domingo, 16 de setembro de 2012

Festa de Nossa Senhora da Salette


Nossa Senhora da Salette, ou a beleza da solidariedade.

Nossa fé situa a figura de Maria no interior da Igreja, e não acima ou fora dela. Maria é a primeira que acreditou na Boa Notícia de Deus e que proclamou sua revolucionária intervenção na história. As inúmeras manifestações reconhecidas de Maria sublinham aspectos centrais da mensagem do seu Filho e reforçam a relevância da mensagem do Reino em momentos cruciais da história da humanidade. Assim foi em Fátima, Lourdes e também la Salette.
A situação – A França vivia um dos momentos difíceis e tensos de sua história. Corria o ano de 1840, e a revolução francesa não produzia os frutos que prometera. Alternavam-se governos republicanos e monárquicos. O acesso à escola e à cultura estava longe de ser universal. Alguns benefícios econômicos experimentados pelas elites não alcançavam o povo em geral, e os setores rurais continuavam prisioneiros da miséria e golpeados pelas doenças. Com sucessivas frustrações das safras agrícolas, a mortalidade infantil era bem mais que uma ameaça.
Um exemplo desta situação são os adolescentes Melânia e Maximino. Com 14 anos, Melânia trabalhava como pastora diarista, era praticamente analfabeta e não havia frequentado a catequese. Maximino era filho de um carroceiro de la Salette e, com 11 anos de idade, também era analfabeto e ignorante em mantéria religiosa, e trabalhava como peão diarista.
Os sinais – Os dois garotos mal se conheciam, embora suas famílias residissem na mesma região. No dia 19 de setembro de 1840 estes dois pequenos ‘bóias-frias’ conduziam ao pasto das montanhas do povoado de la Salette as vacas dos seus respectivos patrões. Levavam na bolsa apenas alguns pedaços de pão seco, e, nos ombros, o peso de uma infância roubada pelo trabalho.
Depois de terem consumido como almoço o pão umedicido na água de uma pequena fonte, Maximino e Melânia adormeceram estendidos na grama. Foram despertados por uma luz intensa que brilhava próximo à fonte. Fixando o olhar, viram no meio da luz uma mulher vestida como as agricultoras da região, sentada e com o rosto entre as mãos. Perceberam que a mulher chorava. Sua aparência era bela e suas lágrimas tinham um brilho luminoso. Uma luz mais forte ainda saía da cruz que ela trazia no peito. Essa luz banhava de beleza sua fisionomia dolorida.
A mensagem – Aquelas duas pobres crianças imaginaram que se tratasse de uma mulher golpeada pela endêmica violência doméstica (que golpeia mulheres ontem como hoje). Mas perceberam que ela os chamava: “Aproximem-se, meus filhos! Não tenham medo!” E a ‘Bela Senhora’ lhes explicou que chorava porque compartilhava a dor do seu Filho diante do sofrimento do povo cansado e humilhado como ovelhas sem pastor.
Aquela mulher, que parecia tanto mais bela quanto mais compartilhava suas dores, assegurou-lhes também que os sofrimentos dos pobres não eram impostos nem permitidos por seu Filho. Insistiu que Ele mantém seus braços estendidos para defender seus pobres dos males que lhes afligem.
Mas a “bela senhora”  disse também que, para que o sofrimento dos pobres seja amenizado, os homens e mulheres precisam se converter, mudando o próprio comportamento e as regras da sociedade. A origem da miséria e das doenças está no esquecimento e na recusa da vontade de Deus, que assegura a vida plena mediante o amor solidário. “Se houver conversão até as rochas se transformarão em montanhas de trigo e pão!”
Os mensageiros – A ‘Bela Senhora’, que derramava lágrimas de luz, se vestia como as mulheres pobres da região e falava o dialeto do povo, que assegurava a bondade de Deus para com seus pobres e pedia mudança de vida e das estruturas, confiou àaquelas duas crianças pobres e sem escola a transmissão desta Boa Notícia: “Meus filhos, anunciem isso a todo o povo!”
Maximino e Melânia levaram isso a sério, começando por suas próprias famílias. O pai de Maximino, homem seduzido pelas idéias liberais e afastado das práticas religiosas, não resistiu ao testemunho do filho agora transformado num missionário. E a Igreja, depois de um discernimento responsável, proclamou, em 1851, que esta manifestação apresentava todos os sinais de verdade.
A atualidade – Na manifestação de Maria em la Salette ressoam e brilham alguns elementos essenciais e atuais da fé cristã: Deus e sua Mãe estão profunda e solidariamente envolvidos com os sofrimentos concretos do povo; Deus não age como quem pune com sofrimentos, mas como quem compartilha a dor dos pequenos; a realização de sua promessa de uma vida abundante para todos depende da conversão pessoal e da mudança das estruturas; ele confia aos pequenos o tesouro da sua boa notícia; a compaixão sempre é bela e a beleza sempre é compassiva.
Pe. Itacir Brassiani msf

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