sábado, 21 de junho de 2025

O corpo de Cristo é pão repartido

PARTILHAR COM OS POBRES

Dois eram os problemas mais angustiantes nas aldeias da Galileia: a fome e a dívida. Era o que mais fazia Jesus sofrer. Quando os seus discípulos lhe pediram que os ensinasse a rezar, dois pedidos ressoaram fundo no seu coração: «Pai, dá-nos hoje o pão de que precisamos»; «Pai, perdoa-nos as nossas dívidas, porque nós também perdoamos aqueles que nos devem».

O que poderiam fazer contra a fome que os destruía e contra as dívidas que os levavam a perder as suas terras? Jesus via claramente qual era a vontade de Deus: partilhar o pouco que tinham e perdoar as dívidas uns dos outros. Só assim nasceria um novo mundo.

Fontes cristãs preservaram a memória de uma refeição memorável com Jesus. Foi num descampado, e muitas pessoas participaram. É difícil reconstruir o que realmente aconteceu. A memória que ficou foi esta: entre as pessoas só foram recolhidos cinco pães e dois peixes, mas partilharam o pouco que tinham e, com a bênção de Jesus, todos puderam comer.

No início da história há um diálogo muito esclarecedor. Vendo que o povo está faminto, os discípulos propõem a solução mais confortável e menos comprometida: «que vão às aldeias e comprem algo para comer»; que cada um resolva os seus problemas como pode. Jesus responde chamando-os à responsabilidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ou seja: não deixem os famintos abandonados à sua sorte!

Não podemos esquecer isso. Se vivermos de costas voltadas para os famintos do mundo, perdemos a nossa identidade cristã; não somos fiéis a Jesus. Às nossas refeições eucarísticas falta-lhes a sua sensibilidade e o seu horizonte, falta-lhes a sua compaixão. Como transformar uma religião como a nossa num movimento de seguidores mais fiéis a Jesus?

A primeira coisa a fazer é não perder a sua perspectiva fundamental: deixar-se afetar mais e mais pelo sofrimento dos que não sabem o que é viver com pão e com dignidade. O segundo é comprometermo-nos com iniciativas pequenas, concretas, modestas, parciais, que nos ensinem a partilhar e a identificar-nos mais com o estilo de Jesus.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez


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