sexta-feira, 1 de março de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 03.03.2024

QUE RELIGIÃO É A NOSSA?

Todos os evangelhos fazem eco de um gesto audaz e provocador de Jesus no recinto do Templo de Jerusalém. Provavelmente não foi muito espetacular. Ele atropelou um grupo de vendedores de pombos, derrubou as mesas de alguns cambistas e procurou interromper a atividade por alguns instantes. Não pôde fazer muito mais.

Contudo, aquele gesto carregado de força profética desencadeou a sua detenção e rápida execução. Atacar o Templo era atacar o coração do povo judeu: o centro da sua vida religiosa, social e política. O Templo era intocável. Ali habitava o Deus de Israel. Que seria do povo sem a sua presença entre eles? Como poderiam sobreviver sem o Templo?

Para Jesus, no entanto, o Termplo era o grande obstáculo para acolher o Reino de Deus tal como o entendia e proclamava. O seu gesto colocava em questão o sistema econômico, político e religioso sustentado naquele lugar santo. O que era aquele Templo? Sinal do reino de Deus e da sua justiça ou um símbolo de colaboração com Roma? Casa de oração ou um armazém dos dízimos e primícias dos camponeses? Santuário do perdão de Deus ou justificação de todo o tipo de injustiças?

Aquilo era um mercado. Enquanto em torno da casa de Deus se acumulava a riqueza, nas aldeias crescia a miséria dos seus filhos. Não. Deus não legitimaria jamais uma religião como aquela. O Deus dos pobres não podia reinar naquele Templo. Com a chegada do seu reinado perdia a sua razão de ser.

A actuação de Jesus coloca-nos em guarda a todos os seus seguidores e nos obriga a perguntar-nos que religião estamos a cultivar nos nossos templos. Se não está inspirada por Jesus, pode-se converter numa forma «santa» de nos fecharmos ao projecto de Deus que Jesus queria impulsionar no mundo. O primeiro não é a religião, mas o reino de Deus.

Que religião é a nossa? Faz crescer a nossa compaixão pelos que sofrem ou nos permite viver tranquilos no nosso bem-estar? Alimenta os nossos próprios interesses ou nos faz trabalhar por um mundo mais humano? Se se parece ao Templo Judaico, Jesus não o abençoaria.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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