terça-feira, 17 de junho de 2025

Fé e teatro

Nada façamos só para atrair admiração e aplausos | 747 | 18.06.2025 | Mateus 6,1-6.16-18

Nas últimas meditações, vimos refletindo sobre a proposta inovadora de Jesus frente aos costumes e leis do judaísmo, em seis exemplos concretos. No evangelho de hoje, Jesus prossegue seu ensino, deslocando a atenção das prescrições legais para as práticas de piedade: a esmola, a oração e o jejum. É uma nova etapa na formação dos discípulos. Não faltemos a esta lição de formação permanente, nem nos distraiamos diante do Mestre.

Nos exemplos anteriores, o tema era a justiça maior e plena que aquela praticada pelos fariseus, a justiça que antecede e ultrapassa as prescrições e proibições. Este tema continua nesta seção, como em todo o evangelho de Mateus. Para alguns setores importantes do judaísmo, tudo se resumia em aparecer, ser visto e reconhecido, em granjear a fama aos olhos do povo, inclusive com práticas morais minuciosas. Em vista do reconhecimento eles faziam qualquer coisa, e a isso subordinavam até a religião.

Jesus começa com uma advertência contundente: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente das pessoas, só para serdes vistos por elas!” Ele não é um pregador ingênuo, e percebe que esta busca de evidência pode contaminar até aquilo que parece mais piedoso e religioso, como a esmola, a oração, e o jejum. A hipocrisia pode contaminá-las e destituí-las do seu valor evangélico e original!

Por isso, Jesus propõe um princípio prático, geral e efetivo para não cair nesse risco: evitar a busca de publicidade, deslocando o foco de nós mesmos e nossas instituições para Deus e o Outro. É isso que nos faz bons e nos justifica! O resto é teatro e espetáculo para impressionar as pessoas incautas. O que vale todas as penas é a aprovação de Deus, que vê o que é discreto, aquilo que ninguém vê, aqueles que ninguém quer ver.

A ostentação tem pouco a ver com Deus, com sua vontade e com sua ação no mundo. Muito ao contrário, este tipo de piedade é capaz de irritar em vez de agradar a Deus. Não podemos usar as práticas de piedade e o culto solene como estratégias para seduzir o povo e tentar o próprio Deus. “Quando a promessa é grande o santo desconfia”, ensina nosso povo.

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe ressoar em você este ensino inovador de Jesus, que ele mesmo viveu em primeira pessoa: fazer o bem sem olhar a quem

§ Como você e sua comunidade tem vivido as práticas de partilha solidária? Há algo a ser revisto e melhorado nelas?

§ E o que pensamos hoje em relação ao jejum? Vemos sentido? Com que sentido o praticamos, ou com que argumentos o contestamos?

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa reflexão, Dom Itacir, em relação a Corpus Christi! Jesus não precisa de sacrifícios de ornamentação, antes, que aprendamos a partilhar o pão da vida! Clécio Henckes.