decisiva aos discípulos: “Quem sou eu para vocês?” Esta é a primeira vez que um discípulo o reconhece e proclama Messias. Porém, mesmo sem rejeitar a confissão de Pedro e dos demais discípulos, Jesus prefere falar de si mesmo como Filho do Homem, e não como Filho de Deus (cf. Mt 11,19; 12,8; 12,32), acentuando assim seus vínculos com a humanidade. Isso significa que somente quem está aberto e sintonizado com a lógica e a vontade de Deus pode reconhecer a presença de Deus nas ações e palavras deste filho da humanidade e irmão de todos os seres humanos. Esta é a base sólida sobre a qual Jesus Cristo constrói a comunidade cristã, literalmente, a assembleia dos chamados, e contra a qual nada prevalece.  

Crer, confiar, partilhar e anunciar: estes são os verbos essenciais da gramática vital dos cristãos. Só chega à meta da caminhada de discípulo/a missionário/a quem conjuga estes verbos em todos os tempos, modos e pessoas. É nesta perspectiva que, escrevendo a Timóteo na cela da prisão, Paulo faz um balanço de sua vida e suas palavras são eloquentes e comoventes: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.”

                                                                      

Meditação:

ü  Procure afastar-se das respostas e doutrinas aprendidas, e responda à pergunta de Jesus, descrevendo o lugar que ele ocupa na sua vida, e como ele influi nas suas relações, ações e opções, grandes ou pequenas

ü  Recorde as consequências que esta resposta de Pedro tem na vida dele, de Paulo e dos/as discípulos/as que vieram depois deles

ü  Deixe ressoar em você a palavra de Jesus: “Feliz és tu, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai!”

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (265)

265 | Ano B | 1ª Semana da Quaresma | Quarta | Lucas 11,29-32

21/02/2024

A missão de Jesus não era aceita com unanimidade, pois provocava muitas controvérsias. Algumas lideranças diziam que, para curar doentes e possessos, Jesus havia feito uma aliança com a Diabo. Ele se defendia com ações, com sólidos argumentos e recorrendo a parábolas. Alguém elogiou a mãe dele por ter trazido ao mundo alguém tão especial, que falava com tanta sabedoria e ensinava com inequívoco amor, e Jesus reage afirmando que a verdadeira honra pertence a quem ouvem e praticam a Palavra de Deus.

Diante rejeição e do fechamento das pessoas, especialmente dos líderes religiosos, à Boa Notícia do Reino de Deus, e diante do insistente pedido para que apresentasse suas credenciais de enviado de Deus realizando sinais capazes de impressionar, Jesus declara: “Esta geração é uma geração perversa”. E se recusa a transformar o Reino de Deus em espetáculo operando sinais grandiosos.

Jesus diz que o sinal do profeta Jonas continua em vigor, e vale para os seus interlocutores: um apelo forte à mudança de atitudes e de interesses, voltando-se de coração a Deus e à sua vontade, e servindo ao próximo e suas necessidades. E mais ainda: Jesus apresenta a si mesmo como sinal, de modo que aqueles/as que não reconhecem na sua compaixão pelos vulneráveis o sinal da ação de Deus estão fechando os olhos e dando as costas a Deus.

Numa postura claramente provocativa, Jesus afirma que os “piedosos” judeus que o rejeitam são piores que os pagãos que eles tanto desprezam. Enquanto uma rainha pagã reconheceu a sabedoria de Salomão, e o povo pagão de Nínive aceitou a pregação de Jonas, eles, em nome de uma limitada imagem de Deus, desprezam o Filho do Homem, que é maior que Salomão e que Jonas.

Precisamos aprender que Deus ama manifestar-se de modo discreto, com sinais pequenos, mas eloquentes, e até na contramão das avenidas iluminadas e mais transitadas: na compaixão pelos pequenos, na doação de si mesmo, na comunhão com os últimos, na acolhida e no perdão aos pecadores/as, na morte na cruz. A conversão ao Reino de Deus precede qualquer milagre.

                                                                      

Meditação:

ü  Será que estamos sendo capazes de acolher e valorizar os gestos e iniciativas humanitárias de gente de outros grupos e religiões?

ü  Poderíamos afirmar sem medo de errar que temos levado sempre a sério a nossa conversão ao Evangelho do Reino de Deus?

