“Podes dizer-me se ele é digno e capaz?”
Segundo uma longa tradição, é
a Igreja que apresenta um dos seus membros ao bispo para que ele, em nome da
Igreja, o assuma como presbítero. Foram conservados no atual rito de ordenação
alguns resquícios do escrutínio no qual se verificava a idoneidade do candidato
apresentado, que, em alguns casos, até resistia a esta indicação por parte da
comunidade local. Na forma atual do diálogo de apresentação, o formador (ou o
Superior ou Pároco) apresenta o diácono e o bispo pergunta: “Podes dizer-me se
ele é digno (apto e idôneo) para este ministério?” Obviamente, ninguém
esperaria este momento para dar uma resposta negativa, até porque o longo
processo de formação seminarística existe para que estas condições essenciais
sejam cumpridas.
Pronunciando-se em nome da
Igreja, o Papa João Paulo II afirmou que “a formação dos futuros sacerdotes é
considerada pela Igreja como uma das tarefas de maior delicadeza e importância
para o futuro da evangelização da humanidade” (Pastores Dabo Vobis [PDV], 2). Mesmo que hajam aspectos da fisionomia
do padre que não mudam no tempo e no espaço, é igualmente certo que a vida e o
ministério do sacerdote se deve adaptar a cada época e a cada ambiente de vida,
de modo que é necessário que nos abramos ao Espírito para “descobrir as
orientações da sociedade contemporânea, reconhecer as necessidades espirituais
mais profundas, determinar as tarefas concretas mais importantes, os métodos
pastorais a adotar, e, assim, responder de modo adequado às expectativas
humanas” (PDV, 5).
Mas quais seriam os elementos
realmente fundamentais que denotam a idoneidade de um candidato ao ministério
presbiteral e que devem orientar seu processo formativo? Pessoalmente,
considero essenciais três atitudes de
fundo: a) maturidade e equilíbrio humano, ou seja: uma serena consciência
dos seus limites, capacidades e desejos e a capacidade de se relacionar de
forma personalizada com as diversas pessoas e grupos; b) sadia e madura relação
com com Deus, ou seja: o alegre reconhecimento da condição de discípulo e
aprendiz, peregrino em busca de Deus e do seu reino; c) uma clara postura
pastoral, ou seja: um relacionamento com o povo na perspectiva de companhia e
de serviço, de irmão que serve outros irmãos.
Por isso, uma das dimensões
básicas e irrenunciáveis da formação do presbítero nos tempos atuais é a
dimensão humana. “Sem uma oportuna formação humana, toda a formação sacerdotal
ficaria privada do seu necessário fundamento", disseram com ênfase
os padres sinodais. “Portanto, não só para uma justa e indispensável maturação
e realização de si mesmo, mas também em vista do ministério, os futuros
presbíteros devem cultivar uma série de qualidades humanas necessárias à
construção de personalidades equilibradas, fortes e livres, capazes de
comportar o peso das responsabilidades pastorais. É necessária, pois, a
educação para o amor à verdade, a lealdade, o respeito por cada pessoa, o
sentido da justiça, a fidelidade à palavra dada, a verdadeira compaixão, a
coerência, e, particularmente, para o equilíbrio de juízos e comportamentos.”
(PDV, 43).
Mas esta ênfase não pode nos
levar a esquecer que “sem a
formação espiritual, a formação pastoral desenrolar-se-ia privada de qualquer
fundamento e que a formação espiritual constitui “o elemento de maior
importância na formação sacerdotal”. A
vida espiritual de quem se prepara para o sacerdócio precisa ser dominada pela
procura e pelo encontro Mestre, para o seguir e permanecer em comunhão com Ele.
“Também no ministério e na vida sacerdotal, esta procura deverá continuar, tão
inesgotável é o mistério da imitação e da participação na vida de Cristo. Assim
como deverá continuar este encontrar o Mestre, para transmiti-lo aos outros,
melhor ainda, para despertar nos outros o desejo de procurar o Mestre” (PDV
45-46).
Por fim, a formação deve
preparar o pastor. “Toda a formação dos candidatos ao sacerdócio é destinada a
dispô-los de modo particular para comungar da caridade de Cristo, Bom Pastor.
Portanto, nos seus diversos aspectos, esta formação deve ter um carácter
essencialmente pastoral” (PDV 57). O foco ou horizonte pastoral “assegura à
formação humana, espiritual e intelectual dos futuros presbíteros determinados
conteúdos e características específicas, da mesma forma que unifica e
caracteriza a inteira formação dos futuros sacerdotes.” Esta formação
está ordenada à comunhão cada vez mais profunda com a caridade pastoral de
Jesus, princípio e a
força do ministério do presbítero. Isso pede não apenas que seja assegurada uma
competência pastoral científica e uma habilitação operativa, mas, sobretudo,
que seja garantido o crescimento de um modo de ser em comunhão com os mesmos sentimentos
e comportamentos de Cristo, Bom Pastor (cf. idem).
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário