A missão é uma só, mas tecida por muitas mãos,
com diversas sensibilidades. Mas é sempre itinerante, de certa maneira,
improvisada. É estrada aberta. É navegação permanente. É recomeçar sempre, do
primeiro ou do último passo.
Partilho o relato de duas Irmãs da Congregação
das Irmãzinhas da Imaculada Conceição (conhecidas como Irmãs Azuis), na qual descrevem os
primeiros passos (ou dias) da nova missão na periferia de Manaus. A Ir.
Joaninha já havia participado de uma comunidade intercongregacional em Novo
Airão (AM) e, depois, em castelo de Sonhos (PA).
Porto fluvial de Manaus |
Em
boa companhia, colocamos nossas coisas no carro e rumamos ao nosso destino. Uma rotatória nos desviou do destino e assim
pudemos já conhecer uma outra comunidade, Colônia do Aleixo, logo que nos demos
conta do erro e acerto retomamos o caminho e logo entramos no lugar destino: Puraquequara, que
significa Morada
do Poraquê.
Eis a
explicação do nome: “Com o crescimento da comunidade, a atividade
econômica principal passou a ser a produção de farinha de mandioca e carvão
vegetal, além da pesca de subsistência. Os primeiros habitantes que chegaram ao
local foram os das famílias Barroso e Matos. O nome Puraquequara vem de um
peixe chamado poraquê, também chamado de enguia-de-água-doce. Para se
alimentar, o peixe dá pequenos choques elétricos nas árvores, e come os frutos
que caem delas. Literalmente, Puraquequara significa morada do Poraquê.”
Ao
chegar encontramos a casa aberta e já desocupada à nossa espera. Deu tempo
apenas para carregar nossas bagagens e liberamos nossos parceiros para o
retorno a Manaus centro. Antes, ainda servimos um lanche que trazíamos conosco:
bolacha e água que encontramos na geladeira. Rapidinho seu Miguel, esposo de
dona Raimunda, secretária da paróquia, e
seu Frota apareceram com refrigerante, pão de queijo e pão.
Com
as forças recuperadas e uma rápida partilha
com convites para retornar, nos despedimos. Como as compras de colchão e guarda-roupas feitos em Manaus haviam chegado, faltava apenas montar os
guarda-roupas. Arrumamos o que foi possível, improvisamos o que pudemos. O calor era sufocante... Abre
mala, tira coisa, deixa coisa...
A
Ir. Joaninha deixara suas roupas de cama e banho fechadas na mala durante um
ano inteiro. A umidade da região provocou mofo e ela se apurou em lavar os
lençóis, aproveitando o sol abundante para secar e arrumar sua cama. Ir. Edith
arrumava tudo o que podia, pois suas roupas estavam limpas secas, e em condições de uso.
Fizemos uma pausa para almoçar, ou
melhor, para procurar o que e onde comer alguma coisa. Fechamos tudo e saímos... Sorte quea alguns metros da paróquia tem casas que
fornecem refeições... Assim pudemos logo almoçar algo típico desta época:
jaraqui frito na hora (Joaninha) e bife também passado na hora (Edith). Assim
que almoçamos, já perguntamos se há por
aqui uma casa pra alugar, e a dona do
restaurante tem uma e nos mostrou. Gostamos, mas vamos procurar em outro ambiente.
Um breve descanso e retornamos
por uma outra rua pois queríamos passar no mercado para ver algo que nos
faltava. Passamos na beira, onde se
vendem frutos e peixes. Compramos tucumã.
Entramos numa padaria para saber sobre
pão integral. O moço que nos recebeu, logo nos contou que sua parente foi
convidada para ser irmã mas não quis e atua na coordenação de alguma pastoral na arquidiocese. Foi logo
dando o telefone dela e pegando o nosso para nos colocar em contato. Aqui é
assim: de uma informação se conta uma história se criam laços. O povo é muito aberto e acolhedor.
Contentes retornamos à casa para seguir arrumando, lavando e pondo as
roupas para ventilar, enquanto esperamos o guarda-roupas. À noite
participamos da Via-sacra com a comunidade, um grupo pequeno, maioria
juventude. Estão preparando a encenação da Paixão para Sexta-feira Santa. Conversamos
com eles e assim fomos nos conhecendo.