ü  Somos capazes de identificar na compaixão transformadora e amorosa de Jesus o sinal mais eloquente de sua divindade?

ü  Ou ainda somos tentados a pedir e esperar sinais espetaculares de Deus para mudar as coisas que estão ruins?

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (264)

264 | Ano B | 1ª Semana da Quaresma | Terça | Mateus 6,7-15

20/02/2024

As comunidades cristãs, aprenderam e ensinaram, desde sempre, que a oração, junto com a partilha de bens e do jejum, é uma das formas mais expressivas de viver a quaresma e preparar a páscoa. Jesus supõe a oração como óbvia para quem acredita em Deus. Daí que, falando de oração, Jesus chama a atenção para as atitudes equivocadas na oração, e indica o caminho da oração cristã.

O texto de hoje está inserido na primeira grande catequese de Jesus segundo o evangelho de Mateus, conhecido como “Sermão da Montanha” (Mt 5,1-7,29), e foi omitido na quarta-feira de cinzas. E a primeira advertência de Jesus em relação à oração é não multiplicar louvores e pedidos vazios. Hoje parece que se tornou moda promover encontros de oração massivos e barulhentos, multiplicar Ave-Marias e prolongar tardes de louvor e orações de intercessão.

Em seguida, Jesus aponta para a atitude de base a ser cultivada na oração: a discrição e a dispensa de toda forma de espetacularização. Mandando “entrar no seu quarto”, Jesus não está falando do lugar adequado ou exclusivo para rezar, mas sublinha a necessidade de evitar a publicidade de rezar colocando nossa atenção mais na impressão que causa nos outros que em Deus.

Finalmente, Jesus fala do conteúdo essencial da oração cristã, mas não ensina uma oração a mais. Na primeira parte, ele põe a ênfase no compromisso e na ação: santificar o nome de Deus, ou aceitar que Deus não seja o espelho dos nossos egoísmos, mas faça justiça às vítimas; agir para que o reino de Deus venha a nós com sua força demolidora dos muros que separam e opõem; que pratiquemos a vontade de Deus (que todos os seus filhos e filhas tenham vida em abundância) em todos os tempos e lugares

Na segunda parte da oração cristã, Jesus nos ensina a pedir a Deus aquilo que é realmente essencial à nossa convivência: o alimento necessário à vida cotidiana e comum; o perdão, que desfaz muros e reata relações rompidas; a liberdade diante das pessoas e estruturas que resistem e se opõem ao Reino de Deus. O resto deve ser fruto do essencial, e nos vem por acréscimo.

                                                                      

Meditação:

ü  Leia atentamente, palavra por palavra, a advertência e o ensino de Jesus sobre a atitude e o conteúdo da oração cristã

ü  Que lugar a oração (e a celebração) ocupa na sua vida, na vida da sua família e da sua comunidade cristã?

ü  Quais são os pedidos (e os agradecimentos) que retomamos mais amiúde em nossa oração pessoal, familiar e comunitária?

ü  Em que medida o desejo de que a vontade do Pai e a ação transformadora do seu Reino ocupam o centro da nossa oração?

domingo, 18 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (263)

263 | Ano B | 1ª Semana da Quaresma | Segunda | Mateus 25,31-46

19/02/2024

Esta parábola faz parte dos ‘discursos escatológicos’ de Jesus. É uma catequese que nos leva imaginariamente ao fim dos tempos para destacar o que realmente tem valor no percurso da história. É claro que, dizendo que o Filho do Homem virá ‘na sua glória’ e se sentará em seu ‘trono glorioso’, Mateus está comparando Jesus a um rei. A expressão ‘Senhor’ também tem o mesmo sentido, pois esse era o apelativo com o qual o povo se dirigia aos chefes, reis e imperadores. Meditemos o texto em perspectiva quaresmal.

Esta parábola aproxima Jesus da imagem do juiz. “Todos os povos serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos”. Julgar significa aqui discernir o verdadeiro valor das ações concretas das pessoas, separadas em dois grupos, a partir daquilo que fizeram, e não a partir dos títulos ou das meras intenções. Mas é interessante perceber que, mesmo no papel de juiz, Jesus age como pastor.  Por isso, a solenidade de Cristo Rei vai de mãos dadas com a imagem do Bom Pastor, de Jesus servidor da humanidade.

