A vocação deve ser expressão do amor do bom
pastor.
(At 4,8-12; Sl 117/118; 1Jo 3,1-2; Jo
10,11-18)
O quarto domingo do tempo pascal é
dedicado pela Igreja Católica à reflexão e oração pelas vocações. Nesta
perspectiva é que recordamos que aquele que o Pai ressuscitou é o pastor bom e
exemplar, aquele que ofereceu e oferece livremente sua vida pelas ovelhas. Um
pastor que não se preocupa com a própria carreira e se interessa
prioritariamente pelo bem-estar de quem formalmente não faz parte do seu
rebanho. A marca registrada e o denominador comum das pessoas chamadas a seguir
Jesus e a continuar sua missão, qualquer que seja sua vocação específica, é a
compaixão. Assim, celebrar a páscoa significa também continuar o pastoreio de
Jesus, caminhando à frente e conduzindo o rebanho para fora das estruturas que alienam,
discriminam e oprimem.
“O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.”
Uma das mais belas metáforas que o
povo de Israel criou para falar de Deus e sua relação com seu povo é a que o compara
a um pastor. Essa imagem ajuda a entender, antes de tudo, que Deus é como um
pastor que apascenta e guia seu o povo.
“Pastor de Isarel, dá ouvidos, tu que diriges
José como a um rebanho” (Sl 80,2). “Como um pastor, ele cuida do rebanho, e com seu braço o reúne; leva os cordeirinhos no colo e guia mansamente as ovelhas que amamentam” (Is 40,11).
O Deus-Pastor é também cuidadoso e
providente. Ele providencia o que é
necessário para a vida do seu povo-rebanho. “Vou levá-las para pastar nas melhores invernadas, e o seu curral
ficará no mais alto dos montes de Israel. Aí elas poderão repousar e terão pastos
abundantes sobre os montes de Israel. Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas
para o pasto e as farei repousar” (Ez 34,14).
Como pastor, Deus defende as ovelhas fracas e procura
pessoalmente as ovelhas perdidas até encontrá-las: “Procurarei aquela que
se perder, trarei de volta aquela que se desgarrar, curarei a que se machucar,
fortalecerei aquela que estiver fraca” (Ez 34,16). Ao mesmo tempo, ele reúne as ovelhas dispersas: “Eu mesmo
vou procurar as minhas ovelhas. Como
o pastor conta o seu rebanho quando está no meio de suas ovelhas que haviam se
dispersado, eu contarei as minhas
ovelhas e as reunirei de todos os
lugares por onde haviam se dispersado” (Ez 34,11-12).
Finalmente, como pastor Deus trata seu povo-rebanho com ternura e amizade,
gratuidade e paciência, e com ele faz aliança especial. “Vou fazer com elas uma
aliança de paz: acabarei com as
feras, de modo que elas poderão deitar-se seguras no deserto e dormir
tranquilas no meio dos bosques” (Ez 34,25). “Ele nos fez e a ele pertencemos, somos seu povo e ovelhas do seu rebanho” (Sl
100,2).
“Eu dou a vida pelas ovelhas...”
Os evangelhos nos apresentam Jesus
como o bom pastor apenas vislumbrado pelo povo de Israel. Sua vida é uma
cotidiana realização do amor pastoral: tem compaixão das multidões porque estão
cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor (Mt 9,35-36); procura as ovelhas
dispersas e em situação de risco, como as mulheres, os doentes e pecadores marginalizados
(Mt 18,12-14); festeja o reencontro, argumentando que é maior sua alegria por
um marginalizado resgatado que por noventa e nove que se consideram perfeitos
(Lc 15,3-7).
Na prática, além do ministério da
acolhida e da defesa pública das ovelhas oprimidas ou dos ‘bodes expiatórios’
da sociedade judaica (cf. Jo 8,1-11), Jesus põe a mesa e alimenta o povo
faminto com pão e peixe e com o dom da própria vida (Mc 6,30-44). Finalmente,
ele não dá apenas orientações ou alimento, mas entrega-se a si mesmo, seu corpo
e seu sangue, para que todos tenham vida. Ele é o sumo-pastor, o príncipe e o
modelo de todos os demais pastores (1Pd 5,1-4).
“Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem.”
Ao apresentar-nos Jesus como bom
pastor, o evangelista João tem presente sua vida e suas práticas concretas. Ele
é bom e excelente como o vinho abundante servido no final das bodas de Caná. E
é bom e exemplar acima de tudo porque não é mercenário: não foge nem esmorrece
diante das perseguições mas investe sua vida sem reservas para que os mais
fracos tenham plenas condições de vida.
Mas ele é o pastor bom e excelente
também porque estabelece um relacionamento próximo e personalizado com seu
povo. Não se apresenta como um herói ou benfeitor distante, incapaz de se
misturar com as pessoas comuns. Ele conhece cada pessoa pelo nome, por mais
simples que seja. E conhecer significa ouvir seus clamores e conhecer seus
sofrimentos, descer para defender e fazer subir (cf. Ex 3,7-10). Jesus não quer
fundar uma instituição mas reunir as pessoas dispersas.
