sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O evangelho dominical

LINGUAGEM DE GESTOS

O evangelista João diz-nos que Jesus fez «milagres» e «prodígios». Ele chama-lhes «sinais», porque são gestos que apontam em direção a algo mais profundo do que podem ver os nossos olhos. Em concreto, os sinais que Jesus realiza orientam para a Sua pessoa e mostram-nos a Sua força salvadora.
O sucedido em Caná da Galileia é o começo de todos os sinais. O protótipo dos que Jesus irá levando a cabo ao longo da Sua vida. Nessa «transformação da água em vinho» é-nos proposta a chave para captar o tipo de transformação salvadora que opera Jesus e o que, em Seu nome, hão-de oferecer os Seus seguidores.
Tudo ocorre durante um casamento, a festa humana por excelência, o símbolo mais expressivo do amor, a melhor imagem da tradição bíblica para evocar a comunhão definitiva de Deus com o ser humano. A salvação de Jesus Cristo tem de ser vivida e oferecida pelos Seus seguidores como uma festa que dá plenitude às festas humanas quando estas ficam vazias, «sem vinho» e sem capacidade de encher o nosso desejo de felicidade total.
O relato sugere algo mais. A água só pode ser saboreada como vinho quando, seguindo as palavras de Jesus, é «retirado» de seis grandes tinas de pedra, utilizadas pelos judeus para as suas purificações. A religião da lei escrita em tábuas de pedra está exaurida. Não há água capaz de purificar o ser humano. Essa religião há-de ser liberta pelo amor e a vida que comunica Jesus.
Não se pode evangelizar de qualquer forma. Para comunicar a força transformadora de Jesus não bastam as palavras, são necessários os gestos. Evangelizar não é só falar, pregar ou ensinar; menos ainda, julgar, ameaçar ou condenar. É necessário atualizar, com fidelidade criativa, os sinais que Jesus fazia para introduzir a alegria de Deus tornando mais ditosa a vida dura daqueles camponeses.
A muitos contemporâneos a palavra da Igreja deixa-os indiferentes. As nossas celebrações aborrecem-nos. Necessitam conhecer mais sinais próximos e amistosos por parte da Igreja para descobrir nos cristãos a capacidade de Jesus para aliviar o sofrimento e a dureza da vida.
Quem quererá escutar hoje o que já não se apresenta como notícia gozosa, especialmente se se faz invocando o evangelho com tom autoritário e ameaçador? Jesus Cristo é esperado por muitos como uma força e um estímulo para existir, e um caminho para viver de forma mais sensata e gozosa. Se só conhecem uma «religião aguada» e não podem saborear algo da alegria festiva que Jesus contagiava, muitos continuarão a afastar-se.
José Antonio Pagola

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