Não podemos esquecer que Jesus decidiu sentar-se à mesa como conviva dos pecadores, e não como juiz na mesa de um tribunal. Sua vida comprova que ele foi ao encontro dos marginalizados e assumiu a causa deles. Não os esperou sentado na cadeira dos juízes! João Batista o anuncia como ‘cordeiro de Deus’, como aquele que dá a vida em resgate por muitos. E no confronto com as autoridades do seu tempo e com as ambições de poder dos próprios discípulos, o próprio Jesus declara: “Eu estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27). Viver o espírito quaresmal pede que nos coloquemos na perspectiva de quem serve, dando o melhor de nós pelos irmãos e irmãs.

O mais importante, porém, está um pouco escondido nessa instigante parábola. Diante da pergunta sobre quando o servimos, ele responde: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram...” Jesus é filho da humanidade, irmão dos homens e mulheres mais necessitados, irmão daqueles que passam fome e sede, dos migrantes e doentes, dos pobres e presidiários. Um cristão não pode passar ao largo das necessidades do próximo, pois estaria deixando de lado o próprio Cristo.

                                                                      

Meditação:

ü  Leia atentamente, palavra por palavra, e contemple gesto por gesto esta memorável parábola de Jesus

ü  Escute atentamente as perguntas dos dois grupos de personagens e as palavras do juiz

ü  Em qual dos dois grupos você pode se situar, honestamente? Quais suas atitudes e ações que justificam essa identificação?

ü  Como essa parábola nos ajuda a construir uma fraternidade sem fronteiras?

sábado, 17 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (262)

262 | Ano B | 1ª Semana da Quaresma | Domingo | Marcos 1,12-15

18/02/2024

Logo depois do batismo, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto. É como se ele se retirasse do palco para aprofundar o sentido da missão recebida no batismo, confrontando-se consigo mesmo e com as diversas possibilidades de viver sua condição de filho amado do Pai e servo da humanidade.

Jesus faz a experiência das tentações que costumam rondar todos aqueles/as que se comprometem com o serviço a Deus: a tentação das soluções miraculosas e espetaculares; a tentação do legalismo e do casuísmo para beneficiar apenas algumas pessoas; a tentação de disputar o poder e agir com meios poderosos; a tentação de identificar a vontade de Deus com os próprios medos e interesses. É assim que ele foi clareando o núcleo do Evangelho e os meios para colocá-lo em ação.

O amadurecimento na fé costuma se oferecer na discrição, no silêncio e na margem, longe da publicidade. E este é o espírito da quaresma: sair do centro das atenções, deixar de lado os papéis decorados, sair da periferia de nós mesmos, penetrar no núcleo mais secreto do nosso ser, crescer na adesão a Jesus. O deserto é o alugar no qual não podemos contar com o apoio de nada.

O anúncio que Jesus acolheu, aprofundou e reformulou no deserto não contém ameaças nem imposições. É pura Boa Notícia vinda de Deus, e não de algum poderoso de plantão. É o tempo da graça do Senhor, da assinatura de um novo pacto com seus filhos e filhas, qualquer que seja sua pertença religiosa, política ou de gênero. Esse é o núcleo da evangelização de Jesus e nossa. Por isso, é impossível não desconfiar daqueles/as que divulgam notícias falsas e, usando o nome de Jesus, atiçam a intolerância e o ódio.

Jesus percorre caminhos que o levam do rio Jordão ao deserto e, do deserto, à Galileia. São caminhos que o afastam dos palcos e o aproximam da periferia. São estradas que o levam ao encontro do povo cansado e abatido, para anunciar-lhe a Boa Notícia do Reino de Deus, da renovação da aliança selada com Noé e com Moisés. Eis o rumo que seus discípulos e discípulas precisamos seguir com ousadia e perseverança.

                                                                           

Meditação:

ü  Leia atentamente, palavra por palavra, gesto por gesto esta breve cena das tentações e do início da missão de Jesus

ü  Quais são as principais tentações que rondam hoje os/as discípulos/as de Jesus e as comunidades cristãs?

ü  Qual é, em poucas palavras, o núcleo precioso do Evangelho que estamos anunciando e testemunhando às pessoas de hoje?

ü  Que atitudes pessoais e meios pastorais precisam ser mudados para que o Evangelho de Jesus Cristo seja corretamente proclamado hoje?

