terça-feira, 1 de maio de 2012

Bancos armados?


O tema proposto pela coordenação dos Promotores de Justiça, Paz e Integridade de Criação (PJPIC, organismo sob a responsabilidade das Uniões dos Superiores Gerais) para reflexão no mês de abril foi a relação entre os bancos e a fabricação e comércio de armas. Dedicamos a este importante tema a manhã do dia 11 e o encontro mensal de oração na Igreja São Marcelo, no dia 27.

Devemos admitir que, como congregações religiosas e como Igreja, não nos preocupamos como deveríamos com o destino do (pouco ou muito) dinheiro que depositamos nos bancos. A proverbial falta de tempo e até a dedicação às urgentes causas sociais servem de álibi para a falta de convicção e de vontade de rastrear o caminho seguido pelas aplicações financeiras que fazemos.

Poucas são as instituições religiosas que discutem formas éticas de investimento. Dá-se por descontado que os bancos estatais ou privados conhecidos são sérios e éticos, e até a desculpa de que conhecemos um gerente que facilita nossos trâmites serve para justificar nossa irresponsabilidade social. Esquecemos ou fazemos conta de que não sabemos que muitos bancos investem somas pesadas em empresas e em negócios de armas. A título de exemplo: na Itália, o banco BNP Paribas e o Deutsche Bank investiram mais da metade dos 3 bilhões de euros autorizados pelo Ministério da Economia em 2010 no financiamento da fabricação ou do comércio de armas italianas...  

Hoje existem os chamados bancos éticos, que não investem em fundos ou empresas que sejam socialmente danosas. Em alguns lugares e casos, as próprias congregações e dioceses se uniram e criaram fundos de investimento, com administração profissional, que conseguem barganhar bons índices de rendimento e garantir o destino ético do dinheiro. Mas é uma pena que tais iniciativas ainda são absolutamente marginais na vida consagrada.

Para entender as consequências de um investimento mal-pensado, sirva a seguinte parábola (tradução livre e resumida do texto de Daniela e Andrea Saroldi, de Azione Nonviolenta).

Um certo dia o senhor ecônomo da Comunidade X foi ao banco e depositou R$ 1.000,00 das reservas da Comunidade no fundo de investimento Supostético. O banco detentor do Fundo anunciava que aplica parte dos lucros no financiamento de projetos de solidariedade, desenvolvimento e defesa do meio-ambiente.
O administrador deste fundo, seguindo orientações da direção do banco, investe parte do dinheiro captado em títulos públicos. O Estado, por sua vez, empresta dinheiro a juros subsidiados à empresa Fusi S/A, referência nacional na fabricação de fusis e pistolas. (Não é raro que tanto o Estado quanto grupos industriais e bancários sejam acionistas deste tipo de empresas). A empresa Fusi exporta grande quantidade de armas para o país Y, onde são utilizadas numa guerra entre tribos locais.
No fim de um ano, a companhia Fusi paga o empréstimos de 1.000,00, com um juro de 160,00 R$. O gestor do Fundo Supostético retém 60,00 para gastos administrativos e credita os outros 100,00 na conta da Comunidade X. A comunidade religiosa, por sua vez, seguindo as orientações da Província e os apelos da Igreja, decide aplicar a soma total dos juros no financiamento de um projeto de solidariedade em favor das vítimas da guerra, mantido pela ONG Fazobem. Por coincidência, a ONG Fazobem atua no país Y! Assim, os 100,00 enviados generosamente pela Comunidade X ajudaram a curar as feridas e traumas produzidos pelos 1.000,00 investidos pela própria comunidade via fundo Supostético...

Mas é possível imaginar um percurso diferente para os investimentos da comunidade X! Consciente da sua responsabilidade social, o ecônomo decide investir num fundo ético. Vai ao Banco Sério e decide utilizar seus R$ 1.000,00 num empréstimo a uma cooperativa de agricultores do país Y, para realizar um projeto de irrigação. Os agricultores administram o empréstimo, montam o sistema de irrigação, produzem e vendem a colheita e pagam o empréstimo que tomaram ao banco, com um juro de 120,00. O Banco Sério retém 40,00 para suas despesas e paga 80,00 de juros à Comunidade X.

Quem ganha com esse negócio? A Comunidade X, que ganha 80,00 a título de juros. Os agricultores sócios da cooperativa, que têm um bom sistema de irrigação e produzem mais. O banco, que também fica com sua parte. Mas, principalmente, o povo do país Y, que gasta menos com fusis e com o socorro às vítimas de uma guerra sem justificativas. É preciso ser mais claro?

Quem quiser aprofundar o tema pode consultar:
http:/www.banchearmate.it /
http:/www.bancaetica.it/
http:/www.fere.it/
http:/www.nonconimieisoldi.org/
http:/www.mag2.it/

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