terça-feira, 30 de julho de 2013

Uma invocação a Dom Romero

 Prece a Dom Oscar Romero
Nós te invocamos, Dom Oscar Romero, bispo dos pobres, profeta da justiça e mártir da paz: alcança-nos do Senhor a graça de dar primazia à sua Palavra e ajuda-nos a intuir sua radicalidade e a sustentar sua força, mesmo quando ela nos desestabiliza. Livra-nos da tentação de estirilizá-la por medo dos poderosos, de domesticá-la por submissão aos que comandam, de esvaziá-la por medo de que nos envolva e comprometa.
Não permitas que em nossos lábios a Palavra de Deus se contamine com os detritos da ideologia do sucesso e da prosperidade, mas ajuda-nos também a encarná-la corajosamente história, inclusive na nossa pequena crônica pessoal e comunitária, para que ali produza a história da salvação. Ajuda-nos a compreender que os pobres são o lugar onde Deus se manifesta e a sarça ardente de onde ele nos fala.
Roga, Dom Romero, para que a Igreja de Cristo não se cale. Pede ao Espírito que derrame sobre ela a parresía de que necessita para abandonar a sutileza da linguagem comedida e dizer com todas as letras que a corrida armamentista é um crime e um ultraje aos pobres, que o sistema econômico vigente é uma idolatria que mata.
Pede, Dom Romero, que todos os bispos da terra sejam defensores da Justiça e construtores da Paz, e assumam a não-violência ativa como critério hermenêutico do seu compromisso pastoral, convictos de que a segurança material e a prudência do espírito não são coisas equiparáveis.
Pede, Dom Romero, por todos os povos do terceiro e do quarto mundos oprimidos pela dívida externa. Por tua tua amizade com o Pai, alcança o perdão destes desumanos fardos de escravidão. Apressa os tempos nos quais uma nova ordem econômica internacional liberte o mundo de todos os aspirantes ao papel de Deus.

Enfim, Bispo Romero, pede por todos nós aqui presentes, para que Deus nos dê o privilégio de fazermo-nos próximos, como tu, de todos aqueles que lutam para sobreviver. E se a luta pelo Reino dilacerar nossa carne, faz que os estigmas deixados pelos pregos nas nossas mãos crucificadas, sejam janelas através das quais possamos vislumbrar desde agora céus novos e terras novas.


(Traduzido e adaptado da homilia de Dom Tonino Bello, por ocasião do sétimo aniversário do Martírio de Dom Oscar Romero. Roma, 23.03.1987)

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