quarta-feira, 25 de abril de 2012

Quarto Domingo do Tempo Pascal


A vocação deve ser expressão do amor do bom pastor.
(At 4,8-12; Sl 117/118; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18)

O quarto domingo do tempo pascal é dedicado pela Igreja Católica à reflexão e oração pelas vocações. Nesta perspectiva é que recordamos que aquele que o Pai ressuscitou é o pastor bom e exemplar, aquele que ofereceu e oferece livremente sua vida pelas ovelhas. Um pastor que não se preocupa com a própria carreira e se interessa prioritariamente pelo bem-estar de quem formalmente não faz parte do seu rebanho. A marca registrada e o denominador comum das pessoas chamadas a seguir Jesus e a continuar sua missão, qualquer que seja sua vocação específica, é a compaixão. Assim, celebrar a páscoa significa também continuar o pastoreio de Jesus, caminhando à frente e conduzindo o rebanho para fora das estruturas que alienam, discriminam e oprimem.
“O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.”
Uma das mais belas metáforas que o povo de Israel criou para falar de Deus e sua relação com seu povo é a que o compara a um pastor. Essa imagem ajuda a entender, antes de tudo, que Deus é como um pastor que apascenta e guia seu o povo. “Pastor de Isarel, dá ouvidos, tu que diriges José como a um rebanho” (Sl 80,2). “Como um pastor, ele cuida do rebanho, e com seu braço o reúne; leva os cordeirinhos no colo e guia mansamente as ovelhas que amamentam” (Is 40,11).
O Deus-Pastor é também cuidadoso e providente. Ele providencia o que é necessário para a vida do seu povo-rebanho. “Vou levá-las para pastar nas melhores invernadas, e o seu curral ficará no mais alto dos montes de Israel. Aí elas poderão repousar e terão pastos abundantes sobre os montes de Israel. Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar” (Ez 34,14).
Como pastor, Deus defende as ovelhas fracas e procura pessoalmente as ovelhas perdidas até encontrá-las: “Procurarei aquela que se perder, trarei de volta aquela que se desgarrar, curarei a que se machucar, fortalecerei aquela que estiver fraca” (Ez 34,16). Ao mesmo tempo, ele reúne as ovelhas dispersas: “Eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas. Como o pastor conta o seu rebanho quando está no meio de suas ovelhas que haviam se dispersado, eu contarei as minhas ovelhas e as reunirei de todos os lugares por onde haviam se dispersado” (Ez 34,11-12).
Finalmente, como pastor Deus trata seu povo-rebanho com ternura e amizade, gratuidade e paciência, e com ele faz aliança especial. “Vou fazer com elas uma aliança de paz: acabarei com as feras, de modo que elas poderão deitar-se seguras no deserto e dormir tranquilas no meio dos bosques” (Ez 34,25). “Ele nos fez e a ele pertencemos, somos seu povo e ovelhas do seu rebanho” (Sl 100,2).
“Eu dou a vida pelas ovelhas...”
Os evangelhos nos apresentam Jesus como o bom pastor apenas vislumbrado pelo povo de Israel. Sua vida é uma cotidiana realização do amor pastoral: tem compaixão das multidões porque estão cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor (Mt 9,35-36); procura as ovelhas dispersas e em situação de risco, como as mulheres, os doentes e pecadores marginalizados (Mt 18,12-14); festeja o reencontro, argumentando que é maior sua alegria por um marginalizado resgatado que por noventa e nove que se consideram perfeitos (Lc 15,3-7).
Na prática, além do ministério da acolhida e da defesa pública das ovelhas oprimidas ou dos ‘bodes expiatórios’ da sociedade judaica (cf. Jo 8,1-11), Jesus põe a mesa e alimenta o povo faminto com pão e peixe e com o dom da própria vida (Mc 6,30-44). Finalmente, ele não dá apenas orientações ou alimento, mas entrega-se a si mesmo, seu corpo e seu sangue, para que todos tenham vida. Ele é o sumo-pastor, o príncipe e o modelo de todos os demais pastores (1Pd 5,1-4).
“Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem.”
Ao apresentar-nos Jesus como bom pastor, o evangelista João tem presente sua vida e suas práticas concretas. Ele é bom e excelente como o vinho abundante servido no final das bodas de Caná. E é bom e exemplar acima de tudo porque não é mercenário: não foge nem esmorrece diante das perseguições mas investe sua vida sem reservas para que os mais fracos tenham plenas condições de vida.
