No dia em que, mais por apelo
comercial que por razões humanas, é celebrado o Dia das Mães, com a ajuda deste
belo fragmento de Eduardo Galeano, presto minha homenagem a todas as mães
tornadas socialmente invisíveis pela pátria, pelas igrejas, pela cultura
dominante, pela história e até pelos próprios maridos e filhos.
As
invisíveis
Mandava a tradição que os umbigos das recém-nascidas fossem enterrados
debaixo da cinza do fogão, para que cedo aprendessem qual é o lugar da mulher,
e que dali não se sai.
Quando explodiu a revolução mexicana, muitas saíram, mas carregando os
fogões nas costas. Por bem ou por mal, por sequestro ou por vontade própria,
seguiram os homens de batalha em batalha.
Carregavam o bebê preso na teta e, nas costas, as panelas e caçarolas. E
as munições: elas se encarregavam de que não faltassem tortillas nas bocas nem balas nos fuzis. E quando o homem caía,
empunhavam a arma.
Nos trens,
os homens e os cavalos ocupavam os vagões. Elas viajavam nos tetos, pedindo a
Deus que não chovesse...
Sem elas –
soldadeiras, cucarachas, adelitas,
vivandeiras, galletas, pelonas, guachas...
– aquela revolução não teria existido.
Nenhuma
recebeu pensão...
(Eduardo Galeano, Espelhos, p. 251)
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