Finalmente, Jesus é o pastor bom e
exemplar porque não se orienta por fanatismos esclusivistas. “Tenho também
outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas devo conduzir. Elas
ouvirão a minha voz e haver um só rebanho e um só pastor.” O horizonte do amor
pastoral de Jesus não se detém nas cercas ou muros religiosos, nacionais,
étnicos ou de classe. Priorizando os últimos e excluídos, seu projeto de vida
reconhece e proclama a dignidade de todas as pessoas, sem discriminação.
“O mercenário
foge porque trabalha só por dinheiro.”
Pedro e João demonstram que
aprenderam do mestre o que significa ser pastor segundo o coração de Deus. Eles
não fazem voltas nem se afastam do paralítico que depende de esmolas para
sobreviver. Voltam o olhar àquele miserável e o convidam a caminhar com as
próprias forças. Não se trata de um curandeirismo sensacionalista mas da
coragem de enfrentar a inércia do templo, que não faz mais que manter e
reforçar a dependência e a inferioridade das pessoas.
Como sempre, a coragem de enfrentar
a ideologia tem seu preço, e os apóstolos são detidos. Mas assim que foram
libertados, Pedro fala diretamente às autoridades religiosas e diz que é em
nome daquele que eles condenaram que o paralítico foi curado. E afirma que, com
Jesus, começa uma nova lógica ou nova ordem: as pessoas rejeitadas e
descartadas se tornam o elemento fundamental de um novo edifício. E não há
outra tábua de salvação.
“Somos chamados filhos de Deus, e nos de fato o somos.”
Em Jesus e nos seus discípulos temos
o paradigma de todas as vocações. Precisamos sim pedir ao dono do campo que
atraia mais gente para seu trabalho, mas não esqueçamos de pedir que sejam
pastores e pastoras que se inspirem no Bom Pastor. Para que servem vocações que
conhecem apenas dogmas e leis e ignoram as necessidades concretas do seu
rebanho? Qual é o valor de um clero e uma vida consagrada que mataram o vírus da profecia e se deixaram seduzir
pela carreira e pela comodidade?
Rezemos pelas vocações religiosas e
presbiterais e empenhomo-nos numa pastoral vocacional criativa e orgânica. Mas
não deixemos para o próximo século a tarefa de repensar a organização ministerial
da Igreja. Derrubemos os obstáculos que impedem às mulheres e aos homens
casados a realização de sua vocação ministerial. É triste constatar que alguns
devem ser ministros por toda a vida, mesmo que tenham mudado de opção, e que
outros/as são excluídos/as do mesmo ministério por toda a vida.
Junto com a oração pelas vocações,
como nos pede Bento XVI na sua mensagem para este dia, precisamos pensar e agir
como cristãos do século XXI e buscar caminhos concretos para gerar uma Igreja
que seja assembéia de pessoas chamadas
e comunhão de carismas e ministérios em
paritária dignidade. O contrário seria colocar obstáculos à providência de
Deus e impedir o florescimento de autênticas vocações. Ao mesmo tempo, é
urgente que recuperemos, junto com a dimensão mística de todo serviço eclesial,
sua inegociável expressão profética.
“Seremos semelhantes a ele...”
Jesus Amigo, bom e belo pastor: tu nos conheces, nos chamas pelo nome, e
queres que sejamos parecidos/as contigo, filhos do teu coração, continuadores
da tua missão. Com a vida e com a Palavra nos ensinas que onde há amor sem
fronteiras também há vida sem limites. De ti apredemos que, para viver
plenamente, precisamos fazermo-nos dom e identificarmo-nos com teu e nosso Pai.
Faz de nossas famílias e comunidades eclesiais verdadeiras sementeiras de gente
capaz de amar e servir com coração de pastor/a. E não permitas que deixemos
cair no esquecimento o vulto do pastor/educador Paulo Freire (+02.05.1997),
assim como o martírio daquelas 129 mulheres operárias queimadas vivas em
Chicago, em 1887, fato que está na origem da celebração do 1° de maio. Assim
seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
Um comentário:
OBRIGADA ITACIR PELA SUA PROFUNDA REFLEXÃO QUE MUITO AJUDA NO CRESCIMENTO DA FÉ E NO COMPROMISSO MISSIONÁRIO.
QUE JESUS O BOM PASTOR SIGA CIDANDO DE SEU PASTOREIO.O MUNDO PRECISA DE BONS PASTORES C0M VOC~E TEM SIDO.
UM ABRAÇO E COMUNHÃO DE VIDA AMIZADE NA MISSÃO AMAZÔNICA.
JOANINHA
Postar um comentário