Com as
pernas moídas de subir, descer e arrumar, só queríamos cama. Conversamos um
pouco e logo nos recolhemos. Sono que é bom, só pelas altas horas da noite.
Eram tantas as emoções, as longas conversas na intimidade com Aquele que nos
enviou, que o sono parecia não vir. Ao
nos encontrar para o café da manhã, o assunto era um só: dormi muito tarde...
Coincidências de uma primeira noite com o show
na vizinhança, que durou até à madrugada.
Na
manhã de sábado, após o café e a oração, saímos para ver um mercadinho que fica
próximo e providenciar algo para o almoço. É bem variado... Tem até tem
cachorro que fica deitado no mesmo espaçoocupado pelos produtos. E tem caixa
eletrônico, onde poderemos suprir nossos apuros.
De
posse de verduras e carne, retornamos para casa. Joaninha seguiu lavando suas
roupas, improvisando varais onde tem sol. Edith se encarregou do almoço. Um
descanso rápido e as quinze horas participamos da primeira reunião com todas as
pastorais da Paróquia. Assim tivemos uma visão das comunidades. Fomos muito bem
acolhidas pelo povo e pelo Pe. Marquinhos. Após a reunião, participamos de uma
confraternização preparada para nossa chegada, fruto da partilha de cada comunidade.Um momento muito significativo
para nós.
No
domingo, dia 1° de abril e domingo de Ramos, participamos da celebração de
Ramos, presidida pelo Diácono Cairo, que faz sua experiência aqui na nossa
paróquia e na área Missionária da Cidade Nova, onde Pe. Marquinhos também
atende. Houve procissão pelo quarteirão, e a capela ficou cheia. Fomos
convidadas para ajudar na distribuiço da comunhão e, no final da celebração,
fomos apresentadas para a Comunidade. Nos sentimos em casa e muito acolhidas
pela Igreja de Puraquequara. Após a
celebração o diácono veio tomar café conosco e partilhamos um pouco da
nossa vida. Ele compartilhou informações importantes. Assim vamos tomando pé da
realidade.
Periferia de Manaus |
Aqui está
implantada a catequese na metodologia da Iniciação
cristã, e parece que nossa paróquia está adiantada neste processo. Na
reunião de ontem o Pe. Marquinhos nos
falou que no ano de 2011 se parou a catequese
e se trabalhou o ano todo com os catequistas dentro desta proposta. Este anos
se retomou a catequese nesta metodologia. As Irmãs Catequistas Franciscanas que
estão dando este suporte nesta região. Daí o interesse do Pe. Marquinhos em nos
colocar em contato com elas. Assim vamos
criando a mesma linguagem. Precisaremos estudar e correr atrás do barco, que já está na frente na outra curva do rio.
Após um
delicioso almoço em agradável companhia (saboreamos uma deliciosa matrinxã assada), Pe. Marquinhos deu uma
volta conosco em toda Área São Lucas, onde ele atua. É imensa! A realidade da
periferia de Manaus é algo grandioso e
desafiador. Dizíamos-lhe: “Nem que se fabricasse padres e irmãs não daria conta
da demanda geográfica desta Manaus.” Foi um passeio de ordem eclesiogeográfica.
Chegamos
em casa às quinze horas. Tiramos um rápido descanso e, como o guarda roupa fora
montado ontem durante a reunião, aproveitamos a tarde para continuar guardando as roupas. Por quanto
tempo? Esperamos que logo encontremos uma casa para nos instalar definitivamente.
Aproveitamos a tarde também para redigir os relatórios diários da casa,
enquanto esperávamos mais uma celebração, à noite, para mais uma apresentação
ao povo.
Estamos
enviando em anexo mais informação sobre Puraquequara, espaço de nossa presença
missionária. Achamos que poderia ser do interesse de todas saber mais sobre
este chão missionário. Desejamos a todas e cada uma boa Semana-santa. Feliz e
Santa Páscoa! Que a saúde se difunda sobre a terra e sobre nossa Província.
Puraquequara,
01 de abril de 2012.
Ir.
Edith e Ir. Joaninha
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