segunda-feira, 28 de maio de 2012

Kalimantan: impressões, emoções e reflexões (4)


Palangka Raya
Igreja catedral de Palangka Raya

Num contexto de globalização cultural no qual as particularidades e identidades são trituradas e misturadas num grande liquidificador e, depois, renascem com traços de fundamentalismo e xenofobia, é surpreendentemente evangélico o que vem acontecendo na diocese de Palangkaraia: na festa de natal, dois ônibus lotados de líderes mussulmanos estaciona diante da residência episcopal para, em nome dos mussulmanos do local, saudar a minoria cristã; e, nas festas islâmicas, a modesta comunidade cristã, envia alguns veículos com seu bispo e suas principais lideranças para saudar a comunidade islâmica.
Igreja catedral de Palangka RayaQuem nos relata estes fatos é Dom Aloísio Sutrisnaatmaka msf, bispo da diocese de Palangkaraia. Ordenado bispo da diocese em 2001, Dom Sutrisna – como é chamado entre os conhecidos – tem 59 anos e está se recuperando de uma grave complicação hepática (pedras no pâncreas), que o levou aos hospitais de Cingapura, afastou-o temporariamente das atividades pastorais e deixou-o com com 57 quilos. Sua recuperação foi lenta e difícil e é cponsiderada pelos colegas praticamente um milagre.

No ano 2000 o então Pe. Aloísio fez uma breve visita à província do Brasil Meridional, e ainda recorda com alegria a oportunidade de conhecer nossos confrades em Goiânia, Ipameri, Passo Fundo, Santo Ângelo, Porto Alegre e Rio de janeiro. E diz que o que mais o impressionou nas comunidades brasileiras que conheceu foi a vivacidade das liturgias, com seus cantos animados, e a espontânea fraternidade do povo. Sente que o povo indonesiado, mais afeito ao recolhimento e à meditação, pode aprender do jeito de ser cristão no Brasil.
A diocese de Palangkaraia tem 151.000 km² de extensão (igual ao estado do Ceará!) e aproximadamente 2 milhões de habitantes, assim distribuídos: 50% são muçulmanos; 20% são cristãos evangélicos; 15% cultuam religiões tribais; 3% são católicos; 12 % pertencem a outras religiões. Os pouco mais de 61.000 católicos estão distribuídos em 21 paróquias, 5 das quais foram criadas nos últimos 10 anos, e contam com a presença e o trabalho de 43 padres (diocesanos e religiosos de diversas congregações) e 110 irmãs religiosas (pertencentes a 11 diferentes congregações).
Dom Sutrisnaatmaka diante do prédio da radio
da diocese (com Pe. Santiago e o diretor da radio)
Segundo Dom Sutrisna, os principais desafios que a diocese quer enfrentar são: desenvolver nos católicos uma fé mais profunda, que dê suporte à defesa da dignidade humana, ao cuidado com o meio ambiente e à inculturação; minorar a situação de pobreza da maioria (80%!) do povo, a maior parte do qual é seringueiro; enfrentar o baixo nível da educação, resultado de um calendário de 2 a 3 horas de aula em 3 a 4 dias por semana; superar as péssimas condições de saúde do povo, vitimado por doenças crônicas e endêmicas, como diarréia e malária. Para enfrentar este último desafio, a diocese está construindo um hospital.
Santiago, Dom Sutrisna e Itacir diante da estação de rádio da diocese
Depois de quase 10 anos de presença na diocese, Dom Sutrisna enumera alguns avanços que retém significativos: a construção de um Seminário Menor, com o objetivo de acolher os vocacionados da etnia dayak, majoritária na região, e que conta hoje com 13 seminaristas; a criação de um Insitituto Superior para a formação de catequistas e evangelizadores, que existe desde 2002; a construção da casa para encontros e convivência do clero diocesano; a manutenção de uma escola católica diocesana, que oferece cursos nos níveis elementar, médio e superior, cuja maior parte dos alunos (80%) é muçulmana.
Os Missionários da Sagrada Família estão presentes na região da diocese desde 1940, e por várias décadas foram a única presença de clero. Segundo o bispo, os bravos MSF vindos da Holanda, da Alemanha e da Polônia deixaram marcas profundas na vida do povo católico. Hoje, a diocese conta com a presença e o trabalho de 14 MSF, enviados pelas províncias de Java e de Kalimantan.
Segundo o bispo, aproximadamente 90% das paróquias da diocese têm a Pastoral da Família organizada e funcionando. Isso revela que nossos confrades, sob a coordenação e animação de Dom Sutrisna, levam a sério esta mediação prioritária do nosso carisma. A Pastoral Vocacional também recebe uma boa atenção, não obstante a falta de disciplina e de hábito de estudo dos vocacionados admitidos no Seminário Menor. Mas a formação existe para ajudar na superação destas lacunas.

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