O documento propõe três características fundamentais para uma Nova Evangelização do continente europeu: um olhar positivo e benevolente sobre o mundo atual; uma profunda atitude de escuta; um horizionte de esperança.
Já tive oportunidade de expressar algumas preocupações a respeito do processo sinodal sobre a Nova Evangelização (cf. neste mesmo Blog, Por uma evangelização realmente nova I e II, 20/11/2011). Volto à questão, estimulado por uma madura e equilibrada declaração da Conferência dos/as Batizados/as Francofones (cf. IHU Notícias, 23/01/2012).
Embora a Conferência se proponha a incluir os cristãos de língua francesa, peca por uma perspectiva claramente européia. Estão ausentes do texto possíveis elementos próprios dos povos francofones do continente africano. Isso, entretanto, não compromete a coragem e a verdade da declaração, da qual transcrevo a maioria dos parágrafos abaixo.
Embora a Conferência se proponha a incluir os cristãos de língua francesa, peca por uma perspectiva claramente européia. Estão ausentes do texto possíveis elementos próprios dos povos francofones do continente africano. Isso, entretanto, não compromete a coragem e a verdade da declaração, da qual transcrevo a maioria dos parágrafos abaixo.
Evangelizar
“Evangelizar significa assumir a atitude de Jesus que, em todos os relatos evangélicos, encontra, escuta, dá a palavra, eleva e cura. Hoje, a Igreja busca os caminhos para uma "Nova Evangelização", sobretudo na Europa, nos países muito antigamente cristãos, e que, aos olhos de muitos, hoje parecem sê-lo menos. Nos países europeus, o Magistério deplora aquela que chama de secularização e a sua perda de influência, mas os cidadãos, cristãos e católicos em primeiro lugar, não se encontram tão mal. Ao contrário, apreciam a democracia e a liberalização dos costumes que a Igreja por muito tempo obstacularizou.”
“Além disso, dentro da Igreja, levantam-se movimentos de leigos para contestar o conservadorismo e a governança autoritária dos clérigos. A "Nova Evangelização", nesse contexto, não pode ser entendida em termos de reconquista de um terreno perdido, mas sim como um convite pessoal a se apropriar das palavras de Cristo na própria linguagem e na própria de homens e de mulheres de hoje, a acolher o Verbo na própria carne, mesmo que ela não seja judaico-cristã depois de 2000 anos.”
“Evangelizar significa assumir a atitude de Jesus que, em todos os relatos evangélicos, encontra, escuta, dá a palavra, eleva e cura. Hoje, a Igreja busca os caminhos para uma "Nova Evangelização", sobretudo na Europa, nos países muito antigamente cristãos, e que, aos olhos de muitos, hoje parecem sê-lo menos. Nos países europeus, o Magistério deplora aquela que chama de secularização e a sua perda de influência, mas os cidadãos, cristãos e católicos em primeiro lugar, não se encontram tão mal. Ao contrário, apreciam a democracia e a liberalização dos costumes que a Igreja por muito tempo obstacularizou.”
“Além disso, dentro da Igreja, levantam-se movimentos de leigos para contestar o conservadorismo e a governança autoritária dos clérigos. A "Nova Evangelização", nesse contexto, não pode ser entendida em termos de reconquista de um terreno perdido, mas sim como um convite pessoal a se apropriar das palavras de Cristo na própria linguagem e na própria de homens e de mulheres de hoje, a acolher o Verbo na própria carne, mesmo que ela não seja judaico-cristã depois de 2000 anos.”
Um olhar positivo
“Depois de séculos de enfrentamentos, os europeus encontraram o sábio caminho da paz. Depois de mais de 60 anos, a Europa está em paz. A paz, primeira riqueza dos homens e primeiro dom de Deus. Desde o fim dos anos 1950, a União Europeia progride, certamente não muito depressa em certas questões, mas os cidadãos do continente globalmente obtiveram disso prosperidade e progresso social. Certos países da União souberam até desenvolver, sob a influência conjunta da social-democracia e da democracia cristã, um modelo social de proteção, que deve ser sustentado e estendido.”
