terça-feira, 19 de março de 2024

O Evangelho de Jesus em nossa vida (293)

293 | Ano B | 5ª Semana da Quaresma | João 8,31-42

20/03/2024

Continuamos com a narração que nos reporta o grande e tenso debate entre Jesus e as lideranças do judaísmo, depois da defesa pública da dignidade de uma mulher prestes a ser apedrejada na praça do templo. Jesus acusa o grupo que dirige o judaísmo de viver e ensinar uma fé equivocada, apresentada como modelo de fidelidade, mas que se mostra irredutivelmente fechada à ação salvadora e libertadora de Deus.

Na cena anterior, um grupo de judeus mostrou admiração e deu crédito a Jesus. Mas Jesus os conhece, e dispensa tanto a admiração como uma adesão formal. Só o conhece e só se torna seu discípulo quem assimila e leva a sério a sua Palavra, quem participa da sua ação solidária e libertadora em benefício dos oprimidos. Esta é a verdade sobre Deus e sobre o ser humano, uma verdade que nos torna livres, capazes de doar a própria vida.

A liberdade dos discípulos de Jesus não é a faculdade de decidir isso ou aquilo, mas a capacitação para participar da liberdade do Pai, que ama e acolhe bons e maus, merecedores ou não do seu amor, todos necessitados do seu perdão acolhedor. Quem age sempre guiado pelo medo, pela raiva, pela competição ou pela busca dos próprios interesses não é livre, mas escravo de si mesmo. Não é capaz de dar-se e perder-se num “amor a fundo perdido”.

Ao ensinar isso, Jesus dá a entender que a elite religiosa que se opõe a ele não é verdadeiramente livre, mesmo pertencendo a um povo politicamente autônomo. Esta elite reage afirmando ser da raça e estirpe de Abraão, e que nunca foi escrava. Mas Jesus retruca que ser filho é ser parecido com o pai, e eles estão muito longe de imitar Abraão. Aderindo às estruturas de opressão e dominação, e dando-lhes estabilidade e caráter intocável, eles servem ao pecado, que impede o amor e leva à morte.

Jesus conclui reafirmando sua filiação divina – suas ações o fazem parecido com o Pai – e que a elite religiosa é filha da idolatria (que a tradição judaica chama de prostituição), pois não aceita, persegue e quer matar Jesus. Quem persegue os outros não é livre, mas escravo dos medos e competições!

 

Meditação:

   A quantas anda nossa adesão a Jesus Cristo e ao seu Evangelho libertário? Vai além da admiração e da exterioridade?

   Olhemos atentamente e criticamente para nossas decisões, ações e compromissos: elas revelam que somos filhos do Deus de Jesus?

   Em que medida continuamos pensando que somos livres para fazer o que queremos, e não para lutar pelos direitos humanos?

   Será que ainda reivindicamos a superioridade da nossa raça, da nossa religião, da nossa origem, da nossa classe frente aos outros?

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