quarta-feira, 5 de julho de 2023

O Evangelho de cada dia (38)

Ano A | 13ª Semana Comum | Quarta-feira | Mateus 8,28-34

(05/07/2023)

Depois de atravessar o lago de Genesaré e acalmar a tempestade que rugia no exterior e no interior dos discípulos, Jesus inaugura sua missão em território não judeu, fortemente marcado pela presença do império romano e do seu temido exército. E o faz não como um mero passeio turístico ou uma cruzada religiosa ou cultural, mas para curar duas pessoas possuídas por espíritos impuros, ou demônios. Esse é o primeiro “exorcismo” que Jesus realiza em Mateus.

Para os povos antigos, a manifestação mais forte da possessão era a completa perda da personalidade, a ponto de as pessoas não falarem mais por si mesmas, mas manifestarem a vontade e a palavra da “entidade” que as possuía. Normalmente, esse era o resultado da forte pressão psíquica sob a qual viviam. Ao mesmo tempo, em Israel, tais pessoas eram excluídas do convívio familiar e social, e viviam fisicamente e socialmente marginalizadas.

A cena que nos ocupa, que parece uma clara sátira contada por Jesus e pelas comunidades para desmoralizar a pretensa força econômica, política e militar do império romano, nos apresenta Jesus enfrentando decididamente e vencendo de forma rotunda as forças que oprimem o povo. Inicialmente, os dois “possessos” se portam como animais ferozes, se aproximam de Jesus aos gritos e ameaçando-o. Nas palavras e perguntas dos espíritos maus ecoa o medo que os opressores tem de Jesus e sua ação libertadora.

Jesus não responde aos protestos deles, e os “demônios” acabam propondo um acordo: que Jesus permite que eles deixem os homens e se abriguem nos porcos! Lembremos que o destacamento local do exército romano tinha o porco no seu brasão... Jesus não concede nada, simplesmente manda! Com isso, subverte e vence o poder imperial, e o impacto destrutivo da sua ação abala o povo da aldeia, que sai ao seu encontro barrando sua entrada no povoado.

Esta atitude do povo local antecipa a resistência que lhe oporá mais tarde a elite religiosa do templo! Tanto um como o outro preferem a falsa segurança do exército romano à perigosa liberdade inaugurada por Jesus. Vivendo o dinamismo do Reino, Jesus e seus discípulos ameaçam interesses e provocam conflitos!

 

Meditação:

·     A cena é uma espécie de sátira contra o império romano e a força do seu exército em território palestino

·     A voz que fala pela boca das duas pessoas dominadas pelo demônio é a voz do medo e a voz do exército romano

·     Os porcos eram o símbolo da legião romana que atuava na Síria, e era fonte de renda para os invasores romanos

O povo da aldeia, mesmo conhecendo a dominação, prefere ficar com seus pequenos benefícios que acolher a presença de Jesus

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