sexta-feira, 15 de março de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - Quinto Domingo da Quaresma - 17.03.2024

NINGUÉM AMA IMPUNEMENTE 

Poucas frases são tão provocativas como as que ouvimos hoje no Evangelho: «Se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica infértil; mas se morrer, dá muito fruto». O pensamento de Jesus é claro. Não se pode gerar vida sem dar a sua própria. Não se pode fazer viver os outros se não se está disposto a «desviver-se» pelos outros. A vida é fruto do amor e brota na medida em que sabemos entregar-nos. 

No Cristianismo nunca se distinguiu com claridade o sofrimento que está nas nossas mãos suprimir e o sofrimento que não podemos eliminar. Há um sofrimento inevitável, reflexo da nossa condição de criatura, e que nos revela a distância que ainda existe entre o que somos e o que somos chamados a ser. Mas há também um sofrimento que é fruto dos nossos egoísmos e injustiças. Um sofrimento com o qual as pessoas se ferem mutuamente. 

É natural que nos afastemos da dor, que procuremos evitá-la sempre que possível, que lutemos para suprimi-la de nós. Mas, precisamente por esta razão, existe um sofrimento que é necessário assumir na vida: o sofrimento aceito como o preço do nosso esforço para fazê-lo desaparecer entre os homens. «A dor só é boa se permite o processo da sua supressão» (Dorothee Sölle). 

É claro que na vida poderíamos evitar muitos sofrimentos, amarguras e decepções. Bastaria fechar os olhos ao sofrimento dos outros e fechar-nos na busca egoísta da nossa felicidade. Mas sempre seria um preço demasiado elevado: deixando simplesmente de amar. 

Quando se ama e se vive intensamente a vida, não se pode viver indiferente ao sofrimento grande ou pequeno das pessoas. Aquele que ama fica vulnerável. Amar os outros inclui sofrimento, compaixão, solidariedade na dor. «Não existe sofrimento que nos possa ser estranho» (K. Simonow). Esta solidariedade dolorosa faz surgir a salvação e libertação para o ser humano. É o que descobrimos no Crucificado: salva quem partilha a dor e se solidariza com o que sofre. 

José Antonio Pagola 

Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez 

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