Mas ele é o pastor bom e excelente também porque estabelece um relacionamento próximo e personalizado com seu povo. Não se apresenta como um herói ou benfeitor distante, incapaz de se misturar com as pessoas comuns. Ele conhece cada pessoa pelo nome, por mais simples que seja. E conhecer significa ouvir seus clamores e conhecer seus sofrimentos, descer para defender e fazer subir (cf. Ex 3,7-10). Jesus não quer fundar uma instituição mas reunir as pessoas dispersas.
Finalmente, Jesus é o pastor bom e exemplar porque não se orienta por fanatismos esclusivistas. “Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas devo conduzir. Elas ouvirão a minha voz e haver um só rebanho e um só pastor.” O horizonte do amor pastoral de Jesus não se detém nas cercas ou muros religiosos, nacionais, étnicos ou de classe. Priorizando os últimos e excluídos, seu projeto de vida reconhece e proclama a dignidade de todas as pessoas, sem discriminação.
 “O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro.”
Pedro e João demonstram que aprenderam do mestre o que significa ser pastor segundo o coração de Deus. Eles não fazem voltas nem se afastam do paralítico que depende de esmolas para sobreviver. Voltam o olhar àquele miserável e o convidam a caminhar com as próprias forças. Não se trata de um curandeirismo sensacionalista mas da coragem de enfrentar a inércia do templo, que não faz mais que manter e reforçar a dependência e a inferioridade das pessoas.
Como sempre, a coragem de enfrentar a ideologia tem seu preço, e os apóstolos são detidos. Mas assim que foram libertados, Pedro fala diretamente às autoridades religiosas e diz que é em nome daquele que eles condenaram que o paralítico foi curado. E afirma que, com Jesus, começa uma nova lógica ou nova ordem: as pessoas rejeitadas e descartadas se tornam o elemento fundamental de um novo edifício. E não há outra tábua de salvação.
“Somos chamados filhos de Deus, e nos de fato o somos.”
Em Jesus e nos seus discípulos temos o paradigma de todas as vocações. Precisamos sim pedir ao dono do campo que atraia mais gente para seu trabalho, mas não esqueçamos de pedir que sejam pastores e pastoras que se inspirem no Bom Pastor. Para que servem vocações que conhecem apenas dogmas e leis e ignoram as necessidades concretas do seu rebanho? Qual é o valor de um clero e uma vida consagrada que mataram o vírus da profecia e se deixaram seduzir pela carreira e pela comodidade?
Rezemos pelas vocações religiosas e presbiterais e empenhomo-nos numa pastoral vocacional criativa e orgânica. Mas não deixemos para o próximo século a tarefa de repensar a organização ministerial da Igreja. Derrubemos os obstáculos que impedem às mulheres e aos homens casados a realização de sua vocação ministerial. É triste constatar que alguns devem ser ministros por toda a vida, mesmo que tenham mudado de opção, e que outros/as são excluídos/as do mesmo ministério por toda a vida.
Junto com a oração pelas vocações, como nos pede Bento XVI na sua mensagem para este dia, precisamos pensar e agir como cristãos do século XXI e buscar caminhos concretos para gerar uma Igreja que seja assembéia de pessoas chamadas e comunhão de carismas e ministérios em paritária dignidade. O contrário seria colocar obstáculos à providência de Deus e impedir o florescimento de autênticas vocações. Ao mesmo tempo, é urgente que recuperemos, junto com a dimensão mística de todo serviço eclesial, sua inegociável expressão profética.
“Seremos semelhantes a ele...”
Jesus Amigo, bom e belo pastor: tu nos conheces, nos chamas pelo nome, e queres que sejamos parecidos/as contigo, filhos do teu coração, continuadores da tua missão. Com a vida e com a Palavra nos ensinas que onde há amor sem fronteiras também há vida sem limites. De ti apredemos que, para viver plenamente, precisamos fazermo-nos dom e identificarmo-nos com teu e nosso Pai. Faz de nossas famílias e comunidades eclesiais verdadeiras sementeiras de gente capaz de amar e servir com coração de pastor/a. E não permitas que deixemos cair no esquecimento o vulto do pastor/educador Paulo Freire (+02.05.1997), assim como o martírio daquelas 129 mulheres operárias queimadas vivas em Chicago, em 1887, fato que está na origem da celebração do 1° de maio. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf

Um comentário:

Anônimo disse...

OBRIGADA ITACIR PELA SUA PROFUNDA REFLEXÃO QUE MUITO AJUDA NO CRESCIMENTO DA FÉ E NO COMPROMISSO MISSIONÁRIO.
QUE JESUS O BOM PASTOR SIGA CIDANDO DE SEU PASTOREIO.O MUNDO PRECISA DE BONS PASTORES C0M VOC~E TEM SIDO.
UM ABRAÇO E COMUNHÃO DE VIDA AMIZADE NA MISSÃO AMAZÔNICA.
JOANINHA