Desafio 7: Rever e simplificar as estruturas
Um jantar convencional de religiosos no interior de Kalimantan (Indonésia) |
Estruturas são, antes de tudo, esquemas de pensamento,
modos de ver e de organizar a vida. Quando um grupo social chega a um acordo e
afirma “isso deve ser assim”, está criando uma estrutura. As estruturas têm a
função de dar continuidade e organicidade às intuições, construir abrigos que
ajudem o espírito a continuar no tempo. São construções feitas com o material
que a história e as culturas nos oferecem e, por isso, trazem suas marcas,
emprestam suas possibilidades e, evidentemente, entregam também seus limites.
Não há como negar ou fazer vistas grossas a este fato:
a Vida Religiosa que conhecemos hoje concebeu para si mesma estruturas apropriadas
a um corpo numeroso, socialmente separado, politicamente influente,
eclesialmente e culturalmente relevante. Para manter este status e se reproduzir socialmente, regrou minuciosamente a vida
dos membros, multiplicou e complexificou suas instituições. Não é por nada que
muitos religiosos e religiosas experimentam a sensação de que as demandas das
obras são superiores às suas forças, que funcionam bem mas lhes falta um
sentido para viver. Se isso é verdade, soou o tempo de repensar as estruturas!
É claro que não se trata simplesmente de assumir
formas organizativas e gerenciais mais soft's
e flexíveis, tanto a gosto da nova tecnocracia empresarial e do mercado
globalizado (que não tocam no “núcleo duro” do sistema, que é a competição
predatória e violenta). O que precisamos é desmontar as estruturas jurídicas e
organizacionais que, mesmo tendo sido úteis e importantes numa certa época,
hoje mais escondem que anunciam o Evangelho, mais sufocam que encarnam o
carisma dos institutos, quebram as asas dos sonhadores e algemam os pés
sedentos de novos caminhos. E isso começa pelas Constituições e chega aos
projetos comunitários e institucionais, demasiadamente pesados e complexos.
Com isso não estou convocando a Vida Religiosa a uma
espécie de cruzada da ingenuidade ou a uma celebração de louvor à inocência
original. Assim como a vivência do Evangelho não pode prescindir dos recursos e
percursos de vinte séculos de história nas diferentes culturas, a Vida Religiosa
não pode imaginar um renascimento que não tenha nada a ver com sua experiência
multissecular e multicultural. O desafio é desentulhar a Vida Religiosa daquelas
estruturas e meios que, tendo sido úteis e necessários num tempo e numa etapa
ou situação concreta, agora mais atrapalham que facilitam a encarnação e o
testemunho do Evangelho, mais sufocam que acalentam os sonhos e intuições
originais.
Mas é preciso também ter presente que essa não é uma
tarefa que podemos encomendar a apenas alguns exemplares isolados do Hércules
da mitologia grega, nem trabalho para um tempo breve. Repensar as estruturas da
Vida Religiosa é missão de muitos e extensa no tempo. É claro, entretanto, que
não podemos esperar para começar quando todos os membros do instituto estiverem
convencidos da urgência e da necessidade dessas mudanças. É preciso, desde já e
sempre, estimular os membros sonhadores e inquietos, poetas, profetas e
místicos a ousar os primeiros passos dessa dança.
Itacir Brassiani msf
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