Meu Deus, não sei o que
pedir.
Procurei o meu
desejo mais ardente e não o encontrei.
Não sei o que
me fará feliz.
Inquieto está o
meu coração, sem descanso, e não sei que nome dar às minhas nostalgias.
Sem saber para onde ir, sem saber
o que fazer, sem saber que batalhas travar, sinto intensamente a tentação dos
ídolos e dos vazios.
É fácil entrar
pelos caminhos falsos, preferir o poder ao amor, a força à mansidão, a reação
violenta à mansa afirmação da bondade.
Mas eu seu que,
a despeito da minha estupidez, o teu Espírito me ama, freqüenta os meus sonhos,
as minhas entranhas, os desejos que não sei dizer... e intercede por mim e por
meus irmãos, neste mundo que criaste, com gemidos profundos demais para as
palavras...
Aceita, meu
Pai, os meus gemidos inarticulados como expressão da minha prece...
Mas, na minha
fome, tenho necessidade de sinais visíveis da tua graça invisível.
Serveme os
teus sacramentos, os primeiros frutos deste Reino, nostalgia da nossa alma...
Tenho sede de
sorrisos, de olhares mansos, de palavras brandas, de gestos firmes pela verdade
e pela bondade; de vitórias, por pequenas que sejam, da justiça...
Tu sabes, ó
Pai, que é muito difícil sobreviver no cativeiro, sem a esperança da Cidade
Santa.
"Pelos
rios da Babilônia nos assentamos e choramos, lembrandonos de Sião..."
Cantanos, ó
Deus, as canções da terra prometida.
Servenos no
deserto o maná.
E concedenos a
graça de brincar e saltar nos teus dias de descanso, como expressão de
confiança...
E que haja, em
algum lugar, uma comunidade de homens, mulheres, velhos, crianças e nenezinhos
de peito que seja um primeiro fruto, um aperitivo, uma carícia do futuro.
Amém!
(Rubem Alves)
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