O Espírito é sopro
que recria, reúne e envia em missão | 737 | 08.06.2025 | João
20,19-25
Estamos
habituados a situar o pentecostes cristão cinquenta dias após a ressurreição de
Jesus. Segundo o evangelho de João, este evento que mudou radicalmente a vida dos
discípulos teria acontecido na noite que se seguiu à ressurreição. A liturgia
cristã une estas duas perspectivas, entendendo a páscoa como um acontecimento
processual que inicia na ressurreição de Jesus e culmina no envio do Espírito
Santo.
O
trecho do evangelho de hoje está situado exatamente no início desse movimento
progressivo. Quando tudo parecia definitivamente sepultado, acabado e imutável,
Jesus irrompe em meio aos discípulos aterrados de medo e instaura a paz. É este
encontro e esta palavra, e não apenas o sepulcro vazio, que provoca a mudança
que todos conhecemos. Jesus não está fora, acima ou indiferente a eles, mas no
meio deles.
A
harmonia plena e o bem-estar total que Jesus deseja e transparece na saudação
não é uma palavra vazia, nem uma ordem penosa: é um dinamismo que toma conta
dos discípulos mediante o sopro de Jesus. Trata-se do mesmo sopro do Criador,
que moldou o homem do pó da terra. Sem esse sopro, o discípulo não passa de pó
indefinido e de barro informe.
Entretanto,
para não eixar dúvidas e não induzir à confusão, Jesus fala do significado do
seu sopro. Trata-se do dom do Espírito Santo, do dom da fortaleza e fidelidade
missionária: “Como o pai me enviou, também vos envio”. Jesus não institui um
ministério ou sacramento, nem constituiu um colegiado, mas convoca e envia em
missão. Com a força do Espírito, a paz experimentada no cenáculo não pode reter
ninguém.
Como Jesus, os discípulos são enviados aos pecadores, às
ovelhas perdidas, às vítimas das relações violentas e agressivas, para
abrir-lhes as portas da graça, para acolhê-los como irmãos e filhos amados do
Pai. É isso que significa “tirar o pecado do mundo”. O Espírito não nos torna
simples confessores, mas pessoas novas e solidárias, capazes de estender a mão.
Sugestões para a meditação
§ Situe-se no cenáculo fechado, entre os
discípulos medrosos e envergonhados pela deserção diante da prisão de Jesus
§ Acolha as palavras de Jesus, deixe que
o Sopro de Deus insufle vida em sua vida, missão em sua acomodação, unidade na
diversidade
§ Acolha confiante e agradecido o mandato
missionário de Jesus: Assim como o Pai me enviou, eu envio você!
§ Perceba com eles a presença inesperada,
misteriosa e pacificadora de Jesus crucificado e ressuscitado
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