O tema proposto pela coordenação dos Promotores de Justiça, Paz e
Integridade de Criação (PJPIC, organismo sob a responsabilidade das Uniões dos
Superiores Gerais) para reflexão no mês de abril foi a relação entre os bancos
e a fabricação e comércio de armas. Dedicamos a este importante tema a manhã do
dia 11 e o encontro mensal de oração na Igreja São Marcelo, no dia 27.
Devemos admitir que, como congregações religiosas e como Igreja, não nos
preocupamos como deveríamos com o destino do (pouco ou muito) dinheiro que depositamos
nos bancos. A proverbial falta de tempo e até a dedicação às urgentes causas
sociais servem de álibi para a falta de convicção e de vontade de rastrear o
caminho seguido pelas aplicações financeiras que fazemos.
Poucas são as instituições religiosas que discutem formas éticas de
investimento. Dá-se por descontado que os bancos estatais ou privados conhecidos
são sérios e éticos, e até a desculpa de que conhecemos um gerente que facilita
nossos trâmites serve para justificar nossa irresponsabilidade social.
Esquecemos ou fazemos conta de que não sabemos que muitos bancos investem somas
pesadas em empresas e em negócios de armas. A título de exemplo: na Itália, o
banco BNP Paribas e o Deutsche Bank investiram mais da metade dos 3 bilhões de
euros autorizados pelo Ministério da Economia em 2010 no financiamento da
fabricação ou do comércio de armas italianas...
Hoje existem os chamados bancos
éticos, que não investem em fundos ou empresas que sejam socialmente
danosas. Em alguns lugares e casos, as próprias congregações e dioceses se
uniram e criaram fundos de investimento, com administração profissional, que
conseguem barganhar bons índices de rendimento e garantir o destino ético do
dinheiro. Mas é uma pena que tais iniciativas ainda são absolutamente marginais
na vida consagrada.
Para entender as consequências de um investimento mal-pensado, sirva a
seguinte parábola (tradução livre e resumida do texto de Daniela e Andrea
Saroldi, de Azione Nonviolenta).
Um certo dia o senhor ecônomo
da Comunidade X foi ao banco e depositou R$ 1.000,00 das reservas da Comunidade
no fundo de investimento Supostético. O banco detentor do Fundo anunciava que
aplica parte dos lucros no financiamento de projetos de solidariedade,
desenvolvimento e defesa do meio-ambiente.
O administrador deste fundo,
seguindo orientações da direção do banco, investe parte do dinheiro captado em
títulos públicos. O Estado, por sua vez, empresta dinheiro a juros subsidiados
à empresa Fusi S/A, referência nacional na fabricação de fusis e pistolas. (Não
é raro que tanto o Estado quanto grupos industriais e bancários sejam
acionistas deste tipo de empresas). A empresa Fusi exporta grande quantidade de
armas para o país Y, onde são utilizadas numa guerra entre tribos locais.
No fim de um ano, a companhia
Fusi paga o empréstimos de 1.000,00, com um juro de 160,00 R$. O gestor do
Fundo Supostético retém 60,00 para gastos administrativos e credita os outros
100,00 na conta da Comunidade X. A comunidade religiosa, por sua vez, seguindo
as orientações da Província e os apelos da Igreja, decide aplicar a soma total
dos juros no financiamento de um projeto de solidariedade em favor das vítimas
da guerra, mantido pela ONG Fazobem. Por coincidência, a ONG Fazobem atua no
país Y! Assim, os 100,00 enviados generosamente pela Comunidade X ajudaram a
curar as feridas e traumas produzidos pelos 1.000,00 investidos pela própria
comunidade via fundo Supostético...
Mas é possível imaginar um percurso diferente para os investimentos da
comunidade X! Consciente da sua responsabilidade social, o ecônomo decide
investir num fundo ético. Vai ao Banco Sério e decide utilizar seus R$ 1.000,00 num empréstimo a
uma cooperativa de agricultores do país Y, para realizar um projeto de
irrigação. Os agricultores administram o empréstimo, montam o sistema de
irrigação, produzem e vendem a colheita e pagam o empréstimo que tomaram ao
banco, com um juro de 120,00. O Banco Sério retém 40,00 para suas despesas e paga 80,00 de juros à Comunidade X.
Quem ganha com esse negócio? A Comunidade X, que ganha 80,00 a título de
juros. Os agricultores sócios da cooperativa, que têm um bom sistema de
irrigação e produzem mais. O banco, que também fica com sua parte. Mas,
principalmente, o povo do país Y, que gasta menos com fusis e com o socorro às
vítimas de uma guerra sem justificativas. É preciso ser mais claro?
Quem quiser aprofundar o tema pode consultar:
http:/www.banchearmate.it
/
http:/www.bancaetica.it/
http:/www.fere.it/
http:/www.nonconimieisoldi.org/
http:/www.mag2.it/
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