O Evangelho dominical (Pagola) - 18.02.2024

ESCUTAR O CHAMADO À CONVERSÃO

«Convertei-vos, pois está próximo o reino de Deus». O que podem dizer estas palavras a um homem ou mulher dos nossos dias? A ninguém atrai ouvir uma chamada à conversão. Imediatamente pensamos em algo custoso e desagradável: uma ruptura que nos levaria a uma vida pouco atraente e desejável, cheia apenas de sacrifícios e renúncias. É realmente assim?

Para começar, o verbo grego que se traduz por «converter» na verdade significa «pôr-se a pensar», «rever o foco da nossa vida», «reajustar a nossa perspectiva». As palavras de Jesus poderiam ser ouvidas assim: «Vede se não tendes de rever e reajustar algo na vossa maneira de pensar e de agir para que se cumpra em vós o projeto de Deus de uma vida mais humana».

Se isto é assim, o primeiro que há a rever é aquilo que bloqueia a nossa vida. Converter-se é «libertar a vida», eliminando medos, egoísmos, tensões e escravidões que nos impedem de crescer de forma saudável e harmoniosa. A conversão que não produz paz e alegria não é autêntica. Não nos está a aproximar do reino de Deus.

Temos então que verificar se estamos cuidando bem das raízes. As grandes decisões não servem de nada se não alimentamos as fontes. Não nos é pedido uma fé sublime nem uma vida perfeita, mas que vivamos confiando no amor que Deus nos tem. Converter-se não é empenhar-nos em ser santos, mas aprender a viver acolhendo o reino de Deus e a sua justiça. Só então poderá começar em nós uma verdadeira transformação.

A vida nunca é plenitude ou êxito total. Temos que aceitar o que está inacabado, o que nos humilha, o que não podemos corrigir. O importante é manter o desejo, não ceder ao desânimo. Converter-se não é viver sem pecado, mas aprender a viver do perdão, sem orgulho nem tristeza, sem alimentar a insatisfação com o que deveríamos ser e não somos. Assim diz o Senhor no livro de Isaías: «Pela conversão e pela calma sereis libertados» (30,15).

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (261)

261 | Ano B | Sábado depois das Cinzas | Lucas 5,27-32

17/02/2024

Estamos nos primeiros dias da Quaresma, tempo forte de conversão ao Evangelho de Jesus Cristo. A Campanha da Fraternidade, promovida pelo Conferência Nacional dos Bispo do Brasil convida todos/as a um empenho generoso e qualificado com a amizade ou amor social e solidário.

O episódio do evangelho de hoje ocorre depois da pesca abundante, do chamado dos primeiros discípulos e da cura de um leproso e de um paralítico conduzido a Jesus pelos seus amigos. Pedro havia dito a Jesus: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador”; o leproso dissera que era impuro e que Jesus, se quisesse, podia purifica-lo; e ao paralítico, Jesus declarara: “Filho, teus pecados estão perdoados”.

Também Levi e os demais cobradores de impostos eram tratados como pecadores e odiados como infames pelos radicais judeus. Mesmo assim, Jesus novamente desconhece as fronteiras e muros que separam e hierarquizam pessoas e povos, e chama um pecador suspeito e odiado a ser seu discípulo, sob a murmuração e a reprovação dos fariseus, que se autoconsideravam puros, justos e melhores. Não é por nada que um grande número de pecadores e outras pessoas se reuniram na casa de Levi para festejar alegremente com Jesus esta graça inesperada.

Pecador como Pedro, Levi é chamado e responde sem “se” nem “talvez”. Com Jesus, quem aceita o convite de Jesus e se torna seu discípulo/a derruba os muros erguidos pelo sistema de pureza, que classifica as pessoas entre puras e impuras, justas e pecadores. Jesus questiona e enfrenta essa separação, afirmando que, como o médico se ocupa dos doentes, veio para se ocupar dos pecadores, e não dos que se autoproclamam justos. Sua especialidade é ir ao encontro da ovelha perdida, buscar “os de fora”.

Hoje, o muro que nos separa é a ideologia da meritocracia, do nacionalismo, do machismo, do racismo, do status social, cultural e econômico. É ela que rotula e exclui dos bens e do prestígio social quem é diferente ou é visto como ameaça. É o medo do outro e do diferente que nos leva a construir muros.

