segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Por uma evangelização nova (2)


As origens do conceito 'nova evangelização'.

O Conselho Superior das Pontifícias Obras Missionárias (POM) realizou em Roma, de 7 a 12 de maio do corrente ano, sua assmebléia geral. No seu discurso de abertura, o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito de Congregação para a Evangelização dos Povos, recordava que Bento XVI convocou o XIII Sínodo ordinário dos Bispos com o objetivo de fazer frente a uma situação muito particular: a apostasia ou indiferença de tantos batizados frente a Deus e Cristo, inclusive nas jovens Igrejas; a urgente necessidade de inaugurar uma nova época da evangelização, com novo ardor, novo entusiasmo e novo método.

Fazendo uso da palavra, Dom Pergiuseppe Vacchelli, Presidente das Pontifícias Obras Missionárias, adevetia que a dita nova evangelização não pode ser usada pelas Igrejas locais como um álibi para limitar seu trabalho à renovação pastoral no horizonte das próprias necessidades e fronteiras. “Nossa tarefa é fazer emergir o fato de que a nova evangelização tem como objetivo primeiro colocar a Igreja em condições de se lançar na missão ad gentes, que é sua prioridade absoluta”, disse.

Na conferência que apresentou à referida assembléia, o Pe. Vito del Prete, secretário geral da Pontifícia União Missionária (PUM), explicita sua preocupação com a surprendente e perigosa falta de clareza em torno do conceito ‘nova evangelização’, não obstante a criação de um conselho pontifício para coordená-la e a convocação de um Sínodo para discuti-la. “Não podemos esconder que existe uma certa confusão na compreensão e no uso do termo ‘nova evangelização’, expressão que sofre uma espécie de tortura semântica e da qual cada um extrai aquilo que lhe interessa.”

Segundo o secretário geral da PUM, o significado dado ao conceito ‘nova evangelização’ fica como que suspenso no limbo entre a evangelização em sentido estrito (primeira evangelização, ou anúncio da Boa Nova do Reino de Deus a quem ainda não a recebeu) e evangelização entendida como ação de refazer o tecido cristão da sociedade atual (segunda evangelização, ou re-anúncio a quem abandonou o Evangelho como referência de vida. “É uma confusão que nem mesmo o dicastério para a nova evangelização conseguiu clarear”, lamenta.

A reconstrução do ambiente geo-pastoral no qual nasceu a expressão pode ajudar a tirá-la deste limbo pastoral e a evitar a tortura semântica que vem sofrendo. O conceito nasce na América Latina. Na Mensagem final da Conferência de Medelin (1968), o CELAM pede que as Igrejas particulares coloquem em ação uma “nova evangelização e uma catequese intensiva” para alcançar uma fé lúcida e coerente. Na sua contribuição ao Sínodo dos Bispos de 1977, o CELAM explica que o conceito tem o sentido de uma catequese evangelizadora, na perspectiva das Conslusões de Medelin. Assim, a expressão nasce no contexto da busca de uma atuação eclesial capaz de superar uma evangelização ingênua e cega, mancomunada com instituições e estruturas opressoras, baseada no divórcio entre fé e vida e na ruptura entre seguimento de Jesus Cristo e engajamento pela libertação dos oprimidos.

João Paulo II repesca o conceito e o apresenta na mensagem enviada à IV Assembléia Ordinária do CELAM (Haiti, 1983): “Não se trata de re-evangelização, mas de evangelização nova. Nova no ardor, nos métodos e na expressão.” Sua insistência faz sentido diante da história da evangelização do novo mundo, marcada pelos nefastos vínculos com a empresa colonialista da cristandade européia. Na Conferência de Santo Domingo (1992), o CELAM afirma que a nova evangelização “é um conceito operativo e dinâmico e se constitui num conjunto de meios, atividades e atitudes adequadas para colocar o Evangelho em diálogo ativo com a modernida e a pós-modernidade, tanto para interpretá-las como para deixar-se interpretar por elas” (n° 24).

Refazendo o percurso do nascimento do conceito de nova evangelização, dois elementos ficam claros: o conceito pretende superar uma ação eclesial desvinculada da situação histórica de opressão; e almeja transformar-se num amplo método de diálogo ativo e operativo com o contexto sócio-cultural.
Itacir Brassiani msf

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