Meca sempre como referência
Kalimantan era até agora a única
Província da Congregação que eu jamais havia visitado. Tinha vontade de
conhecê-la, mas não estava muito disposto a fazê-lo em forma de visita
canônica. Desejava, neste ano, ficar mais em Roma e dedicar-me a trabalhos
internos, pois sinto que no ano passado viajei demais. Uma visita de 30 dias,
numa região de clima quente e úmido, com desconhecimento absoluto da língua é o
que eu menos desejava. Mas nem sempre a gente consegue seguir as próprias
preferências, e a responsabilidade assumida comunitariamente levou-me a aceitar
essa aventura.
A viagem começou em Roma, no
aeroporto Fiumicino. Partimos eu e Santiago no dia 29 de fevereiro, às 22:20 a
bordo de um avião da Qatar Airwais,
com escala em Doha, Qatar. Chegamos em Doha – uma cidade explêndida e
ostensivamente rica em meio a um deserto aparentemente inabitável – às 5:20 do
dia 1° de abril. Este país, situado no Oriente Médio, em pleno Golfo Pérsico,
por onde passa mais da metade do petróleo consumido no mundo, não está assim
tão longe de Roma. São apenas 4 hopras de viagem, mais duas de fuso horário.
Aeroporto de Doha,
Qatar
|
Partimos de Doha na hora prevista,
pela mesma companhia Qatar Airwais
(uma escolha guiada pelos baixos preços da empresa: em torno de 600 euros, de
Roma a Jakarta, ida e volta!). Tendo já passado uma noite em viagem (além do
fato de apenas estar me adaptando ao fuso horário depois do retorno do Brasil),
este novo trecho foi especialmente cansativo.
Dois detalhes, aparentemente
triviais, podem dar uma idéia do que significa entrar num outro mundo cultural.
O primeiro: todas as orientações da viagem (tanto no aeroporto como no avião)
eram dadas em inglês e árabe. Uma coisa é tentar ler as indicações em inglês e
numa outra língua qualquer, outra é notar que a escrita é em caráteres árabes,
que nada têm a ver com o nosso alfabeto. O segundo: todos as rotas que fiz até
hoje apresentavam indicações da posição do avião seguindo a bússola ocidental,
ou seja: tendo como referência o pólo norte; mas esta linha apresentava
constantemente a posição e a distância da aeronave em relação a Meca, a cidade
sagrada dos mussulmanos. (Se isso nos incomoda, imagina o que significa para um
mussulmano a contagem dos anos assumida universalmente, e que tem Jesus Cristo
como referência absoluta...)
Chegamos em Jakarta às 22:30, ou
seja: depois de uma viagem de aproximadamente 9 horas (mais o fuso de 5 horas).
Alguma demora para os trâmites imigratórios e o controle de bagagem, e o calor
acachapante foi amenizado pelo encontro com dois coirmãos da Província de Java
que nos esperavam ansiosa e fraternalmente. Em pouco mais de meia hora
estávamos na casa que a Província javanesa mantém em Jakarta e, depois de um
gostoso mamão e outras frutas locais, joguei meu corpo exausto na cama, que me
pareceu extremamente confortável.
Vista da entrada da casa MSF em Jakarta |
Eu guardava péssimas lembranças de
uma passagem nesta casa, em 2003: um calor horrível, um enxame de mosquitos, as
cornetas das mesquitas acordando todo mundo às 4:30 da manhã... Desta vez nada
disso existia! Na verdade, não encontrei os mosquitos e o quarto tinha ar
condicionado. D resto, o sono acumulado fez com que sequer escutasse a
voz dos irmãos mussulmanos chamando-nos a proclamar que Deus é grande... Dormi
tranquilamente até òs 6:30 de manhã.
Casa
dos MSF de Java em Jakarta
|
Depois de um rápido
almoço, um momento de descanso, com o cuidado de não dormir muito, para não
atrapalhar a noite (já que estamos com 10 horas de diferença, à frente, em
relação ao Brasil, e 7 em relação à Itália). Em 2003, nos primeiros dias de
estadia na Indonésia,eu trocava a noite
pelo dia: dormia longamente depois do almoço e me acordava e levantava em torno
das três horas da manhã. A experiência ensina a tomar cuidado. Fomos hospedados
na casa dos idosos da Província, situada nas proximidades do Provincialado, de
uma igreja Paroquial e do Postulantado.
Começamos oficialmente a visita no dia seguinte.
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