                                                                           

Meditação:

ü  Leia atentamente, palavra por palavra, e contemple gesto por gesto esta cena memorável na casa de Levi/Mateus

ü  Perceba a alegria agradecida que aquelas pessoas resgatadas em sua dignidade transmitem, e alegre-se com elas

ü  Diante deste eloquente gesto de Jesus, porque alguns cristãos se escandalizam quando defendemos os marginalizados?

ü  Com qual dos grupos você, interiormente, se identifica: com os sadios, “bons” e justos; ou com os doentes, “maus” e pecadores?

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (260)

260 | Ano B | Sexta-feira depois das Cinzas | Mateus 9,14-15

16/02/2024

No texto que meditamos na quarta-feira de cinzas Jesus já questionava a atitude que pode contaminar o jejum, a esmola e até a oração. E indicava a postura correta e capaz de manter o sentido profundo destas expressões de piedade. Hoje, depois de ser questionado pelos fariseus sobre seu desprezo do jejum, Jesus é interrogado pelos discípulos de João Batista sobre o mesmo tema: “Por que razão nós e os fariseus praticamos (muitos) jejuns, mas teus discípulos não?”

Este episódio do Evangelho, mesmo que pareça contradizer a recomendação da Igreja para o tempo da quaresma (jejum, oração e partilha), resgata o sentido original do jejum: romper com os mecanismos de dominação e de opressão, como ensina o profeta Isaías (cf. 58,1-9). É isso que Jesus faz e ensina: diversamente dos fariseus, ele acolhe e reintegra as pessoas oprimidas e marginalizadas à convivência social, proclamando sua dignidade.

No episódio que antecede o questionamento de hoje, Jesus chamara para junto de si um cobrador de impostos, terrivelmente odiado e desprezado pelos judeus; perdoou pessoas consideradas publicamente pecadoras; curou e reintegrou doentes. Para essa gente, o jejum que acompanha as situações dolorosas e a luta pelo reconhecimento da indignidade haviam chegado ao fim, e, diante de tamanha graça de Deus, não poderiam não festejar.

O ensino e as atitudes de Jesus desconcertam, mas, para ele, o jejum é luto, e a partilha à mesa é vida. Com Jesus e com o Reino de Deus, o clamor de dor se transforma em louvor e gratidão. Como “noivo” da Nova Aliança de Deus com seu povo, Jesus tem autoridade para relativizar ou mudar alguns preceitos, por mais sagrados que possam parecer.

Quando Jesus é “retirado” do meio de nós e volta a ser crucificado nos seus “irmãos mais pequeninos”, o jejum volta a fazer sentido: jejuaremos para que a festa da vida seja para todos; privar-nos-emos de algo para fazermo-nos dom, para partilhar, para lutar contra a opressão e pelo fim das guerras a partir de dentro de nós mesmos/as.

                                                                           

Meditação:

ü  Leia atentamente, palavra por palavra, estes dois versículos do evangelho segundo Mateus

ü  Se possível, leia também o episódio que antecede o trecho de hoje, a narração da refeição de Jesus na casa de Mateus (Mt 9,9-13)

ü  O que significa dizer que não podemos fazer jejum enquanto o noivo está conosco, mas somente quando ele nos for tirado?

ü  Por que o jejum encontra hoje tanta resistência entre nós, e qual seria o sentido aceitável e cristão do jejum?

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (259)

259 | Ano B | Quinta-feira depois das Cinzas | Lucas 9,22-25

15/02/2024

As cinzas que recebemos ontem reforçam o chamado contundente à conversão e à adesão ao Evangelho do Reino de Deus. Como todas as criaturas, os seres humanos somos vulneráveis, e a vida escapa ao nosso controle. Hoje, no segundo dia da quaresma, Jesus nos fala do seu caminho de encarnação radical na condição humana humilhada, e o propõe como regra de vida para aqueles que, crendo nele, seguem seu caminho.

Esta lição de Jesus no processo de formação dos discípulos/as ocorre num momento importante. Os discípulos são tentados/as a voltar atrás, e resistem à proposta de Jesus, têm dificuldades de mudar o modo de pensar e de agir. É nesse contexto que Jesus diz claramente quem ele é e a que veio, e, com a mesma clareza, fala que sua proposta e sua pessoa serão rejeitadas, perseguidas e eliminadas em nome da religião e dos bons costumes.