“A Europa é democrática, aboliu a pena de morte e promove a paz no mundo: seus exércitos são os primeiros fornecedores de tropas para a manutenção da paz, enviadas pela ONU a todo o planeta. Os europeus podem ficar orgulhosos por participar no cotidiano dessa obra, certamente imperfeita, totalmente humana e frágil, mas única no mundo.”
“Alguns deploram que a Europa como instituição não faça mais referência ao cristianismo, mas ela talvez precisa ser uma organização cristã? Não, absolutamente não, porque deve dialogar com toda a Terra sem a prioris religiosos. Em contrapartida, a Europa integrou muitos valores do Evangelho, incluindo a paz e o respeito da pessoa e do indivíduo. Pela atenção aos pobres, ela deve continuar essa rota e às vezes confirmá-lo, sob o olhar de seus cidadãos. Reconciliada, a Europa não precisa ser piedosa ou praticante, ou fazer referência – como bloco único – a raízes cristãs. Basta-lhe sempre continuar debatendo e discutindo, conciliando, "fazendo concílio" das suas dificuldades, dos seus desacordos, para permanecer moderna, para viver e fazer viver uma permanente atualização de paz e de progresso social.”
“Somente reconhecendo essa Europa da modernidade, dando confiança a essa sociedade secularizada, mas democrática e social, que os cristãos poderão transmitir nela a mensagem de Cristo. Evangelizar significa não apenas socorrer, à beira da estrada, como o Samaritano, a pessoa dada como morta na fé, mas também dar confiança à sociedade (ao dono da pensão) para levar a termo a sua obra.”
“Depois de séculos de enfrentamentos, os europeus encontraram o sábio caminho da paz. Depois de mais de 60 anos, a Europa está em paz. A paz, primeira riqueza dos homens e primeiro dom de Deus. Desde o fim dos anos 1950, a União Europeia progride, certamente não muito depressa em certas questões, mas os cidadãos do continente globalmente obtiveram disso prosperidade e progresso social. Certos países da União souberam até desenvolver, sob a influência conjunta da social-democracia e da democracia cristã, um modelo social de proteção, que deve ser sustentado e estendido.”
“A Europa é democrática, aboliu a pena de morte e promove a paz no mundo: seus exércitos são os primeiros fornecedores de tropas para a manutenção da paz, enviadas pela ONU a todo o planeta. Os europeus podem ficar orgulhosos por participar no cotidiano dessa obra, certamente imperfeita, totalmente humana e frágil, mas única no mundo.”
“Alguns deploram que a Europa como instituição não faça mais referência ao cristianismo, mas ela talvez precisa ser uma organização cristã? Não, absolutamente não, porque deve dialogar com toda a Terra sem a prioris religiosos. Em contrapartida, a Europa integrou muitos valores do Evangelho, incluindo a paz e o respeito da pessoa e do indivíduo. Pela atenção aos pobres, ela deve continuar essa rota e às vezes confirmá-lo, sob o olhar de seus cidadãos. Reconciliada, a Europa não precisa ser piedosa ou praticante, ou fazer referência – como bloco único – a raízes cristãs. Basta-lhe sempre continuar debatendo e discutindo, conciliando, "fazendo concílio" das suas dificuldades, dos seus desacordos, para permanecer moderna, para viver e fazer viver uma permanente atualização de paz e de progresso social.”
“Somente reconhecendo essa Europa da modernidade, dando confiança a essa sociedade secularizada, mas democrática e social, que os cristãos poderão transmitir nela a mensagem de Cristo. Evangelizar significa não apenas socorrer, à beira da estrada, como o Samaritano, a pessoa dada como morta na fé, mas também dar confiança à sociedade (ao dono da pensão) para levar a termo a sua obra.”
Atitude de escuta
Para a referida Conferência, a atitude de escuta deve ser central num renovado processo de evangelização: escuta das pessoas, do povo simples com o qual a Igreja e os fiéis convivem; escuta da Igreja, de sua Tradição e de seu Magistério; escuta da Palavra de Deus.
