Perseverar na fé, na
esperança e no amor
Os Atos
dos Apóstolos dizem que os cristãos das primeiras comunidades eram perseverantes na doutrina dos
apóstolos, na comunhão fraterna, na partilha do pão e nas orações. Eu poderia
dizer que estou neste retrato? Sou mesmo parte viva da comunidade cristã?
O
nascimento para a vida de fé, a entrada
na comunidade cristã, se dá pelo kerigma
(anúncio fundamental que provoca a conversão) e pela catequese (que leva ao crescimento na fé, na esperança e na
caridade). A vida cristã se mantém e cresce pelo culto, que realiza a união com Deus (oração, participação no
templo) e pela participação na fração do pão, na páscoa de Jesus. Na vida
prática, a conversão à fé se exprime em um novo modo de relacionar-se, marcado pelo amor: a fraternidade
substitui as relações de poder e de opressão; a parttilha ocupa o lugar da
exploração econômica. Fé, Esperança e Amor são diferentes expressões do único
dinamismo que marca a vida cristã.
O livro
dos Atos dos Apóstolos nos oferece duas espécies de retratos da vida das
primeiras comunidades cristãs. O primeiro retrato nos é dado em At 2,42-47: “Eram perseverantes em ouvir os
ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas
orações. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais
que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçavam a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas
propriedades e seus bens e repartiam o
dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos, frequentavam
o templo e nas casas partiam o pão, tomando o alimento com alegria e
simplicidade de coração. Louvavam a Deus
e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à
comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação.”
Será que aparecem nesta fotografia ou fazem
parte da comunidade cristã as pessoas que buscam o batismo e depois somem da
Igreja? Aquels que fazem a primeira eucaristia e depois não são mais vistas?
Aquelas que não participam dos momentos comunitários? Aquels que aparecem e
desaparecem? Oo aquels que oprimem e exploram seus semelhantes?
O segundo
retrato da comunidade cristã está em At 4,32-35. O número de cristãos já
crescera bastante (cf. At 1,13.15; 2,41-48; 4,4), e o centro deste segundo
retrato é o espírito de comunhão que se manifesta na concórdia fraterna e na
comunhão de bens. Entre os membros da comunidade cristã não havia privilegiados!
“A multidão dos fiéis era um só coração e
uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que
possuía, mas tudo era posto em comum entre eles. Com grande poder, os apóstolos
davam testemunho da ressurreição do
Senhor Jesus. E todos eles gozavam de grande aceitação. Entre eles ninguém passava necessidade,
pois aqueles que possuíam casas ou terras as vendiam, traziam o dinheiro e o
colocavam aos pés dos apóstolos; depois, ele era distribuído a cada um conforme a sua necessidade.”
Como
proteger os apóstolos da suspeita de que seriam aproveitadores da boa fé dos
seguidores de Jesus Cristo e extorquiam seus bens? Seria já a partir deles que
a Igreja foi acumulando seu patrimônio econômico? A suspeita não tem
fundamento, pois o dinheiro era distribuído segundo as necessidades de cada
pessoa ou família. E a introdução dos diáconos reforça essa assertiva (cf. At
6,1-6; 11,27-30: 2 Cor 8,1-6).
Perseverar
significa permanecer firme e constante, prosseguir, continuar, ir superando
crises e revezes. Significa, com a força da fé, manter viva a esperança por
amor àquele que nos amou primeiro. “Eu seu em quem acreditei, eu sei em quem
pus minha esperança!...” Significa ser constante e incansável, ter um coração
de pobre, ter fome e sede de justiça. E isso implica em retornar, recomeçar todo dia e sempre de novo a caminhada do
seguimento de Cristo, a luta para superar egoísmos e quebras de comunhão, o
labor cotidiano, a dinâmica evangélica da conversão.
“Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé. Só me resta agora a coroa da justiça que o Senhor,
justo juiz, me entregará naquele dia...” (2Tim 4,7-8).
Pe. Rodolpho Ceolin msf
(Meditação escrita pelo Pe. Ceolin provavelmente
no final dos anos 90 e não publicada. Faz parte de uma série de manuscritos que
ele me confiou amavelmente nos últimos meses da sua vida)
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