Estamos diante do “coração” da fé cristã: a realização do Reino de Deus, a construção da unidade num mundo polarizado e intolerante, passa pela doação da própria vida. É claro que Jesus não está falando de uma espécie de suicídio premeditado, nem de uma morte acidental. Ele diz que esse é o caminho de quem é enviado por Deus para ser um sinal inequívoco do seu amor por todas as pessoas, sem olhar para sua condição moral ou religiosa.

Mas Jesus não é um herói solitário, como aqueles dos filmes americanos, ou alguém que deve ser apenas admirado e imitado. Seu caminho é o caminho de toda pessoa que nele crê: o boicote, a perseguição e a exclusão por parte das elites que dominam. Para Jesus, a cruz, ou o dom radical de si mesmo, não representa um martírio espetacular e admirável, nem uma solução de emergência, mas a lógica predominante e permanente da fé.

Jesus coloca seus discípulos/as de ontem e de hoje diante de uma encruzilhada, e pede que escolhamos entre dois caminhos alternativos: focar antes de tudo em nossos interesses, salvar nossa vida a qualquer custo e viver mediocramente; doar nossa vida sem reservas pelos outros, acessando, assim, a uma vida plena e fecunda, que nada e ninguém pode aprisionar.

                                                                           

Meditação:

§  Leia atentamente, palavra por palavra, frase por frase, este ensino no qual Jesus apresenta o “miolo” do seu Evangelho

§  Se possível, leia também o episódio que antecede estas palavras (9,18-21), onde Jesus pergunta: “Quem vocês dizem que eu sou?”

§  O que significa propriamente salvar ou perder a própria vida? Como Jesus nos mostra isso no seu próprio modo de viver?

§  Por que continuamos vivendo preocupados/as apenas conosco mesmos/as, como se não tivéssemos nada a ver com os outros?

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (258)

258 | Ano B | Quarta-feira de Cinzas | Mateus 6,1-6.16-18

14/02/2024

É desconfortável constatar que a fraternidade precisa de uma campanha especial. Mas esta iniciativa da Igreja do Brasil tem ajudado as comunidades cristãs a viver o espírito quaresmal numa perspectiva comunitária e social. Neste ano, somos interpelados mais uma vez a abrir os olhos para urgência de uma fraternidade que vá além das fronteiras religiosas, nacionais, políticas, culturais e étnicas. Uma fraternidade social, ou uma amizade social.

O profeta Joel grita: “Voltai para mim com todo o vosso coração! Rasgai o coração e não as vestes! Voltai para o Senhor, vosso Deus! Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia!” E Jesus, recomenda: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça diante dos homens, só para serdes vistos por eles! Não façais como os hipócritas...” Até a oração, a esmola e o jejum, podem ser corrompida pelo desejo de causar boa impressão.

Jesus começa sua exortação catequética com uma advertência contundente: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente das pessoas, só para serdes vistos por elas!” Jesus não é ingênuo, e percebe que esta busca de evidência e relevância pode contaminar até aquilo que parece mais piedoso e religioso, como a partilha mediante a esmola, a oração e o jejum.

Jesus propõe um princípio geral e efetivo para evitar esse risco: evitar a busca do aplauso e da publicidade, deslocando o foco de nós mesmos e nossas instituições para Deus e o Outro. É isso que nos justifica! O resto é teatro e espetáculo para impressionar as pessoas incautas. O que vale todas as penas é a aprovação de Deus, que vê o que é discreto e secreto, aquilo que ninguém vê, aqueles/as que ninguém quer ver, reconhecer e valorizar.

Quando Jesus fala de “hipócritas”, está se referindo aos fariseus, pois se consideram melhores, puros e superiores a todos os outros. Sob a aparência de piedade e de fidelidade à lei de Deus, eles escondem, cultivam e praticam a exterioridade, a arrogância, a violência. Mas, falando assim, Jesus não se cansa de prevenir seus discípulos/as contra esta permanente tentação que nos ronda como pessoas que se consideram melhores e mais piedosas.

                                                                           

Meditação:

ü  O Brasil vive uma situação sombria de intolerância e polarização, de enfrentamentos desleais e difamantes entre diversos grupos

ü  Como viver a fé de forma dialogante, testemunhal e respeitosa neste contexto tão minado?

ü  Como viver o sentido cristão do jejum e da esmola numa sociedade regida pelo mercado e em meio a tanta gente que passa fome?

ü  Que destino você, sua família e sua comunidade podem dar aos alimentos não consumidos no dia de jejum e abstinência?