“Embora distantes da Igreja, ou opostos às suas opiniões, aos seus ritos ou aos seus posicionamentos, os nossos concidadãos, no entanto, têm uma rica espiritualidade: é o específico do homem. Evangelizar significa sobretudo escutar, dar a palavra a essas interioridades, a essas expressões da fé ou da não fé que alguns crentes rígidos prefeririam nem ouvir, mas que são o terreno fértil dos imensos questionamentos espirituais do nosso tempo e a ocasião para que aqueles que se dizem cristãos testemunhem a sua fé em Cristo.”
“Pelo debate e pelo testemunho, pode haver escuta mútua: expressão de uma espiritualidade pessoal, mais ou menos cristã, ou nada cristã, e apostolado de uma fé cristã que dá à luz o seu Cristo, não com um discurso teórico, mas sim com uma palavra existencial. Com esse objetivo, a Conferência promoverá oficinas de expressão da fé, ou da espiritualidade, abertas a todos.”
Trata-se de escutar uma Tradição e um Magistério “vivos e presentes devem ser audíveis por todos. Escutá-los não é lhes outorgar uma obediência cega. A obediência evangélica não é a execução de uma ordem, mas sim uma escuta, uma discussão, uma disputatio, uma necessária interpretação, especialmente pelos e para os leigos encarregados "iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo" (cf. LG 31). (...) Falando a mesma linguagem dos seus contemporâneos, os católicos poderão ser escutados por todos, crentes ou não crentes, o que é uma condição prévia para uma nova evangelização exitosa.”
“Evangelizar é sobretudo escutar a Palavra de Deus. Ler, falar, contar, discutir os relatos bíblicos e evangélicos, destacar as suas asperezas, os subentendidos, os símbolos, as correspondências, as contradições, os exageros, os escândalos. Não tomar nada ao pé da letra, mas fazer uma leitura e uma escuta ativas, revoltadas, implicadas, para finalmente, com a ajuda do Espírito, poder escutar o seu sal que dá sabor à nossa vida e nos faz dizer "Eu creio".
Para a referida Conferência, a atitude de escuta deve ser central num renovado processo de evangelização: escuta das pessoas, do povo simples com o qual a Igreja e os fiéis convivem; escuta da Igreja, de sua Tradição e de seu Magistério; escuta da Palavra de Deus.
“Embora distantes da Igreja, ou opostos às suas opiniões, aos seus ritos ou aos seus posicionamentos, os nossos concidadãos, no entanto, têm uma rica espiritualidade: é o específico do homem. Evangelizar significa sobretudo escutar, dar a palavra a essas interioridades, a essas expressões da fé ou da não fé que alguns crentes rígidos prefeririam nem ouvir, mas que são o terreno fértil dos imensos questionamentos espirituais do nosso tempo e a ocasião para que aqueles que se dizem cristãos testemunhem a sua fé em Cristo.”
“Pelo debate e pelo testemunho, pode haver escuta mútua: expressão de uma espiritualidade pessoal, mais ou menos cristã, ou nada cristã, e apostolado de uma fé cristã que dá à luz o seu Cristo, não com um discurso teórico, mas sim com uma palavra existencial. Com esse objetivo, a Conferência promoverá oficinas de expressão da fé, ou da espiritualidade, abertas a todos.”
Trata-se de escutar uma Tradição e um Magistério “vivos e presentes devem ser audíveis por todos. Escutá-los não é lhes outorgar uma obediência cega. A obediência evangélica não é a execução de uma ordem, mas sim uma escuta, uma discussão, uma disputatio, uma necessária interpretação, especialmente pelos e para os leigos encarregados "iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo" (cf. LG 31). (...) Falando a mesma linguagem dos seus contemporâneos, os católicos poderão ser escutados por todos, crentes ou não crentes, o que é uma condição prévia para uma nova evangelização exitosa.”
