sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

ANO C – SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 17.01.2016

Jesus nos proporciona vida e algeria em abundância.

Depois de ter sido batizado no rio Jordão, Jesus não tirou férias! O batismo marcou o amadurecimento da sua consciência messiânica e o início da missão de libertar as pessoas, setores sociais e povos oprimidos. Jesus deixou a Judéia e voltou para a sua região periférica e, na pequena vila chamada Caná, na Galiléia, realizou aquele que, segundo o evangelista João, foi o primeiro sinal da chegada do Reino de Deus: transformou a carência em abundância, a tristeza em festa, a água em vinho bom e abundante. A festa de casamento mostra que Deus se importa com as necessidades do seu povo e faz com ele uma aliança definitiva, e o vinho expressa a alegria dos novos tempos que se iniciam.
É mais que tempo de perceber e de dizer com clareza e coragem que o modelo de vida promovido pelo capitalismo ocidental fracassou, que o vinho acabou no meio da festa, que as talhas de pedra estão frias, pesadas e vazias. Precisamos buscar novos caminhos, inventar novas regras, sonhar novos mundos. É necessário também superar a tentação de buscar a saída para trás, de ressuscitar tradicionalismos e autoritarismos mortos e embalsamados. É tempo de abrir os ouvidos às vozes profeticamente femininas que há tempo vêm denunciando: ‘Eles não têm mais vinho...’
A saída não é fazer aquilo que o mercado está ditando ou aquilo que a cultura ocidental ensina há séculos. Não basta obedecer às vozes que mandam ‘faça alguma coisa!’ Não basta manter a receita que produziu a tragédia. Por mais atraentes que sejam, as receitas que pedem austeridade não trazem a marca do Reino!... É preciso descobrir a orientação correta e fazer a coisa certa. E aqui entra de novo aquela lucidez que só o feminino resistente e ousado consegue preservar: ‘Façam o que ele mandar!’ Eis a indicação: acolher a Palavra e seguir o caminho aberto pelo jovem de Nazaré.
E Jesus começa pedindo para que mudemos o rumo e o conteúdo da nossa vida. As talhas velhas e pesadas não têm mais o que fazer com a purificação, até porque Deus não está interessado nestes ritos. Entre Deus e seus filhos e filhas não existe um muro alto e sólido, construído com blocos de leis e prescrições. Deus ama, é essencialmente amor e misericórdia, e nada pode aproximar-nos dele a não ser a prática do amor e da misericórdia recíproca. E para evitar sobrecargas inúteis, ele mesmo toma a iniciativa e nos assume como parceiros numa aliança indestrutível. Mas o que ele nos pede pra fazer?
Como a Nicodemos, Jesus nos diz que precisamos nascer de novo, e isso supõe desaprender. Como à mulher samaritana, ele nos pede adoração em espírito e verdade, e isso significa derrubar os muros que separam povos e religiões. Como ao jovem André, ele pede que partilhemos os pães e peixes, para que as multidões tenham o alimento que necessitam e a dignidade inviolável. Aos canonistas e legalistas ele pede que acolham os pecadores e só atirem pedras se eles mesmos não tiverem limite ou pecado. A todos ele ordena: ‘Amem-se uns aos outros como eu amei vocês.’
Aderir a Jesus Cristo é entrar num caminho de permanente transformação. É verdade que existem pessoas – e até líderes religiosos – que, mesmo tendo provado a qualidade do vinho novo, não se dão conta da sua origem, e simplesmente continuam a festa de poucos. Não percebem que a lei divide e exclui, que a aliança com os poderes é estéril e caduca, que a repetição de práticas de piedade não é suficiente, que mudar o rótulo e embelezar o pacote não muda o conteúdo da fé. Pobres mestres-sala, que estranham a transformação da água em vinho e pensam que tudo deve continuar como antes...
Na Carta aos Coríntios, Paulo nos convida a celebrar a novidade e a diversidade queridas por Deus: diversidade de dons e serviços, de pessoas e funções, de Igrejas e culturas... Essa diversidade faz parte dos tempos de abundância, inaugurados por Jesus Cristo nas bodas de Caná e expandidos pelo Espírito Santo. As capacidades são diferentes, mas o Espírito é o mesmo. Os serviços são diversos, mas o Senhor é o mesmo. As ações são múltiplas, mas o sujeito da atividade é sempre o mesmo Deus. O que ninguém pode esquecer é que todos somos chamados trabalhar para que a ninguém falte o vinho...
Jesus de Nazaré, conviva ativo na festa de Caná, presença desejada em todas as festas da vida! Ajuda-nos a perceber a diferença entre os caminhos e práticas de quem acredita em ti, escuta tua Palavra e segue teus passos e a postura daqueles que continuam apostando nas leis e sistemas que discriminam. Dá-nos também sabedoria e humildade para reconhecer os diferentes dons e iniciativas que procedem do mesmo espírito. E ensina as comunidades católicas a prestar a reverência que Maria realmente merece através da prática do seu conselho de fazer tudo aquilo que Jesus nos pede. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías  62,1-5 * Salmo 95 (96) * 1ª Carta aos Coríntios 12,4-11 * Evangelho de João 2,1-11)

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