segunda-feira, 14 de novembro de 2011

NÃO SEI O QUE PEDIR


Meu Deus, não sei o que pedir.
Procurei o meu desejo mais ardente e não o encontrei.
Não sei o que me fará feliz.
Inquieto está o meu coração, sem descanso, e não sei que nome dar às minhas nostalgias.
Sem saber para onde ir, sem saber o que fazer, sem saber que batalhas travar, sinto intensamente a tentação dos ídolos e dos vazios.
É fácil entrar pelos caminhos falsos, preferir o poder ao amor, a força à mansidão, a reação violenta à mansa afirmação da bondade.
Mas eu seu que, a despeito da minha estupidez, o teu Espírito me ama, freqüenta os meus sonhos, as minhas entranhas, os desejos que não sei dizer... e intercede por mim e por meus irmãos, neste mundo que criaste, com gemidos profundos demais para as palavras...
Aceita, meu Pai, os meus gemidos inarticulados como expressão da minha prece...
Mas, na minha fome, tenho necessidade de sinais visíveis da tua graça invisível.
Serve­me os teus sacramentos, os primeiros frutos deste Reino, nostalgia da nossa alma...
Tenho sede de sorrisos, de olhares mansos, de palavras brandas, de gestos firmes pela verdade e pela bondade; de vitórias, por pequenas que sejam, da justiça...
Tu sabes, ó Pai, que é muito difícil sobreviver no cativeiro, sem a esperança da Cidade Santa.
"Pelos rios da Babilônia nos assentamos e choramos, lembrando­nos de Sião..."
Canta­nos, ó Deus, as canções da terra prometida.
Serve­nos no deserto o maná.
E concede­nos a graça de brincar e saltar nos teus dias de descanso, como expressão de confiança...
E que haja, em algum lugar, uma comunidade de homens, mulheres, velhos, crianças e nenezinhos de peito que seja um primeiro fruto, um aperitivo, uma carícia do futuro.
Amém!
(Rubem Alves)


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