“Evangelizar é sobretudo escutar a Palavra de Deus. Ler, falar, contar, discutir os relatos bíblicos e evangélicos, destacar as suas asperezas, os subentendidos, os símbolos, as correspondências, as contradições, os exageros, os escândalos. Não tomar nada ao pé da letra, mas fazer uma leitura e uma escuta ativas, revoltadas, implicadas, para finalmente, com a ajuda do Espírito, poder escutar o seu sal que dá sabor à nossa vida e nos faz dizer "Eu creio".
Crer e esperar sem medo
Os membros da Conferência dizem que a criaram porque não podem mais suportar que a Igreja seja átona, “que os cristãos se afastem dela silenciosamente, porque não são mais ouvidos.” Sabemo que toda oposição leigos-clero é estéril, e que a Igreja não se transforma como um partido, uma empresa, um país ou uma associação e, por isso, querem “ficar no meio do barco, não reivindicar nada, mas esperar tudo, não ir embora, mas não calar”, porque acreditam que são a Igreja e Cristo “todos juntos, leigos e clérigos, liberais e mais tradicionais, homens e mulheres igualmente.”
“Para que a nossa Igreja não seja mais estática, em pane ou tentada a afundar na restauração de um passado superado e contrário à evolução da sociedade, porque nós somos a Igreja e somos modernos, parte ativa da sociedade atual, porque não desenvolvemos uma contracultura, mas estamos na vida real, com todos os outros, cristãos e não cristãos, temos no coração o nosso sacerdócio de batizados/as e, por tudo isso, temos a Esperança de que fazemos e continuaremos refazendo a Igreja, porque Cristo se dirige a cada um de nós e a cada um daqueles que encontramos no nosso apostolado. Pouco a pouco, não mais de forma hierárquica, nem mediante um poder temporal, mas, de ser humano para ser humano, em rede, em rizoma, faremos crescer, faremos florescer e daremos o fruto da Vida.”
Interessante a declaração, não acham? E igualmente verdadeira e corajosa. E tiveram a atrevida confiança de enviá-la à Comissão preparatória do Sínodo! Cabe-nos fazer a nossa parte, ao menos para termos o direito de criticar se não formos ouvidos...
Os membros da Conferência dizem que a criaram porque não podem mais suportar que a Igreja seja átona, “que os cristãos se afastem dela silenciosamente, porque não são mais ouvidos.” Sabemo que toda oposição leigos-clero é estéril, e que a Igreja não se transforma como um partido, uma empresa, um país ou uma associação e, por isso, querem “ficar no meio do barco, não reivindicar nada, mas esperar tudo, não ir embora, mas não calar”, porque acreditam que são a Igreja e Cristo “todos juntos, leigos e clérigos, liberais e mais tradicionais, homens e mulheres igualmente.”
“Para que a nossa Igreja não seja mais estática, em pane ou tentada a afundar na restauração de um passado superado e contrário à evolução da sociedade, porque nós somos a Igreja e somos modernos, parte ativa da sociedade atual, porque não desenvolvemos uma contracultura, mas estamos na vida real, com todos os outros, cristãos e não cristãos, temos no coração o nosso sacerdócio de batizados/as e, por tudo isso, temos a Esperança de que fazemos e continuaremos refazendo a Igreja, porque Cristo se dirige a cada um de nós e a cada um daqueles que encontramos no nosso apostolado. Pouco a pouco, não mais de forma hierárquica, nem mediante um poder temporal, mas, de ser humano para ser humano, em rede, em rizoma, faremos crescer, faremos florescer e daremos o fruto da Vida.”
Interessante a declaração, não acham? E igualmente verdadeira e corajosa. E tiveram a atrevida confiança de enviá-la à Comissão preparatória do Sínodo! Cabe-nos fazer a nossa parte, ao menos para termos o direito de criticar se não formos ouvidos...
Itacir Brassiani msf
Um comentário:
Obrigada por este texto contemporâneo, de cristãos atuais capazes de dialogar com a pósmodernidade cultivando o essencial dos evangelhos.Parabéns e outra vez obrigada por divulgar documentos internacionais de interesse comum, aos quais não teríamos a facilidade de acesso,não fosse esse blog inspirado e atento.
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