quarta-feira, 20 de março de 2024

O Evangelho de Jesus em nossa vida (294)

294 | Ano B | 5ª Semana da Quaresma | Quinta | João 8,51-59

21/03/2024

O texto de ontem terminava com Jesus acusando indiretamente as lideranças religiosas de serem assassinas, e justificarem suas ações com uma imagem pervertida de Deus. Na sequência, Jesus nega que eles sejam filhos de Abraão, e diz que eles são filhos do diabo, ou filhos da mentira. A reação é violente: Jesus é acusado de ser samaritano e estar possuído pelo demônio.

Quando Jesus insiste que seu ensino ilumina e conduz à vida e à liberdade, que quem o segue não será envolvido pelas trevas da morte, “o pessoal do templo” pensa ter encontrado uma prova da sua loucura, pois a vida demonstra que todos morrem, inclusive Abraão e os profetas. Eles não conhecem senão a vida mortal e a morte amarga. Não conseguem entender que a vida pode ser vazia e tediosa, ou intensa e indestrutível.

Essa discussão é permeada pela ironia, tanto da parte do “pessoal do templo” como de Jesus. Isso aparece tanto nas perguntas como nas respostas de ambos os lados: “Quem pretendes ser?  Acaso és maior que nosso pai Abraão?” “Não tens 50 anos e vistes Abraão?” Mas a ironia não esquece o conteúdo em discussão: Quem de fato conhece a Deus e realiza suas ações?

Jesus não reivindica nem recorre a títulos para falar de si mesmo. Ele conhece a Deus como Pai, e demonstra que é seu Filho e seu Enviado porque participa da sua ação em defesa do ser humano. Tomando distância até do próprio Abraão, e afirmando que ele é pai “de vocês” (e não “nosso”), Jesus escapa das apertadas amarras de raça e de nação. Deus, enquanto Pai, estende nossos laços de fraternidade a toda a humanidade.

Por fim, Jesus diz que Abraão exultou e se alegrou ao visualizar “o meu dia”. Não é Jesus que viu Abraão, mas Abraão que viu em Jesus o Enviado de Deus e o início dos tempos messiânicos. Quando Jesus afirma “antes que Abraão existisse, eu sou”, a taça da raiva do “pessoal do templo" transborda: eles pegam em pedras para executar Jesus, comprovando que são assassinos e que o templo deixou de ser casa de Deus e se tornou lugar de comércio, violência e morte.

 

Meditação:

    Releia o texto atentamente, participe do debate, interaja com os protagonistas, perceba o que está em jogo

    Qual é a imagem que fazemos de Deus, e em que medida essa imagem nos emancipa e nos torna solidários e libertadores?

    Nossa imagem de Deus está preso a ideologias como o machismo, o nacionalismo, o patriarcalismo, o liberalismo?

    Em que medida, para defender nossa ideia de Deus e nossa religião, somos capazes de usar de violência contra os outros?

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