O ateísmo está longe de ser o principal
obstáculo à fé cristã. Ele continua sendo um desafio a ser levado a sério, e os
ateus, assim como os indiferentes religiosos, são interlocutores que merecem
nossa atenção e nosso respeito. Creio que o que coloca a fé cristã em risco são
outras correntes e posturas: aquelas que reduzem a fé em Jesus a uma espécie de
pronto-socorro para todas as doenças; aquelas que a circunscrevem a um negócio
metafísico, que só tem a ver com a alma e o coração; além daquelas que a
rebaixam a um espetáculo televisivo 24 horas por dia. No tempo de Jesus, a lepra
era uma enfermidade física, social e cultural, muito temida e objeto de
proibições e exclusões. Por isso, o evangelista diz que o leproso foi purificado, não simplesmente curado. A enfermidade pode ser curada,
mas somente a purificação remove o manto da exclusão que, por motivos
religiosos e culturais, acompanhava e encobria o leproso. Tanto que, o homem
considerado impuro por causa da lepra, cujo acesso aos espaços sociais e
públicos era cuidadosamente interditado, uma vez purificado é enviado ao espaço
público por exelência, ou seja, ao templo. Purificando os leprosos, Jesus
remove o manto da exclusão que os encobre e torna proscritos, e re-estabelece a
plena cidadania deles. E o não faz reivindicando protagonismo, nem ao vivo em
cadeias de TV’s, como amam fazer alguns milagreiros pentecostais e católicos...
Evangelho e protagonismo midiático costumam não ser parceiros. Jesus prefere se
retirar a lugares solitários e se entregar à oração, exatamente para dar à sua
revolucionária ação o necessário caráter libertador, sem perder o respeito aos
humildes beneficiados. (Itacir Brassiani
msf)
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